sábado, 27 de dezembro de 2008

Na hora que a gente tem mais vontade de escrever, geralmente, não sai nada. O jeito é apelar para a metalinguística, falando, de maneira vã, sobre a apatia momentânea para a arte de colocar algumas poucas, reles e talvez até bonitas (quem sabe) idéias no papel (ou tela de computador). Inclusive, a beleza é muito relativa, como tudo nessa vida... que é boa pra uns, má pra outros; feliz, triste. E nem sempre a opulência material é o bastante pra tornar alguém digno de felicidade, é preciso encontrar o sentido. E se não existe sentido? Eu acho que realmente não há. O tempo da gente é muito mais poesia, é muito mais vento e as cinzas de um cigarro. Triste do brother que é só alvoroço. "E lá um belo dia, o infarto, ou pior ainda, o psiquiatra"
E o sentido? Cadê? Dane-se! O sentido só traz a patologia crônica de todos os dias...
Voltando pra metalinguística: acho que todos os dias escrevo sobre a mesma coisa. Ou não. Minha elucidação dos meus próprios textos são sempre iguais talvez.
Nenhum P.S.
Vou dormir.

Lafayette Gadelha
João Pessoa, 28 de Dezembro de 2008

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

chegou de novo.

Hoje nem parece Natal. Não sei se essa minha impressão deveras peculiar vem do meu asco à data ou faz parte da circunstância: parece que ainda vou ter que estudar muito ainda. Achei que aquela maratona de fazer contas e mais contas, ler sobre unificação alemã e saber o que é que a hipófise faz, tudo isso nunca ia acabar, logo não ia ter Natal, nem Ano Novo, só vestibular. Percebi agora que tudo parou: posso acordar a hora que quiser, ler o que eu quiser, finalmente, aceitar os convites incessantes de Derek para ir ao Happy Hour do Dona Branca. “Tudo muda e com toda razão”.
Mas pra mim, o Natal ainda é a festa hipócrita que sempre achei que fosse. Esse meu sentimento ímpar de liberdade não vai extirpar essa minha concepção. Pra mim, o Carnaval e o São João são muito mais cristãos que o Natal. Hoje, as melhores ceias natalinas estarão nas mesas das casas mais abastadas ou dos que poderão ter sua ceia. E aquele papo de ajudar a galera só fica na retórica mesmo... Incluo-me nesse cosmo de hipocrisia. Por isso cobro mais ainda de mim uma postura mais forte, mais radical, mas a sociedade vem e freia. Rousseau talvez não falasse merda, quando disse que a sociedade nos corrompia. Pra mim, é a grande verdade que nos rege. O mundo criou normas insensatas, existem leis absortas que, caso o homem não as cumpra, impele na marginalização de tal do convívio.
Não vou mentir: realmente, não gosto do Natal. Odeio musiquinhas natalinas que tocam no shopping center e aquele cenário com árvores de Natal e Papais Noéis em toda parte. Não é porque é Natal (fica provado, já que disse que não gosto nem um pouco da data), mas espero que sejamos mais altruístas, que vivamos sob a égide de que tem muita gente nesse mundo que sofre e que ajudar não é gesto de perda de tempo, nem pra chamar atenção. Feliz Natal a todos.

Lafayette Gadelha
João Pessoa, 24 de Dezembro de 2008

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Sermão do Bom Ladrão

O conceptismo do Padre mostra o talento e o garbo dele com a palavra e as idéias que são tão atuais que nem parecem escritos do século XVII.

"O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao Inferno; os que não só vão mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera, os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue S. Basílio Magno: Não são só ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes roubar a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam são enforcados, estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões e começou a bradar - Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos".
(Pe. Antônio Vieira)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O sistema é cada vez mais perverso e excludente. A luta é o consolo e, mutuamente, a esperança. Ela, que fica engasgada dentro de nós a cada dia, é dominada pelos donos do sistema, pelas armas do sistema, e os punhos fechados são discretíssimos, contudo ainda há força, ainda há uma nutrição desconhecida que ninguém sabe de onde vem que vez em quando nos incorpora e faz de nós um instrumento contra o tal sistema, contra os tais empreendedores do sistema. Os berros da liberdade viram murmurações perpétuas nas periferias do universo idealista, e os sorrisos, a arte, o sonho, o amor é tudo álcool.
Somos suprimidos, e os modismos nos guiam, e os valores padronizados nos levam... Tudo numa languidez disfarçada, que te ludibria, e você vai virando pó, até as mãos do comando te segurarem e te jogarem ao vento. Aí, você é mais um grão de pó igual a todos os outros. A luta cessa, os punhos se arrefecem, a vida é a rotina e só. Até arte não tem mais. Tudo se transforma em conformação, tudo se resume em sentar e trabalhar, porque nem Deus existe mais e há desconfiança nos céus e na terra.
Isso é o que eu chamo de uma embriaguez filosófica, um desabafo talvez, uma merda pra o sistema e sua trupe.


“Olha aí, olha aí...”

José Benevides
João Pessoa, hoje é 5?
abraços.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Ensaiozinho amador no verso da prova de biologia

Meu bem,

O tempo cristalizou nossas esperanças, e os planos se dissiparam como papel n'água. Tememos o futuro que se edificou , em tua cabeça, semelhante a um monstro, e te fez essa menina de olhar oblíquo, de um beijo, de um "uh!"...
Tua vida te desenhou cada vez mais sem vida, sem rota, e aceitaste tênue a infelicidade e o infortúnio que serão, ao teu contento, companheiros diletos e vitalícios.
Vai, Maria, dá um rodeio na praça, fitando as crianças, e passa Júlia, passa Sandra, Patrícia, Vitória, e você se esquiva: "não , hoje não, outra hora" ou "após a sesta amanhã", mas prossegues na solidão, aceitando os meandros da vida estática, fria e calada, com o mesmo olhar inclinado, os lábios cerrados, sem beijo, sem "uh!".

Lafayette Gadelha
João Pessoa, 13 de Outubro de 2008

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Para quem não gosta de ir ao dentista

Leiam. Muito interessante: http://www.plasticobolha.com/2008/04/02/odontologia-a-farsa/
Comemorei como gol do Palmeiras. Pode até ser uma calúnia ou um engodo qualquer de um polemista, mas que agrada, agrada...

