tag:blogger.com,1999:blog-46734735187960656482024-02-01T22:49:09.387-08:00Sem cláusulas"Mamãe quando eu crescer
eu quero ser adolescente"Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.comBlogger69125tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-22194497317630765252013-11-01T12:46:00.001-07:002013-11-01T12:46:44.304-07:00ConclusãoVou tentar fechar olhos e tentar redescobrir a nuances e os comportamentos de um passado que parece intangível, pouco palpável, embora temporariamente não tão distante. Recordo-me muito bem do quanto eu me envolvia com as palavras e fazia delas a transformação e a evidência de meus sentimentos mais subreptícios, arrimados sob a contestação do óbvio e da erudição eventualmente forçada. Confesso que não sinto tanta saudade desses dias, porque hoje a felicidade desaba sobre os meus olhos e meu rosto retina a leveza de minha alma e do meu coração, contudo, como já diria o poeta, para se fazer um samba, tem que ter um pouco de tristeza, e mesmo, num turbilhão de alvíssaras, sinto uma necessidade quase que permanente de deitar-me no chão, cerrar o mundo, embebedar-me de suor, em uma cálida e árida tarde dos sertões, daí sentir o nada e a solitude desejada, no sombrio do cômodo, da mobília lúgubre.<br />
Parece que, apesar de toda essa combustão de sorrisos e afetos, mais vale o sabor desse momento tão peculiar e que pensava eu ser tão longínquo na memória e no tato. (É sofreguidão viver sob apanágio dessa sensibilidade mutante que nem os deuses controlariam). O jeito é mudar as formas, colorir o contexto e saber que continuo sendo a nuance perdida como meus reles amigos e companheiros ressaltavam sempre. Concluo, pois.<br />
<br />
Sousa, 01 de Novembro de 2013<br />
<br />
<br />
L.Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-55535398471480436002013-07-10T19:28:00.000-07:002013-07-17T18:26:22.612-07:00Uma cidade cheia de espíritos é a minha <span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Uma cidade cheia de espíritos é a minha cidade. Mas, ainda
assim, devo lembrar de que quem não tem raízes, o vento leva. E tendo Hesse dito
que há gente que são folhas arrancadas, e outras que são tão perenes quanto os
planetas que rondam o sol, seguindo sempre sua órbita e rotação, sem que
qualquer evento as tire de sua rota, esta lição não me serviu.<o:p></o:p></span></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Sou como uma folha arrancada, mas também as folhas arrancadas
não têm raízes? O grande paradigma é que elas caem e se esvaem ao sabor dos
ventos e das brisas. No meu caso, de uma brisa atlântica. É a brisa atlântica
que agora faz meu rumo, e me dá medo que me leve à África, de tão solta que
estou.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Não obstante, fazem-me falta aquelas tardes quentes, de calor
tão lânguido que chegava a arrefecer o coração. Mamãe dizia que devíamos sair
alinhados, mesmo que o linho nos aquecesse mais do que outras vestimentas leves
e mais apropriadas para o semiárido. Sair em linho era sair arrumado, e era
deste modo que nos vestiam para os crepúsculos, na praça do Cristo. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Afeiçoei-me às praças, como me afeiçoei a Charles de
Gaule em Antibes, e quis encher Sousa de chafarizes, na esperança ingênua de
transformá-la em uma cidade mais úmida. Os arfantes e pueris desejos de uma
adolescente que, embora num país distante, sentia falta mesmo era de seu amplo
terraço de piso vermelho numa casa chamada Casa Grande. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">Quando eu ainda era bem pequena, naqueles
tempos amorfos, onde tudo que podemos lembrar não são senão sensações e imagens
retalhadas, poucas memórias me vêm tão vivas quanto os finais de tarde de calor
abafado na praça do Cristo em Sousa.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">
Como disse, tenho muito apreço por praças. Nos meus primeiros anos, tudo quanto eu fazia era me
alinhar para, junto com meu irmão Lafa, sairmos às praças, subir as escadas do
coreto na Matriz, admirar a estátua de vovô José e a árvore plantada por Lella
e Zé Neto no Bom Jesus, sentar nos bancos da André Gadelha até a noite cair,
e esperar, ansiosamente, pelos pasteis quentinhos das querubinas, que sairiam,
pontualmente, às seis da tarde.<o:p></o:p></span></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">Na BomBolado, meu desejo era
sempre o de uma recheada banana Split, mas nunca podia - apenas uma bola de
morango: você não consegue comer sorvete tão grande, diziam-me. E fiquei com sonhos
de banana Split até hoje, como se não pudesse nunca me deliciar com as
sobremesas dos cartazes.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um dia, fui agraciada com esse direito, e, com
grande desapontamento, na tenra idade de quatro anos, vi que os cartazes nos
dizem mais mentiras que os homens que nos beijam com olhares apaixonados, mas
cheios de sentimentos vis. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">Morei em Sousa até a idade de
cinco. Mas minha festa da padroeira continua sendo a Festa de Setembro. Fui à Festa
das Neves em alguns cincos de agosto, aqui em João Pessoa, e acho que em nada
se parece com uma verdadeira quermesse. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">Roda gigante só tem sentido se eu
puder ficar frente a frente, com a torre da Matriz. Fitamo-nos sempre com tanta
cumplicidade, como velhas amigas, que até quando ela caiu, eu senti que ainda
estava lá, porque é assim que acontece com aqueles com quem dividimos nossas
vidas: longe dos olhos, mas sempre perto do coração. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">Viajei para Sousa tantas vezes
que, no fim das contas, sinto que a minha casa é a BR 230 ou, melhor, a rodovia
Antônio Mariz. E, indo para a cidade Sorriso de carro, tão sozinha, nas sinuosas
curvas da estrada da viração, penso que estou sorrindo para quem pode olhar do
céu, já que o antigo governador que deu nome ao caminho, dizia que, quando em seus voos,
ou discursando do alto de um palanque, sob a luz das gambiarras que parecem acender
aplausos, pensava que Sousa lhe sorria. </span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">É um vale sorridente, pois sim. De
ruas largas, mas feitas de paralelepípedos. E o cheiro mais aprazível do mundo
inteiro é o dos paralelepípedos noturnos, molhados da chuva forte que cai por
sorte na semana santa, ou por destino, no mês de janeiro. E as gramas dos
jardins se enchem de sapos, e as pequenas meninas, pensarão como eu pensei um
dia, sempre em príncipes que um dia lhes namorarão naqueles gramados.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Do sertão fui retirante, mas não da seca. O bicudo que travou
os imensos campos de algodão e trouxe meus pais ao litoral. Uma usina
desfalecida, um apartamento pequeno no 777 da Edison Ramalho. E João Pessoa </span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;">descortinou-se
para mim como uma imensa metrópole, cheia de luzes que até então eu nunca tinha
visto.</span></span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">
<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">Minhas luzes eram os vagalumes que
perseguíamos no quintal da Casa Grande, e - perdoem-me o bucolismo de uma alma
saudosa - as das estrelas de tempos imemoriais, que eu via da rede do Terraço
de Piso Vermelho, enquanto minha mãe me balançava impaciente, porque nenhum
menear de rede, cantiga de ninar ou colo de quem nos ama tanto era capaz de me
fazer dormir. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">Eu só dormia com a voz de barítono
do meu avô e o teclado de vovó, entoando ao longe aquele <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“negue, o seu amor e o seu carinho...”</i>, ou com o saxofone de Tio
Nias, cheio de baladas de um jazz que nem ele próprio sabia decifrar. O Mal de
Alzheimer tomou o som destes preciosos homens, e me deixou insone até esses
tempos modernos, quando nem mesmo uma velha radiola consegue embalar meu sono. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">No lugar de vagalumes, passei a
caçar tatuís e caranguejos na praia de Camboinha. Os tatuís são bichinhos
fugidios que escorregam das nossas mãos, ao tempo em que as ondas se afastam da
areia. Já as conchas são seres mais mansos. Parecem ansiosas para servirem de
colares. E assim é que esfolávamos suas pontas, até fazerem um buraco na ponta,
para transpassarmos por ela um barbante e pendurarmos orgulhosos em nossos
pescoços, como verdadeiros catadores de conchas, de tão frustrados que estávamos
com os tatuís. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">Mas a grande frustração era a
ausência de praças, que nenhum sargaço, por mais suculento que se mostrasse,
poderia suprir. A praça do Bom Jesus, animada as seis da manhã pela música
sacra que fazia tocar padre Dagmar. E, quando ele morreu, achei que tinha
morrido todo o sentimento da Igreja, e nem mais me dava medo o Jesus Morto feito
de cera, preso num caixão nos fundos da sacristia.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">Eu acreditava de verdade que
aquele Jesus Morto era o próprio Jesus, e, por isso, a minha cidade era a mais
importante do mundo, porque conservava o corpo do Cristo incólume nos fundos de
uma paróquia de arquitetura dos anos 1970. Uma Igreja que antes se assemelhava
a uma repartição pública, e que depois me deu a compreensão de que o Jesus
Morto era o único finado que ali ficaria, já que meus pais foram velados
naquele altar e, muito cedo, antes do que eu queria e esperava, naquele dito
momento de louvor, levados para um cemitério próximo. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">Uma cidade cheia de espíritos
vivos, também. Embora a noite seja tranquila, do meu terraço de piso vermelho,
o vento que vem do Aracati me permite pensar que comungam junto comigo o
litoral e o sertão. Sinto em seu cheiro, mesmo que distante, os sinceros
desejos de Iemanjá. Ela diz ”venha comigo”, e eu peço, “deixe-me ficar”. Sento
as cadeiras de balanço na calçada, mais serena do que atormentada por essas
aparentes antinomias. Balanço-me como quem tem sono, bocejo como quem vou
dormir, mas a Aurora vem de assalto, como a princesa do conto que despertou
depois de cem anos, sem ter envelhecido nada, sequer. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">É assim a minha cidade. Que faz
mais um ano no Frei Damião, na Guanabara, na Várzea da Cruz, no Alto do
Cruzeiro e em tantos outros bairros onde presenciei comícios que sempre me aconchegaram com
a certeza singela de que não há luzes mais bonitas que as de vagalumes e
gambiarras mal dispostas. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">Um dia, amanheci cedo no Angelim,
em rondas de campanha, vigiando aqueles que compram votos. Vi o sol nascer de
longe, emergindo, como para iluminar o Cristo Morto, inerte, na Igreja do Bom
Jesus Eucarístico. Mas não era o Cristo morto o seu desígnio, mas antes o
Cristo erguido na praça dos meus alinhos. O Cristo alto, austero,
misericordioso, como deve ser. O Cristo do milagre da hóstia. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">Caminhei até lá intrigada. Vi
algumas velas se apagando com o amanhecer. Aqueles pedidos tão queridos. E, em
vez de pedir por mim, pedi por cada desejo aceso na noite anterior, em cada uma
daquelas velas. Vagalumes, estrelas, luzes de edifícios, não importa. São luzes
da cidade acesa que duram para muito além da alvorada. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">O 10 de julho me tomou de assalto,
atraiu lembranças, machucou o coração apertado de quem não pode beijar de perto o
aniversariante que tanto lhe deu amor. Vivo na capital, aprendo no Leão do
Norte, visito a Borborema com carinho. Mas ser do sertão é talvez a tola
esperança de nos acharmos tão fortes quanto uma cidade árida, submersa num vale que sorri. E isso sempre nos valeu. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;"></span></span> </div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Calibri;">M. <o:p></o:p></span></span></div>
Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-44624008569842225172013-06-23T09:05:00.000-07:002013-06-23T09:05:06.795-07:00Para meu tio Hellosman
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Quando minha tia Andrea casou com
meu tio Hellosman, ela certamente não sabia que, dentro de muitos anos, estaria
me dando um grande presente. Isso acontece com muita frequência, de as pessoas
que amamos trazerem para nós outras pessoas, para que amemos e sejamos amados.
