domingo, 24 de outubro de 2010

uma se perde na outra.

Minha querida madrugada de segunda-feira, você, faz de mim o escravo do nada, um subalterno dos barulhos, um espectador da solidão. Feliz de você que, provavelmente, ri de mim, com a maior das glórias. Não, Glória, não vá agora, leve primeiro, na segunda-feira, os frascos de mamãe que estão para se quebrar com este vento danado. Lá, pelo menos, a brisa é mais calma, mais calma e mais mansa como uma bela aurora. Mas Aurora! Já lhe pedi que não saísse mais à noite, por essas horas. Quão perigoso é essas ruas desertas e escuras, esses transeuntes da meia noite, esses ébrios de fim de festa, essa vida noturna conturbada da minha querida Vitória. Ah, Vitória, que bela visita. Obrigado pelos doces (não há de que, sr. Fulano). Mas conte-me: como vão os filhos? Tem passado bem com todas essas turbulências, esses arroubos da política? Só Deus para trazer socorro. Socorro! Venha lavar os pratos, a louça está suja, completamente, suja! Você parece que simplesmente esquece dos seus serviços. Mas, ora, o que vejo, pois não lhe pago para isso?! Quero ver tudo limpo, tudo cheiroso, como o perfume da rosa. Ah, Rosa, me deixaste a esperar todo esse tempo, sem nenhuma notícia, solicitação, convite ou parecer teu sobre nosso último encontro. Eventualmente, digo, logo mais, poderíamos tomar um café ou almoçarmos juntos. Estou com saudades da tua fala singela, da tua voz que me sara. Sara! Já pra cama! Seu namorado está muito atrevido, lhe deixando uma hora dessas em casa. Esse menino está ultrapassando os limites, indo de encontro aos nossos costumes. Já tomei uma decisão: quero este namoro acabado amanhã! E nada de pranto, nada de cinema, estou sendo clara? Clara, não se afobe não, ele voltará. A gente se perde tanto nesse caminhos da vida, né? Tudo é tão difícil, imagine um amor sem sofrimento. Não se revolte, logo mais tudo se acalma, tudo se amorna, tudo se contorna. Sorria, a vida é bela. E Bela foi ao jantar com a família ou ainda não se sabe o paradeiro dela? Mas que moça rebelde, não é? Os pais não merecem tamanha falta de respeito, não era preciso fugir como se nunca tivesse tido as regalias desde que nasceu. Coisa que, no fim das contas, não dá nenhum ibope, não tem a menor graça. Graça, minha querida, veja só: esta semana, esta no meu alfaiate e mandei fazer um vestido vermelho para fazer uma surpresa para o meu marido, no nosso aniversário de casamento. Acho que ficará perfeito o bordado, vai parecer coisa divina, abençoada, celeste! Celeste, a senhorita está contratada como a nova funcionária da casa. A partir de hoje, como gerente, terá de controlar todo o funcionamento da casa, desde a cozinha até o caixa, que é o mais importante, claro. Matenha sempre a calma, seja singela e atenciosa com os clientes, e preserve a educação. Educação, hum... Essa não existe.

L.
João Pessoa, 25 de Outubro de 2010