Lafayette Gadelha
João Pessoa, 24 de Setembro de 2008

domingo, 14 de setembro de 2008

Seu Expedito

A gente chegava na Companhia e ele estava lá sentado com os amigos, inclusive a pagar todos os custos da mesa, tomando seu chopp na caneca fria e separada, exclusivamente, para ele. Sempre era hospitaleiro com todos os clientes, conosco principalmente, e como prova da sua polidez perene, é a sinuca no canto do bar, a qual foi uma petição nossa, freqüentadores fidedignos de lá.
Nem era tão próximo dele, mas o seu semblante era capaz de inebriar o homem mais frio da cidade e cativar os mais depressivos e acanhados indivíduos que ali fossem chorar suas mágoas de amor. Seu Expedito viajou para uma dimensão desconhecida. Agora, paira apenas o pranto dos garçons sobre os copos do bar, a voz cada vez mais tênue do cantor e a solidão de seus companheiros de boemia.
Subordinados aos vícios da noite, jamais cessaremos nossa freqüência rotineira àquela taberna, embora a sua singularidade tenha se esvaído tão abruptamente com a morte dele, de modo que assim o faremos como forma de homenagem, gratidão e devotamento.
Lafayette Gadelha
João Pessoa, 14 de Setembro de 2008.

domingo, 7 de setembro de 2008

É setembro e por isso não chove mais. O verão começa a tomar a cidade e é o vento que anuncia isso, livrando-se lentamente do cheiro da chuva que o envolve de maio a agosto.
E assim eu também vou me desprendendo desses ares de terra fria, da água que cai sem parar e me empurra tanto para dentro de mim mesma, como se as tempestades fossem de ferro e circundassem todo o espaço que há fora da minha alma e do meu corpo, obrigando-me a uma reclusão triste nas curtas e vagas extensões que possuo e que chamo de só minhas.
Os lugares, as horas, as brisas e o movimento das marés têm esse poder: fecham e abrem meu coraçao quando bem entendem, nao sou dona dele, viro escrava, umas vezes exangue, despedaçada, inerte; outras vezes histérica e eufórica, como se toda a falta de lucidez da natureza tomasse conta da maneira como não desbravo meus caminhos e não conduzo minha vida.
Eu sempre soube que estava acorrentada aos humores da natureza, desde que, depois de visitar Aracati e tornar-me tão íntima do seu espírito, dos seus movimentos e odores, senti, a tantos quilometros de distância, o cheiro de sua praia numa aragem que atravessa estados e traz para a aridez do sertão a delícia da maresia. Pensei que estava na praia, eu, naquele instante enterrada na depressão sertaneja que começa na serra da viraçao e torna toda aquela região tao mais longínqua e distante do que na verdade é. Meus pés já pisavam uma rede de pescador, sujos de areia molhada e de sargaço.
Setembro me transporta para outros setembros. E os setembros, que era tão felizes por expulsarem a chuva e trazerem de volta o calor e a luz, agora são impotentes diante da profundidade do meu claustro. Meus minutos, nesses últimos temporais, foram mais longos ,até mesmo que os longos minutos de inverno, e ,assim, fui me embrenhando no meu peito sem nenhum limite, tanto que agora acho que nem consigo ver o ponto de onde saí, o retorno parece imensamente demorado.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

"cada um de nós é um universo, pedro"

Pedro escutava o chorinho do violão e fitava o reflexo da lua sobre o mar, categoricamente lindo, ao passo que os seus pensamentos eram só melancolias e prantos intrínsecos, era como se ela começasse a se tornar um mito e o tempo dos dois se encerrava tão abruptamente que era quase incrível pensar e idealizar o semblante dela ou tentar, debalde, recordar algumas palavras que soavam da sua boca.
Bebia cerveja. Não era o seu costume, mas, naquela noite, particularmente, a escolheu como sua amiga dileta que iria compartilhar com ele suas dores, ao lado da voz do velhinho que tocava suas músicas prediletas, por isso os goles eram cada vez mais vagarosos, representando sua tentativa vã de eternizar aquele momento e ficar observando o luar por toda sua existência. A platéia era pequena. Além de Pedro, haviam mais três pessoas: um casal de namorados, que se reconciliavam de um litígio passageiro e um amigo do cantor, que resolveu comparecer, já que eram incessantes e diuturnos os convites do artista a toda sua turba de companheiros de boemia. O escasso público tornava o ambiente ainda mais triste, salvo o casal, o qual Pedro observava com uma pontinha de inveja, mas a lícita, que se representava como um desejo incisivo de também ter seu amor de volta, todavia ela estava longe dele e, certamente, não estaria pensando nele, nem lastimando a separação, deveras infortunada.
O velhinho, semelhante a Pedro, não tinha nenhum pretexto ou causa que o fizesse congratular-se. O sentido da vida perdia o prumo, e o vácuo pairava perante seus fardos, sua mente. Aguardava a morte, serenamente, sem pressa alguma, contudo privado de qualquer alvoroço em viver ou ainda um otimismo subjetivo que o fizesse galgar planos e receber triunfos advindos de sei lá o que. A tristeza o consumia, uma tristeza sem esperança, uma nostalgia sem perspectiva e sem vontade.
O sono calejava os olhos de Pedro. Motivos? A insônia e a cerveja. Os demônios que circundavam-no, além do amor. Ah, o amor de Pedro. Tudo virara quimera nos últimos dias, pois já era quase impossível lembrar-se do seu mais demorado encontro com ela. Tudo se escondia na sua cabeça, todas as características dela: o recato, o garbo, o charme... Tudo se encravava num túmulo, onde no epitáfio estava escrito um verso de Byron.
Pedro não era um pedreiro, nem muito menos chegava para esperar o trem, porém o seu sofrimento pela separação, pelo seu adeus mais íntimo era do tamanho de um universo inteiro. A sua consolação era a dor extrínseca do velhinho.

Lafayette Gadelha
João Pessoa, 18 de Agosto de 2008

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Subitamente, tudo que se aprendeu durante anos torna-se absolutamente irreconhecível.Os valores aparecem carentes de significados, um vazio completo, milhões de estradas a serem contruídas,o passado são ruínas inescrutáveis. De nada adianta ter vivido, no fim das contas é só você e o presente, um presente cada vez menos passado, cada vez mais futuro. Entretanto, apenas presente, indissolúvel, absurdamente desafiador.