Apesar de tio Hellosman ser extremamente sistemático, metódico e organizado, ou
seja, o oposto da minha personalidade, nós sempre nos demos muito bem. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Acho que, no fim das contas, é
bom ver e admirar no outro um pouco daquilo que a gente não tem.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eu o admiro bastante e, no melhor dos sentidos,
invejo sua capacidade de ser pontual e preciso em tudo que faz. Mas o que gosto
mais nele, é o fato de ele me compreender nas minhas mais profundas minúcias e,
ao passo em que eu contemplo seu grande aparelhamento para resolver dez mil
questões em claros e luzidios quinze minutos, acredito que ele aprecia minha
imensa leveza e estado de espírito, quase sempre de graça.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nunca poderíamos mudar de lugar e assumir um
as características do outro – nem em outra galáxia – mas é sempre bom, entre
uma garrafa de vinho e suas controladas quatro doses, sempre se mantendo
alegre, mas sóbrio, trocar ideias sobre os sabores e dissabores dos encontros
intensos que a vida proporciona. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Nestes jantares de família,
desenvolvemos uma brincadeira divertidíssima: escolher, cada um, qualquer lugar
do mundo para onde gostaríamos de ir naquele momento, e descrever como seria a
viagem. Eu me decidi pela Rússia, tia Andrea optou por Paris, minha prima Grace
preferiu Nova Iorque, meu irmão Lafa, ocasionando uma gargalhada geral, pensou
logo em Areia (mas eu mal conheço o brejo paraibano! – justificou – e não é tão
menos frio que esses lugares - complementou, aturdindo-nos). Meu tio
Hellosman,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>parcimonioso em suas sempre
tão bem escolhidas palavras, disse-nos que queria visitar Antibes, tal como eu
fizera, há cinco anos, pegar um trem para a pequena vila de Eze-sur-mer e
descer a ladeira da cidade em um Rolls Royce. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Como dito, embora eu muito duvide
que meu tio seja capaz de fazer isso, tal como eu fiz, ele é enlouquecido por
essa história. Sempre me pede para conta-la, principalmente na frente de
desconhecidos. Contei-a tanto, até introduzindo novos elementos, que, às vezes,
perco-me no que de fato aconteceu e no que fui criando para incrementar o
conto, já que, como sempre me pus em dúvida se o ocorrido foi assim tão
realmente fantástico quanto o crê meu tio, dá-me medo de não surpreender tanto
os novos ouvintes. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Última justificativa deste longo
prólogo, considerando-se o objeto da prosa, que será até mais curto: meu tio é
muito fã de meus escritos. Há alguns anos já vem pedindo para eu escrever sobre
o rolls royce descendo a ladeira de Eze-sur-mer. Por amor, então, eis o relato.
<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Aos dezessete anos, ganhei de
presente uma viagem de intercâmbio. Na agência de viagens, apresentaram-me um
sem número de opções nos Estados Unidos e Inglaterra, para que eu aprimorasse
meu inglês. No fim da lista, havia uma alternativa pouco levada em conta: a
Riviera francesa. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Meu francês era ainda raso, à
época, o que me levou a pensar que quatro meses na Côte d’Azur não fariam muita
diferença. Era melhor continuar na Aliança e, até atingir um nível mais
avançado, fazer esse passeio. No almoço de domingo costumeiro, meu tio deu o
voto de divergência: melhor a França. Nesses meses, você vai voltar falando
francês melhor do que Carla Bruni. Se não, o charme que sessenta dias em
Antibes vão lhe dar não valem o vocabulário em inglês desse escasso tempo. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Não titubeei mais. Comprei um
dicionário, alguns livros e a passagem de avião. Aportei no aeroporto de Nice
em um dia bastante chuvoso, mas, mesmo assim, pareceu-me o aeroporto mais lindo
do mundo. Um gentil alemão veio me buscar: era estudante do Centre
International d’Antibes e funcionário. Pagava o curso com esses pequenos
serviços. Falou-me que Nice era bem próxima de Antibes e que, depois, eu
poderia pegar um trem para conhecer melhor a cidade. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Cheguei à escola, onde, para
minha felicidade, depois de um pequeno teste, fui inserida em uma classe para
alunos de nível intermediário. Chegando à residência, outra grande alegria: meu
quarto tinha uma sacada de onde se avistava o mar azul turquesa e os aviões que
não paravam de nos sobrevoar, devido ao intenso fluxo de veraneio nas paragens.
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Esse terraço me rendeu algumas das
melhores noites da minha vida, regadas a vinho de três euros, imensas baguetes,
rodelas de tomate e vários vidros de azeite – motivo dos cinco quilos a mais no
retorno. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Além disso, a área comum contava
com um bar excepcional. Não que ele tivesse nada de outro mundo: sequer serviam
petiscos. Mas um chope gigantesco custava o módico preço de um euro e a música
era escolhida por nós. Sessões de gaitas escocesas, folclores alemães e muito
Bob Dylan faziam parte da trilha sonora. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">No calor lânguido da Riviera,
rodeada por uma diversidade de pessoas e histórias agradáveis, jantares às oito
da noite ainda admirando o por do sol, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>permissivos de longas esticadas nas praias,
bronzeando-me, comendo amendoins e lendo romances de Fitzgerald, transcorreram
quase quatro meses, para o meu pesar, bastante ligeiros. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Com vestidos soltos, claros e
leves de passeio, eu me sentia uma verdadeira artista, sentada em cafés e
fazendo anotações sobre os transeuntes, iniciando meu custoso vício pelo tabaco
(os cigarros oneraram em muito minha viagem) e por deliciosos sorvetes
italianos. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Havia os pequenos passeios para
as cidades próximas. Minhas amigas queriam visitar as mais famosas, como
Cannes, ou circular demoradamente e repetidas vezes por Nice. Tive que fazer
sozinha um roteiro, já antes escolhido, pelos pequenos vilarejos para pouco
antes da fronteira italiana. Um deles era a pequenina Eze-sur-mer. Ninguém se
interessou pela ideia. O lugar ficava no alto de uma encosta, tinha apenas uma
igreja antiga, ruas estreitas e a vista mais bonita de toda a Costa, na minha
opinião. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Tomei um trem que chegava até um
ponto onde se pegava um ônibus. Esperei cerca de uma hora na parada, ao lado de
dezenas de turistas ingleses velhinhos. Durante o caminho, numa ladeira
sinuosa, com mais curvas que o corpo da princesa de Mônaco, tranquei-me em
minha própria mente, absorta diante da paisagem estonteante. Claro, mas muito
claro, sobretudo para aqueles que me conhecem, que não prestei atenção em
nenhum dos avisos que o motorista deu quando nos deixou, dos quais só tomei ciência
várias horas depois: só havia um ônibus que saía da cidade, em apenas um
horário, pontualmente, às seis da tarde. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Fiquei deliciada: lá em cima, o
ar era mais frio, a vista mais bonita e eu estava, finalmente, sozinha – não aguentava
tagarelices por muito tempo, ainda que gostasse muito de estar na residência
com meus amigos. Acendi um Marlboro light e saí sem destino pelas ruas
inclinadas, estreitas e cheias de ladeiras. Vi a igreja velha, fiz algumas
orações, sentei no banquinho da praça na frente, embaixo de uma gigantesca
árvore de não sei o que, que me fez sombra até eu me cansar dos meus próprios
pensamentos. Desci para a cidade baixa, consultando restaurante por
restaurante, mas, como ainda eram cinco horas, nenhum estava aberto “ni même
pour un petit vers de vin”. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Chateada, é que me sentei num bar
que mais parecia um boteco da Lapa, pedi<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>uma cerveja, alguns amendoins e uns vários guardanapos, já que meu
caderno de notas estava completamente cheio. Pus-me a ensaiar rabiscos e a
escrever, sem contar quantos copos já havia entornado.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">A noite caiu, uma enorme lua
cheia e amarela parecia sair de dentro da encosta e eu não podia estar mais
saciada. Era o melhor cenário para uma pseudoartista, que, ante a ausência de
seriedade inerente aos 17 anos de todos nós, como bem ensinou Rimbaud, fazia-me
sentir a maior das artistas. Ali era um pedaço da minha vida que eu jamais
esqueceria, sobretudo quando estivesse recebendo o nobel da literatura. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">A sozinhez de uma moça charmosa,
embriagada e escrevente é um atrativo maravilhoso. De repente e não mais que de
repente, o resto não era o silêncio: minha mesa agora eram quatro, onde se
sentaram um casal de turistas americanos, um grupo de jovens , também pretensos
artistas <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>franceses, um sedutor italiano
de meia idade e uma senhorita alta, magra, desbocada e cheia de ideias
socialistas. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Era um filme de Woody Allen.
Desenhei e fui desenhada. Escrevemos poesias em conjunto, recitei alguns versos
de Vinícius e inventei folclores brasileiros: mas como vocês não sabiam que, no
Brasil, antes do Natal, é costume caçar coelhos e servi-los no lugar do peru?
