domingo, 7 de setembro de 2008

É setembro e por isso não chove mais. O verão começa a tomar a cidade e é o vento que anuncia isso, livrando-se lentamente do cheiro da chuva que o envolve de maio a agosto.
E assim eu também vou me desprendendo desses ares de terra fria, da água que cai sem parar e me empurra tanto para dentro de mim mesma, como se as tempestades fossem de ferro e circundassem todo o espaço que há fora da minha alma e do meu corpo, obrigando-me a uma reclusão triste nas curtas e vagas extensões que possuo e que chamo de só minhas.
Os lugares, as horas, as brisas e o movimento das marés têm esse poder: fecham e abrem meu coraçao quando bem entendem, nao sou dona dele, viro escrava, umas vezes exangue, despedaçada, inerte; outras vezes histérica e eufórica, como se toda a falta de lucidez da natureza tomasse conta da maneira como não desbravo meus caminhos e não conduzo minha vida.
Eu sempre soube que estava acorrentada aos humores da natureza, desde que, depois de visitar Aracati e tornar-me tão íntima do seu espírito, dos seus movimentos e odores, senti, a tantos quilometros de distância, o cheiro de sua praia numa aragem que atravessa estados e traz para a aridez do sertão a delícia da maresia. Pensei que estava na praia, eu, naquele instante enterrada na depressão sertaneja que começa na serra da viraçao e torna toda aquela região tao mais longínqua e distante do que na verdade é. Meus pés já pisavam uma rede de pescador, sujos de areia molhada e de sargaço.
Setembro me transporta para outros setembros. E os setembros, que era tão felizes por expulsarem a chuva e trazerem de volta o calor e a luz, agora são impotentes diante da profundidade do meu claustro. Meus minutos, nesses últimos temporais, foram mais longos ,até mesmo que os longos minutos de inverno, e ,assim, fui me embrenhando no meu peito sem nenhum limite, tanto que agora acho que nem consigo ver o ponto de onde saí, o retorno parece imensamente demorado.

Um comentário:

Mauricio Babilonia disse...

"É setembro e por isso não chove mais. O verão começa a tomar a cidade e é o vento que anuncia isso, livrando-se lentamente do cheiro da chuva que o envolve de maio a agosto."


é uma imagem e tanto! sinestesico! como uma fotografia que dá pra sentir o cheiro, e vc foi mais alem: fez das palavras uma fotografia, que leva até o cheiro da terra molhada no calor do sol de verão.

beijo, escritora =*