M.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Ficção

Oswaldo e Letícia chegavam às oito da matinê. Felizes e, ligeiramente tomados pelo efeito de alguns goles de cerveja, eles escarneciam e criavam anedotas com tudo que viam. A fumaça do cigarro tomava a calçada e irritava um velhinho transeunte que, absorto, pensava na sua morte vindoura. A noite havia sido divertida, os dois irmãos conversaram, pela primeira vez, de maneira mais íntima e privada de pudores, o que o faziam mais felizes e mais confiantes, pois, depois da morte da sua mãe, há mais de um ano, era como se o corpo deles não tivesse qualquer serventia ou funcionalidade, semelhante a flor que murcha, mesmo que esteja no jardim mais candente da vizinhança. Porém a vida, agora, era uma prova, como um jogo de sobrevivência, onde eles teriam que se unir, pranteando a dor e sorrindo forte, nos momentos de vitória. Os óbices, deveras, não saíam da estrada ainda, nem nunca sairiam, contudo o tempo lhes pronunciaria as missões pelas quais eles atenuariam os obstáculos.
Agora, no sofá da casa, fitavam-se, de maneira bucólica e trivial, se amando como Paulo ensinou. Ambos se fascinavam com os recados que os olhos firmes enviavam mutuamente, tornando-se tudo mais elucidativo para eles, e o sentido da vida encetava a ressurgir, com rumores de paz e felicidade, o que tanto possuíam anseio. A morte era, a cada dia, mais natural e adaptável, posto que, paulatinamente, a vida recompunha-se com muitos esforços e dedicação com o interior e com as reflexões, as quais os lecionavam a aplicarem o amor. Agora, parecia que Deus realmente voltava a existir e o ceticismo fenecia como uma pluma no vento; a fé era mais inabalável que tudo e os valores menos tênues. Letícia abriu um sorriso mais singelo e genuíno, porque Oswaldo já dormia, falando, com a dificuldade de eloqüência dos ébrios, sentenças frívolas. A irmã o levou até a rede, fez-lhe carinhos, até ele adormecer de vez, pedindo mais cerveja e falando de suas eternas paixões e foi até a varanda devorar o seu terceiro e último cigarro da noite. A brisa era lânguida e fria, e ela sentia o cheiro da mãe, ainda que o tempo lhe apagasse da memória tal odor, mas o espírito parecia ser bem mais tenaz e a presença materna pairava cada vez com mais certeza. Verteu-se uma única lágrima, todavia a mais sincera de toda a sua vida. Voltou e dormiu na redinha ao lado de Oswaldo.

Lafayette Gadelha
João Pessoa, 16 de Julho de 2008

terça-feira, 8 de julho de 2008

O apartamento é um vazio sem ela. Se nós tirássemos todos os móveis e deixássemos apenas cheiro, silêncio e paredes, ainda assim ele estaria cheio, pois embora naquele tempo ela nao fosse toda a completude da casa, agora é como se , sem ela, nada existisse além de sombras, um amor caminhando às cegas num deserto de melancolia.
Todo gol é menos gol, o palmeiras é menos palmeiras e o álcool é tudo de melhor na vida. O que entorpece é tão sublime quanto ser um pequeno animal inocente brincando sem qualquer idéia de que um caçador astuto está na espreita : o dia seguinte, todos os dias que virão.
O que restou do corpo dela ainda guarda a alegria transbordante, a humanidade incondicional, o desejo de luta, as dores, suas mágoas, suas tristezas? Só imagino um cadáver fétido, um esqueleto que a terra chama para si dia a dia, uma ausência absoluta dos seus movimentos tão ávidos dos próximos e dos próximos. Nada da vontade de nunca repousar, da celeridade e da ternura tão breve, mas tão profunda que agora, em minha recordaçao, parece infinita, imensa.
A memória é uma traidora.O que antes era insignificante e por assim o ser, esvaiu-se, agora é da maior importância, é crucial e seu esquecimento, doloroso. Queria mais e mais lembranças, mais e mais.
Ela tinha os olhos vivos e o espírito inquieto, podia chorar como um bebê e sua explosão de ódio era a de um titã. Eu procuro açao em suas fotografias, procuro pra onde foi depois delas, exploro as bordas do retrato em busca de sua imagem caminhante, como se ela tivesse se escondido além daquele papel.Procuro uma continuaçao daquele instante lindo onde ela existia, não estática, mas quando sorria e interagia, onde poderia me falar, me beijar e rir comigo até chorar.
Agora, olhando tudo que é inanimado que ainda há dela ao meu redor, eu choro até rir da ironia da vida, dos percalços, das curvas em que a gente não reduz e fatalmente derrapa e acaba num acostamento poeirento, cheio de mosquitos e plantas que dão alergia, como os do sertão. Da ironia que é suas roupas existirem no seu guarda-roupa, seus livros me observarem da estante, da sua maquiagem ainda me servir, dos poder ler seus escritos, tinta azul em papel branco, de carregar sua bolsa e encher com minhas sujeiras, da ironia que tudo isso, tão frágeis objetos, uma folha que pode ser amassada com um aperto de mão, um livro que pode ser queimado, como os papéis, um pó compacto, que, caindo no chão nunca mais pode ser utilizado, suas roupas, que posso picotar em pedacinhos,subsistam parecendo imortais, enquanto ela, um corpo vigoroso, uma atitude incansável, uma mente inteligente e um caráter firme, jaz como menos que tudo que me serve e a serviu sem nenhum valor, sem nunca ser amado nem nos amar. '
E nós, que nos amávamos tanto e que servíamos uma a outra com sacrifício e zelo, estamos separadas pela frieza do seu corpo, pela incapacidade irreversível que ele tem de me envolver.
Minha flor, você tinha cheiro de tangerina e espero que ainda tenha, suas cinzas vão cheirar a tangerina e daqui a muitos e muitos anos, quando aquele cemitério for tomado pelo vento e pelo vento, quando seu túmulo for uma ruína e você nada mais tiver de pele, músculos e ossos, ainda assim, suas cinzas vão cheirar a tangerina e seguirão com a brisa e um bando de pássaros para uma praia distante,onde um menino imensamente alegre numa manhã irresistível de verão dirá para um pai surpreso: pai, construí um castelo de areia que cheira a tangerina. E você será esse castelo, outra vez o vento lhe levará para longe e eu nunca mais vou saber onde você está. Como desde o dia em que você sumiu e sua voz só ficou num vídeo.

M.

domingo, 6 de julho de 2008

(Olha, benzinho, cuidadoCom o seu resfriadoNão pegue serenoNão tome geladoO gim é um venenoCuidado, benzinhoNão beba demaisSe guarde para mimA ausência é um sofrimentoE se tiver um momentoMe escreva um carinhoE mande o dinheiroPro apartamentoPorque o vencimentoNão é como eu:Não pode esperarO amor é uma agoniaVem de noite, vai de diaÉ uma alegriaE de repenteUma vontade de chorar)

sexta-feira, 20 de junho de 2008

04:15.