Ninguém lhes contou que os índios ainda comem bispos portugueses,
surpreendendo-os quando das visitas nas arquidioceses locais? Bem, é um
resquício da catequização, sabem? <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">O dono do bar emprestou um violão
e, se alguém soubesse, a internacional socialista teria sido cantada. No lugar,
entoamos algumas canções dos Beatles e eu tentei, sem sucesso, puxar um coro de
Belchior. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">A noite caiu, a lua subiu mais
alta, o sono chegou de assalto. Os artistas franceses propuseram dar
continuidade à festa, mas, com o pouco de razão que ainda me assistia,
lembrei-me que, se voltasse depois de duas da manhã, talvez encontrasse a
residência fechada. Despreocupada, informei, para a tristeza de todos (longos
“ahs” e sinceros suspiros me foram dispensados), que precisava pegar o ônibus
de volta. E ainda havia a viagem de trem. Trocaram olhares furtivos, e logo fui
informada que só havia ônibus no dia seguinte. E para descer? “Ninguém desce
depois da meia noite, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">mademoiselle”. </i>Estava
sitiada. Mas eu <i style="mso-bidi-font-style: normal;">preciso </i>voltar.
Ofereceram-me a opção de pernoitar na casa de alguns deles, o que, também
assistida pelo fim de juízo que ainda tinha, rejeitei, educadamente. Um hotel,
haveria? Lotado. Taxi? O único taxista da cidade estava tão ébrio quanto eu. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Bem, pode-se sempre chamar o
Loic. Mas o tal de Loic parecia uma alternativa complicada. Loic servia de
chofer para turistas ricos, tinha um rolls royce antigo e não cobrava barato.
Mas, que fazer, era minha única saída, literalmente. Eu voltaria para o Brasil
dentro de poucos dias e, como havia economizado meu dinheiro, gastando-o,
basicamente, com álcool e cigarros, podia me dar ao luxo de descer a ladeira em
um rolls royce. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Assim, ligaram para Loic, que
chegou em seu belíssimo automóvel, fardado, como deve ser, já abrindo a porta
para mim como se eu fosse descendente da casa de Orleans e Bragança. Despedi-me
de todos alegremente, com cumprimentos de realeza, cheia de endereços na mochila,
com promessas de cartões postais jamais cumpridas. Entrei no rolls royce no
estilo de uma grande dama, imaginando se Grace Kelly já teria vivenciado
instante tão sublime. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Loic era reservado, mas eu ainda
estava falante. Abri os vidros do carro e sentei-me na janela como costumo
fazer nas carreatas em Sousa. Fui, instantaneamente, proibida, pela
suntuosidade do carro e sinuosidade da ladeira. Mas é claro que a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">mademoiselle </i>não queria se acidentar,
correto? Dizendo isso, meu chofer abriu o teto solar, e,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>no segundo subsequente, minha silhueta
emergiu do capô, de braços abertos para abraçar, ao mesmo tempo, o mar
espelhado, a lua enorme e amarela e os invariáveis aviões que traziam novos e
brilhantes espíritos para iluminar a Riviera. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">M. <o:p></o:p></span></div>
Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-55742249563352501722013-02-12T14:52:00.000-08:002013-02-12T14:52:22.369-08:00Do TDAH <br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Do TDAH<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Hoje eu acordei bastante preocupada com minha capacidade
concentração. Há muito não sentia isso. Desde a época do colégio, devo dizer.
Durante a faculdade, por eu ter me apaixonado, perdidamente e logo no primeiro
ano, por Miguel Reale tanto quanto sempre fui por Tolstoi ou Marília Arnaud,
não tive as dificuldades que sofri enquanto estava, sobretudo, no ensino médio.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Quase mato meus pais de preocupação. Eles não conseguiam
compreender como alguém que lia tanto, literatura já avançada para minha idade,
que passava os domingos trancada no quarto, rodeada pela Folha de São Paulo e
contos de Córtazar, pudesse ter alcançado a façanha de ter ficado em recuperação
em todas as matérias, à exceção de história. “Ué, mas você não lê tanto?” –
minha mãe perguntava, com um misto de sarcasmo e repreensão – “Não é tão boa em línguas?”. Isso
porque, à época, eu já falava inglês e francês em certo avanço. Sim, eu havia
ficado em recuperação em português e inglês, mesmo sendo boa em línguas. Eu
conseguia escrever e falar, mas como <i>explicar</i>
orações subordinadas e expressões adverbiais? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não
me orgulho disso. Como também não me orgulho de ter passado no segundo ano
científico pelo temido conselho de classe, porque os professores tiveram um
pouco de misericórdia e talvez um pouco de bom senso (a frustração de uma
reprovação para uma adolescente talvez seja pior do que o desconhecimento total
da trigonometria e geometria espacial). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Meu
primeiro ano do ensino médio, em especial, é que foi, de fato, o período de
crise mais grave: tinha insônias torturantes, chegava a ficar três ou quatro
dias sem dormir. Levaram-me para passar um mês em Sousa, a título de castigo.
Resultado é que eu saía de casa na surdina, fazia rondas à pé pela cidade,
jogava baralho com alguns vigias e iniciei meu caminho na sinuca e na cerveja.
A noite é perigosa para quem tem só catorze anos, e mais perigosa ainda para
quem tem catorze e acha que tem cinquenta<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Foi
nesse tempo também que comecei a tomar café como quem toma água: apesar de sentir
sono durante o dia, não conseguia mesmo dormir. Então me enchia de café para
viver o dia como um zumbi. Tinha um amigo especial, Seu Rubismar, que tinha uma
loja de CDs. Ficava lá das duas da tarde até à noitinha, ele me mostrando os
sons da década de 50, 60, até as novidades dos dias atuais, ele, o primeiro
pirateador de cinquenta anos da Paraíba, no meu sentir. Em 2003, 2004, já
baixava tudo pela internet. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Um
dia, Seu Rubismar encontrou papai e contou-lhe de nossa amizade. Meu pai ficou
feliz e surpreso. Disse-lhe que eu era muito inquieta. Seu Rubismar tomou
aquilo com espanto: inquieta? Ela passa a tarde inteira sentada, tomando café e
ouvindo música. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Daí
surgiu, mais uma vez, a ideia de que meu problema não era de concentração ou
inquietude, mas pura preguiça. Mamãe voltou a me ralhar: você vai ficar igual
aos Pordeus, lendo, ouvindo música e tomando café sem parar. Os Pordeus são a
família do meu avô, do pai da minha mãe, que têm uma veia artística muito
desejada por mim, não inscrita nos meus genes, infelizmente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O
grande paradigma a ser enfrentado era como eu conseguia me concentrar tanto em
algumas atividades, até demais, ao ponto de conseguir terminar um longo romance
em um final de semana, aprender francês em um ano, ao passo em que era incapaz
de passar quinze minutos resolvendo questões de física, matemática ou até mesmo
– pasmem - estudando geografia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Para
mamãe, como disse, era simplesmente preguiça e capricho. Eu só fazia o que
tinha vontade e ponto final. Papai era um pouco mais compreensivo, porque
achava que eu não podia ser um fracasso total na vida já que conseguia pelo
menos <i>ler. </i>Falava, por vezes,
brincando, quando mamãe explodia comigo: ela pode ser crítica literária, né? Ou
de cinema! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Nada
disso era bom para mim. Apesar de muita gente me admirar e me achar bacana, eu
sofria muito por não ter um desempenho no mínimo regular no colégio. Por não
ter ideia de como passaria em um vestibular, faria faculdade, por não saber em
que profissão me encaixaria. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Fora
a concentração, havia outros problemas. Desorganização extrema (não adiantava
arrumar o quarto pela manhã, à noite ele já estaria, novamente, um caos),
paixão por aventuras (pegar carona com desconhecidos, inclusive em países
estrangeiros, como bem me lembrou minha prima Carol, recentemente, alugar
teatros fingindo ser uma adulta, pedir motos emprestadas e sair desembestada
pela cidade), total inépcia para a pontualidade, sobretudo em razão dos meus
horários pouco convencionais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Assim,
eu carreguei durante minha adolescência inteira um sentimento de insuficiência
e incompetência extremos, que me conduziram a uma baixa autoestima, e à
sensação suprema de incapacidade. Não raro, ficava apática e muito, muito
melancólica. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Um
dia, estávamos numa livraria, eu e mamãe e vimos um livro chamado “Mentes
Inquietas”, da mesma autora de “Mentes Perigosas”, que fez sucesso
recentemente, Ana Beatriz Barbosa. Acho que o livro acabara de ser lançado.
Mamãe nem leu a sinopse no verso. Pronto, é isso aqui que você é, uma mente
inquieta, ela sentenciou. Eu li o livro primeiro, de assalto. Caladinha, mandei
que ela lesse. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Descobrimos
que existia uma <i>doença, </i>sim, <i>doença, </i>chamada Transtorno do Déficit de
Atenção com Hiperatividade, e que, pior, eu me encaixava perfeitamente na
descrição dos “sintomas” da doença. Naquele tempo, o termo mais usado era DDA –
Distúrbio do Déficit de Atenção, sendo a hiperatividade um aspecto da doença,
sendo esse aspecto o que menos me aproveitava. Eu não era de um todo serelepe,
traquina, de subir em árvores. Mas roubava motos, carros (aprendi a dirigir aos
doze anos) e não conseguia dormir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não
foi a solução de todos os problemas, não. Ao contrário. A preguiça tinha
conserto, correto? Mas e uma doença? Um transtorno mental? Acho que mamãe se
aperreou mais ainda, para ser sincera, porque continuou dizendo que eu tinha
mesmo era síndrome de Macunaíma. Foi minha irmã mais velha, que já era médica
residente, que pensou que aquilo tudo podia ter algum sentido, sim, e convenceu
meus pais a me levarem a um psiquiatra no Recife. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Para
uma adolescente já cheia de conflitos, a ideia de precisar ir a um psiquiatra
não foi das mais confortáveis. Além de incapaz e inapta, senti-me muitíssimo
frágil. Na primeira consulta, o médico disse sem rodeios que eu tinha, sim, o
tal Distúrbio de Atenção. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mamãe
não se conformou. Queria uma tomografia ou algo similar que provasse isso.
Insistiu na teoria da preguiça. Disse da minha paixão por literatura, música e
cinema. O médico, gentilmente, perguntou-lhe mais uma vez se ela tinha lido o
livro que havia nos levado ali, e se ela se recordava de um tópico que falava
do hiperfoco. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ela
continuava relatando como eu passava quatro ou cinco horas lendo, “só lendo,
doutor! Vê três ou quatro filmes em sequência! Como essa menina tem problema de
atenção?”. Pois bem. O doutor informou que preferia não chamar exatamente de um
problema de atenção, mas de um desvio. Que minha atenção era extremamente, mas
de uma forma muito extrema mesmo, direcionada para os assuntos pelos quais eu
sentia mais interesse. Que o fato de eu ser espacialmente desorganizada se dava
também por eu devanear demais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Claro
que mamãe não engoliu essa conversa. Até eu, até hoje, e depois vou explicar
melhor, fico um tanto quanto reticente em relação a essa tese. No dia mesmo
fiquei. Porque, ora, se eu só conseguia atentar para o que gostava é porque
tinha preguiça do resto das coisas e fazia tão somente o que desejava. Ou seja,
caprichosa e preguiçosa, mesmo. Mas, segundo o psiquiatra, não era uma escolha
minha. As pessoas “normais” conseguiam direcionar a atenção, os <i>portadores </i>(e imaginem que susto é ouvir
essa palavra) de TDAH simplesmente não conseguem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas
havia um remédio, sim, e não era só o café – pois não é que até meu vício pela
cafeína restou explicado? Era uma droga chamada Ritalina, e eu tinha que
começar a tomá-la imediatamente. No mesmo dia compramos, no dia seguinte
comecei a tomar. Os efeitos foram devastadores, para mim. Perdi alguns quilos e
consegui me focar em quase tudo e, uma novidade, em biologia, porque fiquei
admirada com aquilo que o doutor explicou serem os responsáveis pelo meu mal:
os neurotransmissores. Não eles em si, mas a deficiência de um em específico, a
dopamina. Até hoje não sei como funciona, mas, ao que parece, a ritalina regula
os níveis de dopamina no cérebro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Para
o espanto e maravilha de todos, tirei vários dez em biologia e até um em
matemática, seguidos de um nove em física. Por outro lado, fiquei muito calada
e abatida. Hoje não sei realmente se foi a ritalina que me deixou assim. Talvez
a ideia de ter uma doença, de precisar de um remédio, de ser tão jovem e me
perturbar tanto tenham sido fatores mais fortes para gerar em mim um aspecto
sorumbático, ao ponto de o professor de física dizer que gostava mais de mim
quando eu tirava cinco e conversava mais. Entretanto, no auge dos meus
complicados catorze anos, a explicação mais plausível é de que tinha sido a
droga, sim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Então,
tomei uma decisão bastante séria: parei de tomar a ritalina sem dizer a
ninguém. Meus pais continuaram comprando o medicamento por mais uns dois anos,
sem sequer saber que eu só o tomei por alguns meses, oito ou nove no máximo. Às
vezes eu fazia a revenda para uns CDFs que queriam se concentrar ainda mais.
Outras vezes só jogava no lixo, mesmo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Aos
dezessete anos, agarrei-me à tese de mamãe: eu era preguiçosa e tinha que
corrigir isso. Não precisava de um medicamento. Pensei que essa história de
TDAH era balela para alimentar a indústria farmacêutica. Veio a faculdade e,
como disse, meu hiperfoco foi bem vantajoso, já que podia estudar por horas a
fio Direito Constitucional e Processual Civil. Não tive a mesma sorte com o
Direito das Coisas. Até hoje tenho sequelas de tanto repassar páginas falando
sobre o direito de sequela. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
maturidade diminuiu alguns arroubos. E assim fui me ajustando. Outro dia, li um
tuíte de Ana Beatriz Barbosa, que também tem TDAH, dizendo: “perguntaram-me se
eu tive TDAH. Eu não tive, eu tenho. Só aprendi a viver com ele”. Pesquisei
sobre TDAH na vida adulta e aí vi que continuo me encaixando direitinho na
descrição dos portadores. Não quero dissertar sobre isso, já adentrei demais na
minha vida pessoal. Entretanto, li um interessante dado: apenas um percentual
de 30 a 50% das crianças com TDAH continuam a sofrer do mal na vida adulta.
Desconfio muito disso. Como disse Ana Beatriz, a gente aprende a viver com a
desatenção, com a desorganização e vai ajustando nossa vida para que esses
aspectos não nos prejudiquem tanto. Alguns conseguem fazer com um grau menor de
maestria e, por isso, são inseridos no percentual acima mencionado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Então,
se esse ajuste é possível, a doença existe? Bem, hoje, como mamãe, eu queria
muito que uma tomografia me provasse. Não sei se os Pet-scans fazem isso, mas,
enfim, parece que ainda temos que confiar na subjetividade psiquiátrica que, cá
para nós, não é das mais confiáveis, e não sinto vergonha em dizer que falo por
experiência própria. Claro que mamãe não me levou só em um psiquiatra. E,
depois, mais tarde, quando ela já tinha falecido, visitei alguns, mais por
tristeza do que por desatenção. Encontrei muitos irresponsáveis e recebi
diagnósticos bastante confusos. Por isso, prefiro resolver meus dilemas com a
psicanálise, que é subjetiva, mas não inventa de medicar e, pelo menos não na
minha vivência, também não rotula. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Já
com 21 anos, descobri que um dos papas do TDAH no Brasil, o Dr. Salomão
Schuartzman, estava em João Pessoa, para uma conferência sobre autismo
organizada pela minha tia. Depois de muita persistência, consegui uma consulta
com ele (até porque também queria um autógrafo do seu livro, que tinha desde os
catorze anos). É um senhor muito sereno, que me ouviu atentamente e confirmou,
sim, o meu diagnóstico de déficit de atenção. Eu posso não tomar a ritalina?, perguntei.
Era o meu maior medo, dada a malfadada experimentação adolescente. Pode, ele me
respondeu tranquilo. Só vai ser mais difícil, mas também acho que você já sabe
como é. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não
sou contra fármacos para a mente. Acho que falta de dopamina é o mesmo que falta
insulina, e não podemos nos furtar a toma-la. Todavia, como os efeitos da
ausência da substância são diversos numa e noutra enfermidade, <i>ainda </i>posso me dar ao luxo de arriscar
os meus métodos e minha capacidade de transformação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Passei
muito tempo achando que o cérebro era algo estanque, que éramos determinados
pelo oráculo genético de Steven Pinker, sem alternativas. Hoje, penso que,
embora dentro desse oráculo genético, há algumas opções. Pode ser pueril. Minha
irmã mais velha ainda insiste para que eu tome a ritalina, mas minha
resistência a ela foi profunda, porque afetou um lado da minha personalidade do
qual eu sempre gostei muito: minha espontaneidade, extroversão. E perder isso
novamente, ainda que por alguns meses, não me é compensado por conseguir ler
algumas páginas a mais. Pelo menos por enquanto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Algo,
todavia, há de ser advertido, para pais e adolescentes: o TDAH existe, não é
uma invenção da indústria farmacêutica, nem uma desculpa para não estudar. Mas
vejo uma profusão do TDAH sem limites. Observo que alguns pais parecem querer
se furtar da responsabilidade de compreender porque seus filhos não estão bem
na escola, e aí empurram ritalina ou concerta (que já foi, inclusive, taxado de
a droga da obediência) goela abaixo. Não é uma simples desatenção que
caracteriza o transtorno, e a irresponsabilidade de alguns pais e médicos ao
aceitar e fazer o diagnóstico de forma precoce, respectivamente, pode ser
extremamente maléfica para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Já
outros pais, como os meus, por exemplo, podem ter uma atitude relutante no que
tange à aceitação do diagnóstico, e isso também pode ser prejudicial. Vale
lembrar que não é só a droga e, principalmente, ela, isoladamente, que ajuda a
combater os efeitos do transtorno. A terapia é uma excelente medida, no meu
caso, em particular, a melhor. Essa relutância pode acarretar, como acarretou
para mim, em baixa autoestima, sensação de angústia e impotência. Até hoje,
sinto minha confiança assaz abalada, principalmente no campo profissional. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Na
faculdade, um professor veio me contar que seu filho de oito anos tinha sido
diagnosticado com TDAH, sendo a hiperatividade o aspecto mais forte da doença
nele. Disse-me que não iria fazer nada, porque não queria mudar a personalidade
do filho. Apesar do baixo rendimento escolar, achava-o perspicaz e inteligente.
Essa visão é interessante, mas também pode ser maléfica. A droga pode até ser
descartada, mas o alarme do diagnóstico não pode ser sumariamente rejeitado.