Hoje tive certeza de que o meu relógio biológico é mesmo completamente alterado. Ontem fui dormir às 7 da manhã e acordei às 11, morrendo de sono ainda. Passei o dia naquele estado de tudo "é uma cópia, de uma cópia, de uma cópia" ou o que seja, o raciocínio mas lento da história, um frio de matar no meio dos trópicos. Esse cinza que não deixa a cidade. Quero dias ensolarados de novo, cansei da sensação de estar na Escandinávia. Tudo bem, é exagero, mas eu sempre fui assim e isso não é bom, tudo acaba sendo fatalmente intenso. A sensação de Escandinávia é um pouco como a de estar envolta pela bruma entediante de "Os outros", com Nicole Kidman. Lógico que não me sinto assim há meses, porque há meses que chove sem parar, mas, de vez em quando, baixa a sueca e eu fico assim.
Comi tanta geléia de morango com queijo e torrada que acho que nunca mais quero ver geléia na vida. Estou com medo de ver o dia nascer, queria estar disposta pra Campina, amanhã. Nunca mais acredito nessa história de que você deve passar um dia morrendo de sono pra dormir cedo à noite. Comigo nunca, nunca funcionou, a nao ser no extremo dos extremos, quando eu passava 3 dias sem dormir.
Também fico sem vontade de ler, esperando alguma conversa interessante no msn ou uma notícia interessante sair. Estou lendo "Paula" faz quase um mês. O ruim das férias é que você acha que tem tempo para ler todos os livros que estavam na espera e mais os que você comprou num dia sueco na livraria e então acaba não lendo nenhum.
Tem os livros 'fáceis' que ficam na cabeceira para momentos como este. Aqui tenho "Você é o que você come", que manda a gente só comer sementes de girassol, nunca carne, nada com cafeína, açúcar. Praticamente o iridologista que disse me proibiu de comer tomate. Tudo com tomate é bom e não é como essa geléia.
O iridologista é o especialista da íris. Ele tem um monte de fotos de olhos saudáveis e doentes no consultório, pega um aparelhinho com uma luzinha e diz se você tem um distúrbio no pulmão, no fígado, nos rins, o quão ansioso você é, até seu grau de melancolia. Minha irmã, que é médica, diz que não acredita nisso, mas todo mundo que vai lá fica impressionado com os acertos do homem e com as melhoras subsequentes. Inclusive a avó dela, a mãe e a prima. Acho que, na verdade, todos que vão se consultar no iridologista têm uma propensão maior a crer nesse tipo de ciência (será que Carl Sagan chamaria de pseudociência?), logo, as melhoras aparecem, mais ou menos expressivamente. Não acredito totalmente no potencial de transformação do iridologista, mas acho que pode ter, sim, um fundamento. Acontece que também sou meio fã de terapias alternativas.
Na época eu fiquei deslumbrada, porque ele disse que os meus olhos não eram realmente castanhos, eles estavam apenas opacos, na verdade, ele disse, você é dona de lindos olhos cor de mel que podem ficar verdes se você seguir essa alimentação aqui. Sério. Ele disse que a felicidade faz brilhar os olhos e, por causa disso, eles podem ficar mais claros. Eu gosto de poesia, portanto, engoli essa, maravihada.
A alimentação que ele passou era a proibição de quase tudo que eu amo comer, principalmente tomates. E comer alimentos vivos. Se cozinhar, eles morrem. Ele recomendou que eu comesse muito brócolis, mas vivo, ou seja, cru. Jô, que cozinha aqui em casa, morria de raiva dessa história de alimento vivo e morto, não colaborava em nada, aí eu abandonei o plano e o sonho de ver minha íris verde.
Dona Giselda crê na pomada do vovô Pedro, que é um remédio espírita que promete curar até câncer. Lella, minha irmã, fica com raiva porque diz que é perigoso, imagina se pacientes com câncer trocam quimioterapia por pomada do vovô Pedro? Dona Giselda me deu uma, eu cheguei a usar numa micose, mas confesso que, um pouco por causa de Lella, não levei muito a sério. Minha pomada do vovô Pedro é água rabelo. Eu uso água rabelo pra todas as coisas e, engraçado, sempre acho que funciona.
Minha tia ficou impressionada com a minha paixão por água rabelo, porque disse que minha bisavó também usava água rabelo pra tudo, todo dia tomava um gole, não vivia sem. E eu nunca soube disso, nem conheci vovó Benigna. Minha tia disse que a genética é, realmente, muito curiosa, porque foi só eu ter contato com esse líquido mágico pra me apegar a ele, sem nenhuma influência cultural da minha bisavó. Como se eu tivesse nascido na selva e, ao me deparar com música clássica, me apaixonasse a primeira vista, sem saber que todos os meus antepassados também eram loucos por música clássica.
Os outros livros "fáceis" da minha cabeceira: a vida de Botticelli, que eu acho que nunca nem abri, só vejo as fotos dos quadros e isso é suficiente pra dizer, nossa, eu amo Botticelli. Uh. E, claro, Baltasar Gracián, que leio sempre que posso, as mesmas coisas, sempre achando significados diferentes de acordo com o dia e com a fase. Hoje li que os livros nos tornam fielmente em verdadeiras pessoas, que ler é a primeira etapa da vida. Depois, devemos registrar tudo o que vemos e viajar o tanto quanto possível, pois nem tudo que há de bom está numa terra só. E, por fim, filosofar, que ele elege como o mais sublime dos prazeres.
Agora esquentou, mas eu ainda me sinto "escandinávia". Maldade com a Islândia, que é o país mais feliz do mundo, com seus 300.000 habitantes. Minha amiga islandesa disse que encontra o primeiro-ministro caminhando nas ruas.
Tento dormir? É um esforço tão grande que me cansa e perturba só de pensar.
Tento dormir ou isso vai ficar mais samba do crioulo doido ainda.
Myriam.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