Muitas vezes, só a consciência do problema é suficiente para que se façam
arranjos no cotidiano da pessoa e, assim, ajustá-la para o justo cumprimento
das suas responsabilidades. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Só
quem tem TDAH de verdade e sofre com isso sabe que não é um alento ouvir que
TDAH é o mal dos gênios. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Conheço
adultos mais velhos que eu que até hoje têm sérios problemas profissionais,
pessoas com alto grau de inteligência, mas que não conseguem utilizá-la, não
raro por problemas sérios de confiança, por terem sido taxados de preguiçosos e
burros na infância. Comentários desta ordem podem não vir dos pais, como no
caso do meu professor, mas de professores e colegas de classe. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tive
que fazer muitos e muitos ajustes na minha vida e ainda sofro com os problemas
advindos do TDAH. Tenho insônias recorrentes e embora não deixe de cumprir
prazos, muito frequentemente deixo as atividades para o último momento, mas
tento me disciplinar. Meu cuidado é redobrado. Um esforço diário. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Se
TDAH é simplesmente jeito de ser, modelo de personalidade, a cada dia eu
acredito mais que não. Entretanto, se um modelo de personalidade contém
aspectos que prejudicam de forma maior no nosso cotidiano, é imperioso seja
feito um controle diuturno, aplicando-se doses diárias de ordem e obediência em
nós mesmos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sei
que muita gente acha besteira isso de transtorno mental. Tudo o que posso dizer
é através de minha vivência, o que aprendi com o meu próprio sofrimento. E é um
grande sofrimento não ter controle sobre si mesmo, ainda mais em um mundo tão
cheio de <i>overachievers. </i>Invejo essa
gente de disciplina militar, que acorda cedo, corre na praia, estuda, é bem
sucedida e bronzeada sem risco de câncer de pele. Eu esqueço constantemente o
filtro solar, até quando vou à praia (ainda bem que vou pouco) nesta era em que
“use filtro solar” virou bordão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ainda
passo por poucas e boas, porque, quando não consigo me concentrar, saio do Alto
Branco e vou bater em Massaranduba. Porque tenho medo de fazer provas,
arrisco-me pouco onde devo me arriscar e, às vezes, passo dos limites onde os
limites devem ser bem estritos. Mas ainda há espaço para essa gente cinéfila, que, mesmo não tendo dom para overachiever, consegue redescobrir toda a alegria e esperança do mundo num longa-metragem
de Claude Lelouch. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-60034902631987176132013-01-04T11:39:00.000-08:002013-01-04T11:39:23.628-08:00Mais uma de amor ;))))<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Lafa, para mim, você sempre será o meu irmão mais novo, o caçula (porque Lilice demorou um tempo pra chegar, né?). Hoje vejo em você um homem feito, não só ciente das responsabilidades que tem, mas comprometido com elas. Devo lhe dizer que há muito tempo eu não era tão feliz. Ver você realizado e apaixonado pela vida me dá uma satisfação infinita. Às vezes me ocorre um medo egoísta de lhe perder p</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">ara o mundo porque, em que pese eu lhe ter como 'meu irmãozinho', eu sempre fui muito mais imatura, dengosa, cheia de caprichos infantis. E você, mesmo sabendo disso, nunca fez questão de me encher de mimos, tantas vezes tão desnecessários. Das coisas do além eu sei pouco e duvido muito. Só que, não raro, eu sinto que nossa conexão ultrapassa os limites da relação de sangue que o destino nos impôs. Se eu lhe conhecesse hoje e agora, seria, inexoravelmente, uma fiel discípula e me faria de pronto sua melhor amiga. Você é o melhor amigo que alguém pode ter. Sua disciplina me irrita um pouco e eu chego a lhe achar enjoado, como acredito que você também se impacienta com minha imprevisibilidade e toda a labilidade emocional. No fim das contas, eu desejo imensamente a sua resolutividade e decisão, porque minhas certezas se esvaem em uma dose de uísque, enquanto você resta calmo, sereno e tranquilo, como naquela música, uma das primeiras que você aprendeu a tocar no violão. Minhas melhores lembranças são com você. As piores também, mas se você não existisse, elas ficariam menos leves. Como você faz graça eu nunca me canso. Como você continua crescendo, eu não me espanto. Como você ama as pessoas, também não me assusta - essa sua empatia natural com todos os seres humanos só desperta em mim a vontade de ser uma pessoa melhor. Lafa, você é uma pessoa inspiradora. Desde menino tão comportado, estudioso, meticuloso que só parece meu irmão ao som de Beatles, Belchior e Los Hermanos. Ou quando para e olha trocado, sem me deixar saber o que você vê, mas discute comigo tudo o que está além da nossa compreensão. Mas é incrível como quase sempre nos damos por satisfeitos com a ausência de resposta e aí, nesse caso, o conformismo não parece uma coisa tão ruim assim. Nós dois sabemos como esses últimos anos foram difíceis e cruéis. Amadurecer no carbureto e virar adulto da noite pro dia foi bem complicado, mas isso nunca nos tirou a alegria de viver, nem de acreditar que dias melhores viriam. E, de fato, vieram. Ainda me assusta a possibilidade de a tristeza retornar, e esse medo, por vezes, é pior que a própria tristeza. Você bem entende como é ter a sensação de que, a qualquer momento, um evento inesperado nos tome novamente de assalto e encha nossos corações de pesar. Mas, como papai dizia, a vida é sempre lançada à queima roupa e a lição mais preciosa disso tudo é que os leões que temos que engolir a cada dia parecem menos ferozes. Você é meu companheiro de batalhas e até hoje não conheci melhor guerreiro. Tão corajoso, Lafa, tão valente você é. Não cabe em mim o orgulho que sinto dos seus tantos predicados. Só posso repetir Che, bater no peito dizendo que endurecemos e não perdemos nunca a ternura. Que o bom do nosso cotidiano são as brincadeiras que não deixamos de fazer, as piadas, não raro as mesmas (ou do mesmo tom de humor- o nosso!), mas sempre tão engraçada, a leveza. Sinto sua falta todos os dias, mais por isso do que por você ser meu grande herói. Amanhã você começa, oficialmente, a dar contornos concretos àquele plano que fizemos lá no Leblon. Sei que você vai fazer tudo certo, que seus ideais manter-se-ão incólumes e que a revolução virá de passo em passo. Queria muito que papai e mamãe estivessem aqui. Fico imaginando o que ele estaria lhe dizendo, como mamãe estaria contente escolhendo seu paletó. Como eles ririam, embriagados de satisfação, toda vez que lembrassem dos seus 2833 votos. Como eles repetiriam, incessantemente, que não vale o poder apenas pelo poder, que quem não vive pra servir, não serve pra viver. Mas você guardou bem, sei que sua memória não falha. Só para garantir, repita na sua mente mais algumas vezes. Que neste ano nós consigamos ter disciplina para cumprir a dieta dos pontos, que seu violão não descanse nunca, assim como nossa vontade de ajudar a quem mais precisa. Que a sensibilidade não falte nunca, mas que a razão também seja amiga (sobretudo minha), que possamos dar mais atenção aos livros e amigos, e não esquecer nunca de dizer o quanto nos amamos e o quanto somos importantes uns para os outros. Eu amo muito você, Lafa. Um beijo imenso e o abraço mais apertado da sua Naná.</span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><br /></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><br /></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">M. </span>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-58898535468343393242012-06-05T00:42:00.001-07:002012-06-08T11:52:11.257-07:00SisosSisos. <br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Coincidu com o despontar dos meus terceiros molares. Era uma dor causticante, fazia sangrar e eu cheguei a ficar com pena dos bebês, ainda que não me lembre como é ser bebê e ter todos os dentes rasgando a gengiva de uma vez só. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Achei que, enfim, cresceria e que com meus sisos viriam o tão esperado siso de mente, mas não. A sangria desatada na boca me deixou em estado de folia, a dor de cabeça, a inflamação e até um pouco de febre me fez desejar doses cavalares de uísque ou duas garrafas de vinho por noite, sem falar no rivotril, o paraíso artificial mais procurado nos tempos modernos, o ópio do século XXI.<br />
<br />
Mas qual o que, não sou deste século. Nasci no 7 de novembro de 1989, para ver um mundo sem muros. No dia 10 do mesmo mês, do mesmo ano, casava-se em Paris meu amigo Jean, para quem a queda do muro resultou na ideia de que a liberdade caminha para onde quer que encontremos sossego. No seu pai, milionário e cocainômano, não viu senão aprisionamento. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Do álcool, veio uma sensação arcaica de precisar fazer uma cirurgia embriagada por falta de morfina, ou pela insuficiência desta. Pensei em grito: anestésicos, onde estão? Mas só um copo - baixo e sem gelo - de old parr, para suprir a alucinação. Nunca tive muitas dores - de corpo - e as da alma aprendi a estancar com estes mesmos instrumentos: destilados e fermentados, como se queira. Uma cerveja, uma sinuca, um tabuleiro de xadrez para trazer a entropia fervorosamente suplicada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Café quente eu não podia, mas engolia, pelo bem da minha silhueta, que se avantajava dia a dia em razão do carbicídio que me ocorria vez por mês, antes da menstruação. E eu não estava ficando mais jovem, não, tampouco meu metabolismo. Só o elixir preto combatido pelos mórmons me fazia sentir mais tranquila depois de uma fatia de pudim de leite. No mais, o medo de Mitt Romney também aumentava bastante a ingestão: se aqui embaixo eu nada podia fazer por Obama, só me restava a revolução individual. A cada gole, pensava eu, uma mensagem de ódio enviada ao republicano.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Em 2012 - creiam -ainda há muitos e muitos muros. Dia 31 do mês de maio foi o dia da luta contra o tabaco, e eu pensei: preciso ir à Paris, antes que aqui ninguém mais me compreenda. O direito de fumar ficou em technicolor, mesmo Carry tendo fumado durante quase toda a década de 90. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Eu estava me formando e nada parecia mais impreciso. A escola do direito livre, o Estado Social, a capacidade contributiva e a pirâmide kelseniana não me proviam senão arroubos de indecisão. E os sisos em disparate, duelando com meu espírito conturbado. Mais um cigarro, dois momentos de solidão. O jornalista bêbado, eu seria? Um caso de amor. Tamborilando. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
E o livro. Há quatro anos eu escrevia um livro, cinco frases por mês, e o pensamento cambaleante em cinco, seis línguas. Sem conseguir escrever e mentalmente privada de cigarro, fumava um atrás do outro para atropelar ainda mais o raciocínio. A cada tragada, um sentir de veia entupindo, de sangue engrossando, de falta de ar. Esse devaneio simplista de o trago tragando a vida, e eu não me importando. Que longe esse futuro de asfixia, não? Mas as semanas do ano passado passaram tão rapidamente que, de repente, eu fiquei com saudade dos dias mais sem graça. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
É que a tragédia do presente é que o nome precisa do aposto 'de grego', senão nem faz sentido. Somos soldados da tragicômica filosofia da esperança de que os anos mais lindos são os que ainda não vivemos e, no entanto, quando eles vêm, só trazem mais pânico e lucidez. E o preço da lucidez, sussurram-me os tempos idos, é a angústia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Estes sisos terminaram com minha ansiedade pelo porvir e me deixaram nauseada com o aqui e o agora. Trêmula e insone, mais uma vez. A insônia é tanto aquilo que criou Tyler Durden que me levou, às 3 da manhã, a um chat americano de deficientes físicos. Por óbvio, tive de inventar o meu drama: uma jovem de 20 anos sem as duas pernas, perdidas junto com toda a família em um acidente de carro. Larguei o namorado por não me sentir suficiente para ele, ainda que me queira muito, o rapaz. Mas tenho feito grandes avanços, recentemente: entrei para a faculdade de psicologia. Só ando com medo de que meus pacientes tenham mais pena do que confiança em mim, entendem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
E com novos dentes, novas vidas. Mastigo pior. Tinha que arrancá-los, será? Devo comer menos. O mundo é magro e esguio, no primeiro e terceiro mundo. Destoada estou porque vivo em país em desenvolvimento. Dá pena esse lugar comum. As largas ancas e o cabelo loiro. Um pueril esforço para me quedar bonita. O meio. Um tropeço, pernas roxas. Jamais as pernas de uma dama. Mas em outro lugar nem pernas mais eu tenho, de forma que meio que tanto faz. Mas quando eu tinha pernas elas eram bem arroxeadas, sabe? Nenhum problema de sangue, não, é que eu andava feito bêbada. Caía tanto que me chamavam madura, mas era só a imaturidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Sim, meus sisos cresciam. Um muro na minha boca que nasceu para não ter muro nenhum. Dizem que, com o tempo, esses dentes serão um resquício, como o apêndice. Nem crescerão mais, dada a sua ausência de função. Hoje, serve para me entortar a língua. Meu pesar físico era uma desculpa para o meu silêncio? Sim, eu justificava minhas longas ausências com este mal. Preste atenção! Mas me doem tanto os sisos... E um rosto agonizante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
É um momento particular pelo qual todos já passaram ou irão passar. A maioria das pessoas que não morrerão antes dos 20. Lembram daquele poeta que gostava de uma lavadeira que morava do outro lado da rua, caiu do cavalo e morreu virgem? Eu sempre me pergutei se ele tinha sisos. </div>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-84406657624764680502012-02-14T12:16:00.002-08:002012-02-14T12:16:31.395-08:00O sertão é lugar de revolução<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px;">Ontem, fiz minha matrícula na UFCG Campus Sousa, no curso de Direito, de modo que a partir do dia 27 de Fevereiro realizo um sonho de morar em Sousa como universitário, cidadão sousense e ativista político.</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px;"><br /></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px;">É exatamente sobre a matéria do debate político que precisamos refletir. Não há mais tantos espaços para as fofocas dos pré candidatos e as especulações e sondagens das uniões ou desuniões pol</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;">íticas. O alinhamento político precisa ser uma questão de ideologia e não de conveniência, de convergência nas plataformas e não nas benesses esperadas.<br />Morar em Sousa me dá a oportunidade de contribuir para a união da classe política da nossa cidade em torno da discussão e da luta maciça e integral de todos nós pelos grandes temas que a cidade precisa abordar e dos grandes projetos e sonhos que a cidade precisa realizar, até se tornar uma cidade com as potencialidades naturais devidamente utilizadas para a riqueza e prosperidade do nosso povo e, principalmente, um local mais feliz para os filhos dos que aqui estão.<br />Tenho a vontade de tornar esse debate ainda mais periférico e levá-lo a todas as comunidades e a setores importantes da sociedade, a fim democratizá-lo cada vez mais. As pessoas querem extrair resultados da política e não tão somente palavras, atenção, sorrisos e eloquência.<br />No entanto ainda é estranho e dúbio o sentimento de me mudar: estarei fisicamente separado durante boa parte do mês das pessoas que mais amo na minha vida, as minhas irmãs, algo que me deixa angustiado e com o coração apertado por saber que não deixarei mais Lilice na escola e, pasmem, não dividirei com Myriam a constante e árdua missão de pagar as contas. Isso me dá uma saudade precoce, antes que as coisas aconteçam e o tempo dê cumprimento aos fatos. Choro e não tenho vergonha disso.<br />Eu sei dos sacrifícios das missões e, sinceramente, das renúncias que fazemos pelos sonhos. Lutarei sempre pela união da classe política, a ponto de não me constranger com um aperto de mão a um adversário pelo bem de Sousa. E luto por mais ética, zelo com máquina administrativa e espírito público enraizado nos políticos, por isso também não me sentirei constrangido ao firmemente denunciar o mesmo adversário, para que o bem vença o mal, mesmo que isso seja um tanto clichê.<br />Termino de rima: gente, o sertão é lugar de revolução.</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br /></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;">L.</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;">João Pessoa, 14 de Fevereiro de 2012</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br /></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br /></span></span>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-48232231175334635592011-10-30T23:08:00.000-07:002011-10-30T23:08:16.837-07:00TrêsSão 3h e a cidade é uma calmaria. Minha cabeça, ao contrário, é um caos só. Melancólico com suas variantes de caos ímpares, mas é, sim, uma desorganização total. Porque é muito estranho saber que uma rede é só uma rede e os tempos já são tão distantes, os bons momentos menos assíduos em sua chegada e o sorriso mais ligeiro em sua partida. Eu nem te conheço o bastante mais, para saber identificar voz, tato ou um mero conselho, contudo eu ainda paro e escrevo depois de meses penando por isso.<br />
São quase 3h, na verdade. Eu escuto uma canção que nada diz, só que as notas são aprazíveis aos meus ouvidos, é um samba altamente gostoso, contudo fica no vácuo a semântica mais profunda, e, pra mim, isso é necessariamente o que interessa, pelo menos, neste tão constante momento, entre idas e vindas de ais e pousos de mais rugas. A peleja caleja, amigos... Dá pra se entender o dito paterno do quanto os suor é significante, é resultado e não mera transpiração orgânica.<br />
Já se avizinha o nascer do sol, e eu insisto em não deitar. O sono pode até bater, mas a porta não se abre, porque já dizia eu mesmo, numa descoberta no carbureto, que dormir é ruim, bom é viver. Por isso, descansarei um pouco e acordarei já cedo. Ora, deve ter tapioca na mesa! A morte tanto é iminente como eminente angústia na vida das pessoas, não pelo fato, mas, como diz um amigo meu, pelo<i> modus operandi</i>, logo viver é estar distante da morte.<br />
Isso foi muito bom: é um ponto de partida interessante para "uma ode ao mictório" e "ainda vou desmascarar o avião".<br />
E vão por mim: cobertura de chocolate só é bom sobre sorvete de morango. O inverso não é verdadeiro.<br />
São mais de 3h.<br />
<br />
<br />
L.<br />
João Pessoa, 31 de Outubro de 2011Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-48101810017709746642011-06-01T13:23:00.000-07:002011-06-01T13:23:30.923-07:00Tri<br />
<div style="text-align: justify;">
TRI </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por José de Paiva Gadelha Neto </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Minha relação com o Flamengo sempre foi meio louca mesmo. Me lembro</div>
<div style="text-align: justify;">
bem, quando criança, todos da minha idade sonhavam em conhecer a</div>
<div style="text-align: justify;">
Disneyworld, se empolgavam ao falar do desejo de brincar na montanha</div>
<div style="text-align: justify;">
russa, conhecer o Mickey Mouse, sei lá o que. Eu só queria saber de</div>
<div style="text-align: justify;">
conhecer o Maracanã.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meu pai, um rubro-negro apaixonado, achava isso o máximo e sempre me</div>
<div style="text-align: justify;">
apresentava aos amigos dizendo: “Esse é meu filho, Flamenguista, ano</div>
<div style="text-align: justify;">
que vem vou levá-lo para conhecer a Gávea e o Maracanã”. As passagens</div>
<div style="text-align: justify;">
de avião não eram baratas como hoje, e nós morávamos a quase 3 mil</div>
<div style="text-align: justify;">
quilômetros do Rio de Janeiro, além disso, meu pai temia a violência</div>
<div style="text-align: justify;">
também.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com internet, TV por assinatura, Pay-Per-View, as informações são</div>
<div style="text-align: justify;">
abundantes e é possível ter notícias em tempo real e assistir todos os</div>
<div style="text-align: justify;">
jogos do mais querido, mas quem tem mais de trinta sabe da dificuldade</div>
<div style="text-align: justify;">
que era acompanhar notícias e jogos naquela época. Sabia apenas do</div>
<div style="text-align: justify;">
horário dos jogos, então, quando faltavam 15 minutos para o início dos</div>
<div style="text-align: justify;">
jogos, subia em cima do telhado da casa, acompanhado do meu velho</div>
<div style="text-align: justify;">
rádio. Passava aquelas 2 horas com o dedo no tuning do rádio, mexendo</div>
<div style="text-align: justify;">
para cima e para baixo, sem sucesso. Existia uma lenda que dizia que as</div>
<div style="text-align: justify;">
ondas da Rádio Globo caiam na cidade de Sousa, na Paraíba, onde eu</div>
<div style="text-align: justify;">
morava. Bom, chamo de lenda porque no período do jogo, eu escutava a</div>
<div style="text-align: justify;">
voz de José Carlos Araújo umas 3 vezes de 4 segundos cada, e claro, era</div>
<div style="text-align: justify;">
uma vibração: “Escutei, escutei”. Quando passavam as 2 horas, eu não</div>
<div style="text-align: justify;">
sabia patavinas do que tinha se passado no jogo, não tinha outra</div>
<div style="text-align: justify;">
alternativa a não ser telefonar para o Flamengo, saber o placar do jogo e</div>
<div style="text-align: justify;">
esperar o compacto na Bandeirantes. Também cansei de assistir esses</div>
<div style="text-align: justify;">
compactos e vibrar como se estivesse vendo o jogo ao vivo, afinal, não</div>
<div style="text-align: justify;">
tinha idéia do placar. Meu pai, claro, achava o máximo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O tempo passou, fomos morar em João Pessoa em 1995. Agora já existia a</div>
<div style="text-align: justify;">
Globosat, e a Sportv já mostrava alguns jogos do Flamengo. Um cara, dono</div>
<div style="text-align: justify;">
de um trailerzinho lá no centro da cidade, passou a exibir os jogos e</div>
<div style="text-align: justify;">
aquela novidade tomou conta da cidade inteira, o negócio tomou uma</div>
<div style="text-align: justify;">
proporção tão grande que na final da Taça Guanabara de 1996, fora</div>
<div style="text-align: justify;">
necessário fechar a rua e instalar um telão, para os milhares de rubronegros</div>
<div style="text-align: justify;">
que lá foram ver o show de Romário, Sávio e Cia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não demorou para os bares da cidade notarem o que mais tarde viraria</div>
<div style="text-align: justify;">
um bordão entre os empresários: “jogo do Flamengo lota”. Meu pai</div>
<div style="text-align: justify;">
adorou a idéia. Agora poderia ver todos os jogos, acompanhado de um</div>
<div style="text-align: justify;">
whiskyzinho, no conforto de um bar e ao meu lado. Só não posso mais</div>
<div style="text-align: justify;">
dizer que ele achava o máximo, porque agora ele tinha que conter os</div>
<div style="text-align: justify;">
meus excessos oriundos do fanatismo que, por sinal, tinha sido inserido</div>
<div style="text-align: justify;">
em mim por ele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E assim ficou a rotina: Jogo do Flamengo, cachaça e promessa de que no</div>
<div style="text-align: justify;">
próximo ano vamos ao Maraca. Meu sonho ainda não tinha se realizado.</div>
<div style="text-align: justify;">
Veio a série do tri e na festa do Bi-campeonato, lá na calçadinha de</div>
<div style="text-align: justify;">
Manaíra, local das festas do Mengão em João Pessoa, ele me disse: Ano</div>
<div style="text-align: justify;">
que vem a gente vai de todo jeito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É... meu pai não chegou no “ano que vem”. Em novembro de 2000 ele foi</div>
<div style="text-align: justify;">
morar com papai do céu. Foi levar a alegria de ser rubro-negro aos céus,</div>