A porca de Lilice

Lilice é minha irmã mais nova de oito anos. Não vou defini-la como qualquer menina de sua classe e idade, pois geralmente, Lilice surpreende a todos com tiradas fantásticas e assertivas inteligentes. Acredito que seu pensamento é, inclusive, mais profundo do que ela nos deixa perceber. Outro dia perguntou-me de onde vinha Deus e quanto era o tempo Dele, já que não compreendia como algo podia ter sempre existido, tampouco existir para sempre. A eternidade é, para ela, como para todos, imagino, um conceito infinitamente maior que o alcance da mente humana. Em algum verão, enquanto olhávamos o horizonte lilás pincelado de laranja, Lilice comentou como aquela visão era linda e que, se possuísse o dom de pintar, pintaria aquele cenário estarrecedor. Ela tinha quatro anos à época. Entre suas opiniões políticas, está a de que Juscelino foi o maior presidente do Brasil, visto que Getúlio não passava de um covarde que entregou-se à morte e abandonou seu país. Além de tudo, Lilice possui grande envergadura moral e caráter firme.
Por essas e outras, papai acha minha irmãzinha um ser único e dotado de uma capacidade intelectual além do normal. Assim, resolveu presenteá-la com uma porca para guardar moedas, desde que ela respondesse às perguntas por ele formuladas todas as noites. Como ela estava apta a responder a maioria das questões, as moedas logo foram deixadas de lado e a porquinha rosa de Lilice ganhou cédulas de 10, 20 e 50 reais. Era um estouro. Para estimulá-la ainda mais em sua busca pelo conhecimento, eu e meu irmão Lafa, de dezessete anos, também entramos no jogo disputando o dinheiro. Para minha pequena flor a brincadeira ficou mais difícil: agora, não era necessário apenas que ela respondesse tudo corretamente, era preciso também que eu e Lafa errássemos o que nos era indagado!
A mim, destinavam-se os mais cruéis questionamentos do direito penal e do processo civil, matéria esta última que ainda nem tive o prazer de estudar na faculdade, de forma que havia uma certa trapaça no divertimento,o que garantia à Lilice quase sempre,a vitória. Lafa ficava a cargo de discorrer a respeito de fatos históricos de forma extremamente subjetiva, de rapidamente ter que lembrar a capital do Uzbequistão ou a personalidade de um personagem absurdamente secundário de um livro esquecido. Enfim, Lilice tornava-se, de um jeito ou de outro, a campeã soberana e sua porquinha, por conseguinte, ficava cada vez mais rica e gorda.
No último dia, antes de abrirmos o cofrinho, eu e meu irmão já esgotados e fartos de derrota, decidimos recusar nosso direito de resposta e fazer o êxito de Lilice ainda mais grandioso: assumimos expressamente que não tínhamos a menor chance e que seu embate seria contra seu próprio raciocínio e intelecto, ela seria sua própria rival. Na minha casa, as crianças nunca foram tratadas como crianças e nosso feitio moral foi construído passo a passo através de exercícios como o aqui descrito, além de outras duras pelejas seguidas de penas desenvolvidas com a destinação de criar indivíduos excepcionalmente fortes e irresistíveis às batalhas da vida. Ainda não é sabido se tal método funciona, mas, para mim, o efeito parece ter sido o oposto do esperado, uma vez que me vejo frágil e vulnerável aos humores diários.
Mas bem, voltando, a pergunta foi: em que situação Anne Frank escreveu seu diário? Os olhinhos de Lilice brilharam de emoção e a resposta foi instantânea: ela estava se escondendo de Hitler, que perseguia todos de sua estirpe. Ok, ela não usou estirpe, mas não é fácil saber, à idade de 8 anos, que Hitler buscava todos os judeus para destruir. Mas Lilice sabia. Ela tem um apetite insaciável por conhecimento, talvez mais por natureza, do que pelos estímulos lúdicos de meu pai. A porquinha ganhou mais 20 reais e no dia seguinte,minha irmã esparramou-se no sofá como um velho ganhador de dinheiro, contando cédula por cédula, moeda por moeda e, passados vinte minutos, concluiu que detinha a quantia significativa de seiscentos reais.
Por sermos humildes vencidos, parentes pobres rodeando sua fortuna, fomos agraciados, eu e meu irmão, cada um com cinqüenta reais. Didi, sua babá, recebeu também cinqüenta. O resto, ela decidiu que gastaria no final de semana em Recife, naquele imenso templo do consumo que é o shopping center da capital pernambucana. Agora tenho que falar dos defeitos dessa doce infanta: é uma gastadora nata, uma consumidora cruel, boa vida, ambiciosa e avarenta. Lilice ama o dinheiro e tudo o que ele pode comprar: Barbies e outras bonecas, vestidos da última moda, cadernos coloridos, papéis de carta perfumados, lápis com tinta brilhante, conjuntinhos de chá de porcelana, fantasias de todos os tipos, livros cheios de figuras, cds (de boa música, é preciso ressaltar).
Não tem culpa. Aliás, se podemos culpar nossa natureza, talvez tenha. E da natureza unida a um meio propício para que a ela demos vazão, um comportamento harmonioso e rijo surge, já cheio de percalços para ser mudado. Lilice gosta de ter e, até então, poucas coisas a impedem de ter o que deseja. Ela acredita que sua personalidade exige muito para estar plena e que, para tanto, deve angariar todos os objetos e utilizar todos os serviços que estão sintonizados com o seu interior. Ou seja, suas atitudes enérgicas demandam uma barbie estilo caratê e suas necessidades sentimentais pedem os cadernos coloridos e os lápis com tinta brilhante, a fim de que o pensamento flua melhor no papel e que, ao lê-lo, todos saibam que foi Lilice que escreveu aquilo, não apenas devido à marcante forma de opinar, mas também à maneira como a idéia se apresenta. Seu quarto deve ser decorado em fundamental simetria com seu eu. Ela deve comer manteiga de amendoim porque identifica-se com as personagens dos filmes americanos que comem manteiga de amendoim. E comprar em uma loja que também venda a distinção de sua individualidade. As coisas são um reflexo de seu ser.
Enfim, ao procurar o conhecimento porque o ama, Lilice não erra em nada, muito pelo contrário, só acerta. Ao ganhar dinheiro com seu conhecimento, também apenas une o útil ao agradável. Ao despejar seu íntimo em tudo que é tangível, ela torna-se uma fortíssima figura de seu tempo, ainda que tal característica seja um sentimento humano bastante enraizado, que apenas se mostra mais forte nas últimas décadas devido ao contexto econômico e social por que a humanidade passa e para o qual caminha. Mas esta expressão do homem moderno não atinge a todos, como é sabido. E para mim, uma pobre alienada também envolvida pelos valores do consumo e da necessidade de transferir-me para objetos, marcas e serviços, o alcance desta percepção foi triste e inesquecível.
Ao sair de casa carregando um pesado Vade Mecum, um livro de direito civil e uma pilha de xérox, inebriada por toda a beleza do direito, saí do trancado universo claro e perfeito das leis, bem vestida, branca e longa, para inserir-me na cena bárbara que corria no terreno baldio ao lado do meu prédio: o que primeiro me chamou a atenção não foram os seres humanos maltrapilhos que sempre estão por ali buscando restos do que comemos e do que usamos, os cadáveres dos objetos para onde transferimos com tanto orgulho e paixão nossas personalidades, mas sim para o rosa claro da porquinha quebrada de Lilice que contrastava com o barro do terreno, com o preto das latas de lixo e com o marrom da pele das duas menininhas, provavelmente tão jovens em idade quanto minha irmã.
Duas abandonadas, descalças, longe do que conhecemos, porque embora seja uma cena comum, é geralmente ignorada e se esvai de nossa memória por não merecer nossa atenção. Duas abandonadas já apaixonadas pelo brinquedo sujo, rosa bebê, quebrado, tão maltrapilho e abandonado quanto elas. Lilice já não o queria. Ele já não atendia aos seus desejos, fora descartado e agora era extremamente amado pelas desconhecidas. Fizeram-se donas da porquinha. O zelador do meu prédio, que fora esvaziar o resto do lixo dos apartamentos no terreno, olhou-as severamente, avaliou a porca e as mandou embora, deixando que levassem o objeto. Elas em nada se importaram por terem sido despejadas de um terreno baldio e fétido, como saíram transbordando uma alegria escandalosa, que Lilice jamais sentiria ao ganhar sessenta reais para mais uma barbie apática que fosse expor na prateleira.
Myriam Gadelha.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Da noite