<div style="text-align: justify;">
pois a alegria foi o que regeu a vida de Doca Gadelha inteira e eu me</div>
<div style="text-align: justify;">
recuso a falar dele com tristeza.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu completaria 22 anos em março e só quem já passou por isso sabe o que</div>
<div style="text-align: justify;">
são os primeiros meses de uma perda dessa natureza. Foi então que o</div>
<div style="text-align: justify;">
Mengão cumpre sua rotina e se classifica para a final do Carioca de 2001 e</div>
<div style="text-align: justify;">
ao serem divulgadas as datas dos jogos, surgiu uma promoção, que hoje</div>
<div style="text-align: justify;">
pode parecer bobagem, mas na época não era uma coisa comum, ela</div>
<div style="text-align: justify;">
dizia: “ Passagem ida e volta, hotel, traslado e ingresso por apenas R$</div>
<div style="text-align: justify;">
900,00, parcelado em 6 vezes”. Eu não podia acreditar, tinha chegado a</div>
<div style="text-align: justify;">
hora, eu ia conhecer o Maracanã, o sonho que eu tinha desde os 5, 6 anos</div>
<div style="text-align: justify;">
de idade estava prestes a se realizar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Imediatamente liguei para Guto, um amigo de infância tão louco pelo</div>
<div style="text-align: justify;">
Flamengo quanto eu, e quando dei notícia da promoção ele respondeu</div>
<div style="text-align: justify;">
perguntando: “qual o número da sua conta para eu depositar o</div>
<div style="text-align: justify;">
dinheiro?”. Saí correndo para a agência e fui o primeiro a comprar o</div>
<div style="text-align: justify;">
pacote. Fui o primeiro de sete pessoas. É, você leu certo, apenas sete</div>
<div style="text-align: justify;">
pessoas compraram o pacote, as sete pessoas que não suportaram a</div>
<div style="text-align: justify;">
ansiedade e procuraram a agência antes do primeiro jogo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os caras ganharam o primeiro jogo, tínhamos que ganhar por dois gols de</div>
<div style="text-align: justify;">
diferença e a viagem estava paga. O que fazer? Vou ao Maracanã pela</div>
<div style="text-align: justify;">
primeira vez pra perder? O Flamengo vai ser vice depois de dois títulos em</div>
<div style="text-align: justify;">
cima do maior rival?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Liguei para Guto e perguntei a ele se ele queria desistir. Confesso que nós</div>
<div style="text-align: justify;">
dois não acreditávamos muito, mas como já estava pago, a viagem não</div>
<div style="text-align: justify;">
poderia deixar de ocorrer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aproveitei que estava dentro do avião, portanto mais perto de Deus e fiz</div>
<div style="text-align: justify;">
uma promessa de passar seis meses sem tomar refrigerante se voltasse de</div>
<div style="text-align: justify;">
lá tri-campeão. Se estiveres perguntando porque não fiz pra passar esse</div>
<div style="text-align: justify;">
tempo sem cerveja, respondo dizendo que a promessa começaria a ser</div>
<div style="text-align: justify;">
cumprida logo após o jogo. Como eu iria comemorar? Sem cerveja? Sem</div>
<div style="text-align: justify;">
chance.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Chegando no Rio o grande grupo de sete pessoas foi fazer os passeios</div>
<div style="text-align: justify;">
tradicionais, Pão-de-açúcar, Corcovado, praias, e claro, a Gávea.</div>
<div style="text-align: justify;">
Amigo, hoje tenho uma filha e vejo a reação dela quando chega em um</div>
<div style="text-align: justify;">
parque de diversões, corre de um lado para o outro, quer andar em todos</div>
<div style="text-align: justify;">
os brinquedos de uma só vez. Eu estava igual. Queria estar na sala de</div>
<div style="text-align: justify;">
troféus, no campo de treino, no ginásio, na piscina e na Flaboutique ao</div>
<div style="text-align: justify;">
mesmo tempo. Claro que comprei a loja toda, né?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Era sábado, estava anoitecendo e ainda não tinha conseguido tirar</div>
<div style="text-align: justify;">
nenhuma foto com nenhum jogador e no local que eu estava aguardando</div>
<div style="text-align: justify;">
os jogadores saírem do vestiário só tinha um carrão que eu não tinha idéia</div>
<div style="text-align: justify;">
de quem era, foi então que aparecem dois jogadores, o dono do carro era</div>
<div style="text-align: justify;">
o melhor do time, o Pet e o carona era o pior, o Maurinho. Fiquei nervoso</div>
<div style="text-align: justify;">
na hora, quase derrubo a câmera, mas desnecessariamente, pois os dois</div>
<div style="text-align: justify;">
foram bastante solícitos e ao nos despedirmos, disse a ele que tinha vindo</div>
<div style="text-align: justify;">
da Paraíba só assistir ao jogo e queria aquele título. Ele respondeu com o</div>
<div style="text-align: justify;">
sotaque carregado que lhe é peculiar: “Famo vê”, traduzindo, “Vamos</div>
<div style="text-align: justify;">
ver”. Aquela noite eu não dormi, passei a noite virando na cama do hotel e</div>
<div style="text-align: justify;">
dizer que estava ansioso é pouco, eu estava beirando a loucura.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Chegou o dia, era época de apagão e o jogo começava ás 15h, chegamos</div>
<div style="text-align: justify;">
ao Maracanã ao meio-dia. Que coisa linda, aquela imensidão, que eu</div>
<div style="text-align: justify;">
achava que conhecia pela televisão, era mais lindo do que eu poderia</div>
<div style="text-align: justify;">
imaginar. Totalmente vazio, eu cheguei a duvidar que todos os espaços</div>
<div style="text-align: justify;">
pudessem ser ocupados três horas depois. Nossos ingressos eram para as</div>
<div style="text-align: justify;">
cadeiras brancas, que ficava em uma posição onde se via o jogo de frente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas o dia era de perfeição, não podia faltar nada. Olhei de lado e Guto já</div>
<div style="text-align: justify;">
estava chorando, então lhe disse: “Vamos para a Raça!!!” O cara topou</div>
<div style="text-align: justify;">
sem pensar e lá fomos nós.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A Raça é a maior torcida organizada do Flamengo e ficava reunida atrás do</div>
<div style="text-align: justify;">
gol nas cadeiras verdes. Lá estávamos. Medo da violência? Meu amigo, a</div>
<div style="text-align: justify;">
emoção que se sente ali só pode ser comparada ao nascimento de um</div>
<div style="text-align: justify;">
filho. Você não pensa em outra coisa. É o tipo da coisa que o cara não tem</div>
<div style="text-align: justify;">
o direito de morrer antes de sentir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Começa o jogo e a tensão que sentia naquele instante é algo inexplicável,</div>
<div style="text-align: justify;">
me sentia meio que responsável em levar aquela taça para a Paraíba.</div>
<div style="text-align: justify;">
Termina o primeiro tempo, no placar 1x1. No intervalo o clima na</div>
<div style="text-align: justify;">
magnética era de velório, galera cabisbaixa, triste. O time volta a campo e</div>
<div style="text-align: justify;">
com ele volta também o fervor da nação. Comparo aquela reação com a</div>
<div style="text-align: justify;">
de uma mãe que está triste por alguma coisa, mas quando vê um filho se</div>
<div style="text-align: justify;">
refaz para não deixar o filho preocupado e/ou entristecido.</div>
<div style="text-align: justify;">
Edilson marca um gol de cabeça e aí as esperanças ressurgem, posso até</div>
<div style="text-align: justify;">
confessar que de forma tímida, apesar de acreditar, já passava dos</div>
<div style="text-align: justify;">
quarenta minutos e naquele momento estava naquela de me autoconformar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pensava mais ou menos assim: “Vamos ganhar o jogo, não vou</div>
<div style="text-align: justify;">
sair daqui com o título, mas já ganhei dois deles, tá bom”. Mas como já</div>
<div style="text-align: justify;">
disse, amigo, aquele era dia de perfeição. Edílson sofre uma falta e aquele</div>
<div style="text-align: justify;">
cara que eu tinha falado no dia anterior ajeita a bola para bater. Olho para</div>
<div style="text-align: justify;">
trás e pergunto a um cara que estava marcando o tempo em quanto</div>
<div style="text-align: justify;">
estava e ele responde, 42. Pensei: é agora! Estava quase atrás do gol e o</div>
<div style="text-align: justify;">
cara manda o chinelo... O curioso é o que ocorreu em uma fração de</div>
<div style="text-align: justify;">
segundo. Do local que eu estava não vi a bola entrar mas escutei a galera</div>
<div style="text-align: justify;">
gritar, e imediatamente, vi a bola cair dentro gol. Não sei se reparam, mas</div>
<div style="text-align: justify;">
aquela bola não balançou muito a rede.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meu irmão, foi a maior incidência de loucos por metro quadrado que eu já</div>
<div style="text-align: justify;">
vi na minha vida, gente chorando, passando mal, desmaiando. Se você que</div>
<div style="text-align: justify;">
esta lendo isso não é Flamengo jamais vai entender esse sentimento,</div>
<div style="text-align: justify;">
quem é Flamengo sabe do que eu estou falando. Meu sonho estava</div>
<div style="text-align: justify;">
realizado de uma forma que nem eu sonhava, foi tudo perfeito, foi tudo</div>
<div style="text-align: justify;">
além. Independente de religião, fica difícil acreditar que meu pai não tem</div>
<div style="text-align: justify;">
nada haver com isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje é dia 27/05/2011, ou seja, aniversário de dez anos do tri-campeonato</div>
<div style="text-align: justify;">
e da minha estréia no Maracanã (fui mais três vezes depois). Também faz</div>
<div style="text-align: justify;">
dez anos que meu pai nos deixou e os dois acontecimentos me dão a</div>
<div style="text-align: justify;">
sensação de terem acontecido ontem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meu pai me prometeu que estaria, DE QUALQUER FORMA, comigo em</div>
<div style="text-align: justify;">
2001 no Maracanã, tenho certeza que ele estava. Meu pai morreu sem</div>
<div style="text-align: justify;">
saber que resolvi seguir a sua profissão, tenho certeza que ele sabe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
JOSÉ DE PAIVA GADELHA NETO</div>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-82714812290069494702011-04-12T18:26:00.000-07:002011-04-12T18:43:50.187-07:00Virei palmeirense!<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Quando mamãe ficou grávida de Lafa, meu pai, com medo que eu me
acometesse de um ciúme brabo que é praga forte na família, comprou um filme de
vídeo cassete e colocava todos os dias para eu ver e ouvir. Eu cantarolava
feliz os versinhos de “temos um novo irmãozinho, papai e mamãe dão muito
carinho, nada melhor podia ter acontecido”, e todos acharam que estava tudo
muito resolvido. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Nada feito. Nove meses depois chegou o meu irmãozinho, gordo como uma
bola, mais vesgo impossível, orelhas maiores do que sua cabeça. Não fosse tão
gordo, daria a idéia de serem asas. Se tivessem escolhido o nome na hora, eu
desconfiaria que a razão tinha sido o tamanho das orelhas do menino,
iguaizinhas as de Vovô Lafayette. Achei tão feio, tão feio, que não compreendi
o estardalhaço de toda aquela gente em cima do bebê. Mas mamãe estava feliz
demais, e acharam injustiça dizer que ele era horrendo. Até vovó e Tio Dalton,
habitualmente muito sinceros, viraram juntos várias latinhas de cerveja antes
de proferirem o veredicto: ele não é desse mundo, Aline! Parece Pirrita. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Demorou um tempo até notarem que eu, até então a dona do pedaço, linda e
loira como uma boneca de porcelana no auge do meu um ano e meio de idade,
estava ali estatelada e esquecida, e me convidarem para acariciar a coisa. Já
estava indignada. Afinal, papai nunca me deixava pra trás por nada no mundo.