Tenho um colega chamado Thiago, porém todos o conhecem pelo vulgo "Venâncio". Pois é, esse mesmo, caro leitor.
Estou em sua companhia, agora, metodicamente, neste instante, a fazer nada, entrando no total e completo ócio mais inimaginável, aquele que, de tão estático, gera a dor e a melancolia, mas principalmente, a prosa.
Prosamos muito. Sobre os mais sortidos temas, os quais nunca cessávamos um instante de alegria e descontração, para debatermos e dialogarmos sobre tais. É certo que os assuntos, apesar de possuírem uma essência sisuda, eram recheados por anedotas maquinadas por nós.
Um desses diálogos povoava no fato de como a sociedade nos reprime e nos extrangula, a fim de que vistamos um padrão de ente e que, nele, vivamos por toda existência, renunciando ações deleitosas ao nosso gosto, maquinando personalidades conflituosas e hipócritas. O mundo nos controla, o sistema nos impõe as regras. E nós obedecemos. Hein, Venâncio? Leitor?

Lafayette Gadelha
João Pessoa, 30 de Maio de 2008

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Batuca, bebe e beija...

...enquanto isso, o povo paraibano, principalmente, os que fazem parte de uma conjuntura que estamos bem distante dela, vivem sob ditaduras, genuínos holocaustos, a resignar-se a um Estado e a uma sociedade exludentes e indifirentes aos seus problemas, todavia possuem a rebeldia instrínseca, impossível de tomar controle e que, de maneira fugaz, explode, resultando em mais problemas que, infelizmente violam a segurança e os próprios valores.
Às vezes, encontro com Rosinaldo, menino de rua que aprendeu a se virar com um malabarismo de circo amador, mas é este que promove o seu "sustento" de garoto púbere, seus vícios e, quem sabe, um pão pra matar a fome, quando já está em seu limite. Ele trabalha no semáforo em frente ao Mercado de Artesanato, mas, esporadicamente, o vejo na sorveteria, onde lhe pago um sorvete e converso sobre seus estudos e sobre sua família. Ele é sincero e fala, apressadamente, sem dar pausas nos intervalos das palavras, que não vai muito a escola, mas está matriculado, em uma escola do município. Ao final da prosa, pede-me melindroso uns trocados e roupas velhas.
Talvez Rosinaldo, não saiba, mas ele é ludibriado, a toda hora, porque um dos homens que deveria lhe proporcionar necessidades básicas, que governa um Estado da República, batuca, bebe e beija.
A Paraíba carece de políticos de que se sintam mal, ao ver a situações como a de Rosinaldo, que seja instalada uma revolta que os tome e os façam dotados do espírito público mais verdadeiro. Afinal, o sofrimento gera a compaixão.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Do aritgo abaixo

Uma verdadeira lição de vida:
Surto eclesiástico:
I Coríntios 6:10 - "Nenhum bêbado herdará o reino dos céus".
Romanos 1:29 - " Estando cheios de toda a iniqüidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade".

Opinião: aplausos a colunista, por favor
Enquete: comentários, abraços.
Conclusão: Ana e Lake, certamente, no fim dos tempos, queimarão no fogo do inferno.

Outras:

1- São Paulo, novamente, vence com ilegalidades. Domingo nos veremos, bambis.
2- Por falar em cheias, no sertão, Myriam, quem puder ajudar, de verdade, a galera lá, principalmente em Sousa, manda donativos pro 15o DT aqui em João Pessoa. Acho que é assim mesmo.
3- Próximo tema, Myriam: "a amplitude da arte".
4- Show de Toquinho e MPB4 em Recife daqui a 15 dias. Comprarei meu ingresso, imediatamente.
5- Dia de Tiradentes está próximo. Creio que vou escrever um texto radicalmente nacionalista a maneira de Policarpo Quaresma. Enquete: comentários, abraços.
7- Tentando, debalde, dar uma sisudez ao blog.

Abraços.
Lafayette Gadelha
João Pessoa, 14 de abril de 2008

domingo, 13 de abril de 2008

Insônia. Liguei pra Lafa pra saber a senha do blog.
Uma hora estudando direito penal, outra hora orkut-msn.
E nem estou pensando muita coisa pra escrever.Aliás, acho que só pensei em coisas inúteis.
Pensei na utilidade de se ter consciencia que se tem consciência, de novo.
Pensei que gostaria muito de saber gramática.
Pensei que existem poucas doutrinadoras mulheres.
Pensei que os dias passam rápido.
No quanto eu tenho odiado fim de semana (estarei virando nerd, enfim?)

Aí Ana me disse agora que, já que eu queria escrever alguma coisa de todo jeito, devia escrever sobre a super aventura dela neste final de semana:


Ana Moura diz:
escreve
Ana Moura diz:
aventura
Ana Moura diz:
*minha
Myriam diz:
posso????????
Ana Moura diz:
pode

Ana Moura diz:
qr fazer as paginas pretas tbm?



Constataçao da minha felicidade: posso???????


Ana Moura diz:
eu quero ler essa palhaçada que tu vaii escrever

caralho, odeio esse tipo de expectativa.
e Lafa agora vai me expulsar do blog sério-político-filosófico dele.


Myriam diz:
vou me concentrar na narrativa do teu fim de semana
Ana Moura diz:
no blog?
Ana Moura diz:
num é minha historia?

(ela nao compreende)


Ana Moura diz:
i então
Ana Moura diz:
escreva
Ana Moura diz:
la no blog minha historiaa

(Alguém vai ler isso?)


Fim de semana de Ana
Começou na quinta-feira com a subtracao de sua pessoa pelo maior Diego

Myriam diz:
vamos mudar o nome de lake ne
Ana Moura diz:
bote: Diego
Ana Moura diz:
kkkkkkk
Myriam diz:
ai vcs foram p onde na quinta?
Ana Moura diz:
na quinta
Ana Moura diz:
ele passou aqui em casa
Ana Moura diz:
eu estava com 7 caixas de cerveja.
Ana Moura diz:
84 latinhas
Ana Moura diz:
começamos bbendo
Ana Moura diz:
na calçadinha depois fomos p casa dele


Ana e Lake bebem muito. Eles beberam, beberam e adormeceram no salao de festas da casa dele. Ana sentou encostada na parede e Lake deitou no colo dela. História chata do caralho. To quase desistindo. E nao vou criar um novo estilo literário assim. Melhor falar do carnaval de Olinda, das enchentes do sertao. Como os assuntos de alta relevancia e tormento para algumas pessoas tornam-se tópicos para lacunas numa noite obsoleta, meu Deus.


Myriam diz:
aí dormiram?
Ana Moura diz:
nãoo
Myriam diz:
fizeram amor?
Ana Moura diz:
isso é paginas pretas?

semclausulas,semclausulas, lalala.

Myriam diz:
pode ter paginas pretas?
Ana Moura diz:
podee

Lafa nao deixa.


Myriam diz:
fizeram amor?
Ana Moura diz:
fizeram


Ana é Alain Delon e fala dela na terceira pessoa.

Fizeram amor e ela foi em casa tomar banho. Aí ele mandou ela ir pra casa dele e ela é bem obediente e foi e continuaram bebendo. Ana e Lake sao o tipo de casal que se divertem e bebem juntos e jogam sinuca (falarei disso em breve) e comem caranguejo.


Ana Moura diz:
vim em casa tomei banho
Ana Moura diz:
i ele mandou eu ir p casa dele
Ana Moura diz:
ai fuui pra la i agnt continuou bbndo
Ana Moura diz:
o resto da cerveja
Ana Moura diz:
so tinha 3 caixas


Tá ficando comprido, hein.
Quando terminaram as tres caixas de cerveja...

Ana Moura diz:
um amigo dele ligou chamando p ir p casa de uma amiga deles q esta tendo uma festa
Ana Moura diz:
ai eu disse que não ia
Ana Moura diz:
mais ele disse q eu ia

Aí ela foi porque ela é subserviente e apaixonada.


Myriam diz:
aí tu foi ne?
Ana Moura diz:
fuii

Só que nao acharam a casa da menina. Aí foram jogar sinuca em Almir (lembra que eu disse que eles jogavam sinuca). Mas Ana é uma péssima jogadora.


Ana Moura diz:
mais i jogar sinucaa
Ana Moura diz:
"meu cel descarregou e o dele esqueceu no carro do amigo"

(aspas)

Foi aí que começou o desespero da mae de Ana. Ela passou mal e, claro, acho que era um mal presságio e que algo de terrível havia acontecido com Ana.


Ana Moura diz:
tu escrevee
Ana Moura diz:
mtoo ruimm doidooo

Ana Moura diz:
sabe nem juntar
Myriam diz:
escreva vc entao
Ana Moura diz:
as historias


Ta bom, entao vou recomeçar depois dessa.

Aí Lake e Ana conheceram um casal em Almir e foram jogar sinuca com eles.


Myriam diz:
eu recooméco por ond
Myriam diz:
pela parte q lake teve ciume da nega e tu tb?
Ana Moura diz:
omii va dormirr
Ana Moura diz:
i escrever
Ana Moura diz:
outra coisaa
Ana Moura diz:
ta horrivel isso

Ana Moura diz:
escreva cm se foss um romance
Ana Moura diz:
bem AVENTUREIRO
Ana Moura diz:
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Ana Moura diz:
q a mocinha foge cm o caba pq ta apx

Faço questao de colocar isso aqui.



Ana Moura diz:
pronto
Ana Moura diz:
sabe nem ter criatividade
Myriam diz:
eu to obsoleta msm
Myriam diz:
tu acha q eu to escrevdno a tua historia pq?
Myriam diz:
se eu tivesse criatividade ia escrever outra coisa
Myriam diz:
papa angu
Luiza Moura diz:
pq é uma anta

segunda-feira, 3 de março de 2008

Pla pla e as lancheiras

Alguém já disse, sabiamente, que, quando olharmos para um adulto e sentirmos raiva e asco por algum erro ou atitude pouco honrosa que tenha cometido devemos tentar ser condescendentes com aquela pessoa e perdoá-la. O autor do dito não utilizou como argumento a máxima cristã que prega o “não julgueis para não serdes julgados”e “antes de tirares o argueiro do olho do teu irmão repara na palha que há no teu” mas, com simplicidade, sugeriu que nos lembrássemos que aquela pessoa crescida já foi criança um dia e usou lancheira.
É um argumento lúcido e bastante sensível. Permite olhar para o indivíduo em questão mais carinhosamente e, dessa forma, analisar cuidadosamente sua trajetória lembrando que um dia aquele espírito também foi lar de inocência e pureza e que talvez ainda guarde em si algo de sua semente, maculada pela lei da sobrevivência mundana, pelos truques e artifícios que aprendemos, todos nós, ao longo dos anos, antes de sermos divididos pela sociedade entre aqueles estritamente bons e os estritamente ruins.
A dialética nos confunde. A idéia da criança em cada um de nós pode recordar que em um tempo ido fomos obrigados a escolher, o que prova que o ser humano possui trevas e luz dentro de si, mesmo que visivelmente aparentemos carregar somente um lado escuro e opaco, que transborda atos egoístas e avarentos, ou um lado brilhante que nos mostra generosos e altruístas. Aquele que carregou lancheira pode já ter se prestado a dividir a maçã às três da tarde, mesmo que no futuro tenha escolhido guardar para si todas as maçãs que comprou, sem sequer oferecer uma para o semelhante mais necessitado.
Há cinco anos já dirijo livremente pelas ruas da cidade, mesmo sem carteira de motorista. Assim, cuspo na cara do Estado Democrático de Direito, piso no pé da lei, não chego a desafiá-la porque não acredito piamente na severidade de seu poder coercitivo. As justificativas são conhecidas pelos que não mais usam lancheiras. Pro sempre nos mesmos sinais, espero neles pelo temor da morte, não da sanção. Tenho a tristeza de, do conforto do meu banco e do frescor do meu ar condicionado, observar os meninos de rua e, vez por outra, dar-lhes uma pequena esmola. O que para mim não custa nada e para eles é o ópio do dia, como muitos julgam ou, como prefiro acreditar, o pão. Por via de conseqüência, sinto-me boa e iluminada. Nessa ótica, minha compaixão parece burguesa, egoísta e alienada.
Alguns dias atrás, agraciei Plá plá, exímio malabarista já nos seus poucos e raquíticos quinze anos de idade, com habituais dois reais. Minha mente desviou-se um pouco dos meus problemas, tão facilmente resolvíveis com tempo e dinheiro, para o rosto de Plá plá. Ele havia crescido. Embora continuasse pequeno para sua idade, seu semblante parecia muito mais adulto, muito mais sofrido, muito menos inocente. Plá plá me parecia cansado. Claro, deveria ter estado em outras vezes em que passei por ali, porém não fui sagaz ou atenciosa o suficiente para notar.
Conversei com ele algumas vezes. Nunca foi a escola, está na rua há mais de dez anos. Sua maior habilidade é pedir. Foi tudo que desenvolveu na vida e, para ele, esta aptidão tem muito mais profundidade do que nossa passagem corrida permite perceber. É toda a sua história. Ele cheira cola pra passar a fome. Às vezes ele dorme na calçada. Todos conhecemos alguém como Plá plá. É possível até que muitos que vivam em João Pessoa conheçam o próprio Plá plá. E é aí onde está o ponto crucial da crônica. Se Plá plá está na rua, no mesmo sinal há tanto tempo, de maneira que conhecemos toda sua jornada e toda sua dor, por que ele ainda está lá? Se o ser humano possui a capacidade divina de colocar-se no lugar do outro, se há tantos com tanto, por que Plá plá ainda está preso à pedra da rua e do abandono? Este lugar-comum não deixa de ser uma surpresa, numa terça-feira à tarde, quando decidimos ceder um lugar no nosso pensamento à realidade do outro.
Não é difícil adivinhar o futuro de Plá plá. É outra história conhecida, passeia pelo cinema, por livros, crônicas como esta.Um lugar-comum repetido à margem de nossas vidas. É um lugar-comum estuprado. A não ser que ele seja uma criatura absurdamente inteligente e consiga ultrapassar todos os limites que lhes foram impostos desde que nasceu, ele continuará com sua ilícita mendicância, insistirá nesta contravenção e encontrará paz e tranqüilidade na droga que engana sua tão aguçada lucidez. As questões que para nós desafiam a crença em Deus são para ele pura revolta e angústia contínua. Mas não, não desafiará seu credo numa vida justa e igual após o fim do corpo que o maltrata diariamente. Onde não há shopping center, onde crianças como ele, possuidoras de pernas, braços, órgãos respiratórios, telencéfalo altamente desenvolvido e dedo polegar opositor podem agregar valores por vezes completamente desconhecidos ao seu imaginário de simples sobrevivente.
Voltemos à questão da condescendência com os adultos malvados que uma vez já usaram lancheira e possivelmente compartilharam seu lanche com um outro pequeno. Perdoar não está fora de questão, pois o cristianismo prega o perdão infinito diante do arrependimento. E, segundo F. Pereira da Nóbrega, o perdão é mais que humano, pois está perto de Deus. E a busca da perfeição divina deve ser meta constante na vida de todos. Entretanto, é cabível ser compreensivo, condescendente, quando vemos Plá plá crescer na miséria devido à desatenção do Estado? É correto deixar o sentimento de revolta morar preso, acorrentado no coração apertado daquela criança?
O Estado é formado por homens. A maioria deles freqüentou a escola e usou lancheira. Se alguns deles escolheram posicionar-se, ainda que só visivelmente, no lado dos estritamente maus, devemos ser condescendentes e encara-los de forma carinhosa ou tomar partido , não apenas visivelmente e para o nosso bem estar, no lugar dos estritamente bons, procurando apagar a compreensão e acabar com o conformismo? A condescendência para com esses adultos é perigosa. E ela tem seus disfarces. Reclamamos e discutimos, falamos mal do Estado. Mas quando somos omissos, quando não participamos, estamos sendo compreensivos com o abandono em questão. A bondade passiva é uma forma de maldade.
O pensamento deve voltar-se para o fato de que quando Plá plá crescer e se tornar um adulto, ninguém será condescendente com ele. Ele irá roubar o que deveria ter também e será severamente punido. Será severamente punido por procurar o que é seu de direito, ilegalmente, porque esta é a possibilidade que está mais ao seu alcance. E não devemos julgá-lo por escolher o mais fácil e sim, antes, julgar-nos a nós mesmos por permitirmos que assim seja. Não estamos também escolhendo o mais fácil? A culpa está dissolvida entre todos nós. O Estado é representado.
Sabemos, enfim, porque ninguém será condescendente com Plá plá. Plá plá nunca foi à escola e nunca usou lancheira. Plá plá nasceu homem.
Myriam Gadelha
João Pessoa, 03 de Março de 2008

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

"Olinda, quero cantar a ti essa canção"

"É que os desafinados também tem um coração...".

O Carnaval de Olinda foi singularmente mágico. Continuarei a cantar o "Hino do Elefante de Olinda", apesar do meu compormento de anti-musical :).

Apesar disso, só nos resta, neste instante, a "Marcha da quarta-feira de cinzas".

"Acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções, ninguém passa mais, brincando feliz, e, nos corações, saudades e cinzas foi o que restou".

Lafayette Gadelha
João Pessoa, 07 de Fevereiro de 2008