Dizia constantemente que eu era a mocinha mais bela do planeta, que, às vezes,
virava os olhos de mim com medo de colocar olhado, de tão bonita que me achava.
Ultrajada é que me dispus a chegar perto de Lafa. De mansinho, fui alisando a
cabecinha dele e balbuciando “ó, meu irmãozinho, fofinho...” e, de repente, sem
notar, já tinha arrancado um tufo dos ralos cabelos loiros do neném naquele
falacioso gesto de carinho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Sabia que estava encrencada. A confusão foi grande, ele berrava alto e
eu corri o mais longe que pude pelos corredores do hospital. Papai me alcançou
e perguntou se eu não lembrava da musiquinha. Eu não sabia dizer, mas achava
mesmo era que nada pior podia ter acontecido. Mal sabia que o pior ainda estava
por vir, quando voltamos pra Sousa (sabe lá porque cargas d’água Lafa foi
nascer em Campina). Muitos tufos de cabelo arrancados e muito choro de Vovó por
causa da minha maldade sem precedentes com aquela criatura ingênua, até eu
perceber que não tinha jeito. Precisava me aliar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Não importava se eu era bem mais bonita que ele, éramos igualmente
tratados. Claro, eu continuei achando absurdo. Mas resolvi aproveitar o
admirável mundo novo. E, lentamente, descobri que um vesguinho gordo com
orelhas de abano viria a ser o meu melhor amigo, desde a mais tenra idade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Ele se encantou comigo desde que se entendeu por gente. Logo quando
aprendeu a emitir os primeiros sons, sem saber falar Myriam direito, saía
gritando pela casa: Iáá, Iáá. E até hoje me chama de Iaiá. Acho que ele já sabe
dizer Myriam, mas ainda chama Iaiá.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">À tardinha, íamos à praça e eu brigava com quem o chamasse de zarolho,
ainda que eu mesmo chamasse, dentro de casa, só entre nós dois. Ficava em casa
com ele quando ele tinha que usar aquele tampão horrível em um olho só, que eu
nunca entendi pra que servia. Brinquei de Jaspion, Power Rangers e Jiraya, e
nem achava um tédio. Tivemos um vizinho meio psicopata que o obrigava a ficar horas
no sol quente se ele errasse um passe de futebol. Quando eu descobri, o
psicopata, que hoje é nosso amigo, levou uma surra da qual nunca vai se
esquecer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Meus amigos eram amigos dele e vice-versa. Viemos morar em João Pessoa.
Tínhamos uma gangue enorme que explorava as casas de veraneio abandonadas
durante o inverno em camboinha. Eu, Lu, Leo, Deló, Luquinhas, Bruninha e Lafa.
À noite, mamãe e papai tomavam vinho na beira da praia enquanto nós dois
esperávamos juntos as redes de pescadores aportarem na areia para pegarmos os
peixinhos menores, ou ficávamos correndo com nossas cadelas. A dele, Duda, a
minha, Lara. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Eu gostava de tudo nele. Tudo era divertido, ainda que estivéssemos
apenas os dois. Eu achava graça e me aproveitava de quando ele não queria ir a
um lugar (e eu também não), tirava toda a roupa e corria gritando pela casa: só
vou se for nu! Ele ficava comigo quando eu adoecia, e não contava pra mamãe se
eu fazia uma trela. Foi ele que escondeu meu primeiro beijo, com um primo, na
frente da antiga casa de Lindolfo Pires, encostada numa árvore. Não contou a
ninguém. Mas eu dedurei o primeiro seis que ele tirou em matemática. Foi ele
que jogou trinta partidas de xadrez comigo, quando eu acabei o meu primeiro
namoro e só me distraía com aquilo. Foi ele que me ensinou a usar vírgulas e
melhorar as minhas redações, já que Zarinha agraciava as dele, quase sempre
expostas na parede da recepção do cursinho, com um “Quase Perfeito”. Também foi
ele que me ensinou física do primeiro ano, quando eu já estava no terceiro. Eu
lhe ensinei a cantar o Hino Nacional, porque nós adorávamos cantar juntos e,
quando ele largou a bateria e o rock, pelo violão e a igreja e virou um crente
fanático, o Hino era a única música que podíamos cantar juntos - as outras eram
mundanas. Nem a religião foi um entrave entre nós. Ele tentava me converter, e
eu também tentava convertê-lo. Acabou que ele mesmo deixou aquele fanatismo exacerbado,
depois de ler a Bíblia duas vezes, saliente-se, e até começou a considerar que
eu pudesse ir para o céu, mesmo dizendo “caralho”, de vez em quando. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Eu atualizei-o dos novos palavrões e das novas velhas músicas, e viramos
nós dois fãs de Beatles, Belchior, Bob Dylan, Novos Baianos. Temos um
repertório imenso. Cultuamos a revolução e os comunistas. Hoje, nos decidimos
pelo capitalismo humanista. Mas ainda temos blusas com a fotografia de Che com
os dizeres: ele está morto, faça sua revolução. E ainda acreditamos na
revolução, ao nosso modo. Juntos fizemos esse pacto, de fazer a revolução, meio
que bêbados, num barzinho na Lapa, quando descobrimos juntos o Rio de Janeiro. E
vamos fazer. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Até hoje, só houve um empecilho entre nós. Em 1995, o monstro verde
chegou de súbito para abalar as estruturas de nossa linda amizade. Onze homens,
todos vestidos de verde, em um gramado verde, com o nome Parmalat nas costas
começaram a assombrar minhas quartas-feiras e meus domingos. Lafayette se
apaixonou pela primeira vez. O nome dele era Palmeiras, e eu detestava tanto aquele
time que voltei a arrancar os cabelos do meu irmão de novo. Beliscava-o no meio
do jogo, desligava a televisão, e, como nada adiantou, tomei uma séria decisão:
virei corinthiana. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Ele já não era mais tão menor que eu, então a tapa rolava solta. Também
perdi cabelos, e um abajur de peninhas, que ele depenou, uma a uma, na final da
libertadores de 2000. Eu liguei o som nas alturas com o hino do timão e pulei
serelepe pela sala. Ele trancou-se no meu quarto, usou um batom de mamãe para
escrever um gigantesco “gorda” no meu espelho e, feito isso, depenou o meu
lindo abajurzinho cor de rosa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Muitas brigas viriam. Papai, achando absurdo o meu comportamento, adotou
o Palmeiras como seu primeiro time (antigamente, como não havia campeonato
brasileiro, era possível ter um time em cada estado, de modo que meu pai era
flamenguista no Rio e Palmeirense em São Paulo, mas, flamenguista, depois que
veio o Brasileirão e similares). Lilice nasceu já palmeirense. Eu insistia no
meu Corinthians, porque, até a chegada do Palmeiras, nada havia me separado
tanto do meu irmão. Não fui tão esperta como quando ele nasceu: em vez de
aliar-me, resolvi bater chapa. Bobinha. Passei domingos em crise nervosa ao
ouvir os gritos de gol, abandonada no meu quarto, sem companhia. Não me veio a
idéia de que poderia estar com ele, comendo uma pipoca e, anos mais tarde,
tomando uma cervejinha, os dois vestidos de verde. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">O tempo passou, o Palmeiras continua sendo o grande amor da vida de
Lafa, depois de Keoma, claro, sua namorada, de quem também me fiz aliada,
grande amiga e até incluí-a nos nossos planos revolucionários. Ela topou sem
pestanejar. Hoje somos três. Aliás, quatro. Há o nosso fiel escudeiro Iarley Maia, também um sonhador. E, como bem disse John Lennon, espero que um dia
mais gente se junte a nós. Lafa ainda é o meu melhor amigo, e ninguém no mundo
me completa como ele. Completa, ama, agüenta. Ninguém me diverte como ele. E eu
não admiro ninguém como admiro meu irmãozinho. Não porque ele deixou de ser
vesgo (tá até voltando a ser, inclusive), emagreceu, não tem mais orelhas de
abano e é um gato. Mas porque ele é companheiro, inteligente, engraçado, um
excelente cantor, futuro grande jurista e, sobretudo, porque é muito, muito
solidário. De um altruísmo inigualável. Dizem que puxou ao meu bisavô Tozinho,
que chegou a dar de presente um cartório que tinha. Nem me atrevo a dizer que
sou assim. Por isso, coloco Lafa em um pedestal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Não foi depois que meus pais morreram que aprendemos a tomar conta um do
outro. Foi sempre assim, já que, quando eu tinha 12 e ele 10, passamos a morar
sozinhos em João Pessoa. Outro dia tive pneumonia. De novo, Lafa não saiu do
meu lado, sabia direitinho a hora de dar o meu antibiótico e o xarope. Tomou
uma xícara de sorvete da minha mão, enquanto eu tentava traçá-la escondido. Aí
eu me dei conta de que um erro, mesmo que tenha sido cometido,
ininterruptamente, por quase quinze anos, ainda pode ser consertado. Que o
Palmeiras nunca poderia nos separar, nem antes, nem hoje. E já que ele saiu na
frente escolhendo seu time do peito, não tenho motivos para pedir para que ele
seja corinthiano. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Faço, agora, o Palmeiras o time do meu coração. Escolho, de
hoje em diante, domingos e quartas-feiras menos solitárias. Escolho um time que
ganhou a libertadores (um tanto oportunista, este argumento, ok). Acho que
nunca fui corinthiana de verdade. Quando o Palmeiras perdia e Lafa ainda era
pequeno, chorava muito. No fundo, bem, bem no fundo mesmo, eu ficava triste
porque ele estava triste. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Através desse texto deixo o comunicado. Virei a casaca. Tive que fazer
uso de muita emoção,é verdade. Porque, mesmo sendo muito altruísta, Lafa nunca
vai perder a oportunidade de, ao saber da novidade, dar uns petelecos na minha
cabeça e dizer divertido: E aí, o verdão é ou não é o melhor? Dá-lhe porco,
dá-lhe porco!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">M. </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK-7W_yE6eLe4SywefRRUU2R2VQAgQfVn1ljdUGv0DAaMvjXOGg0SGZ8ICR68756FGyHcnXInh72-WTxJ40Y7jl4kM1I4Z1CbMSnRmBXOIZ3F1TuQsnQHogAisov_PCrjgsnlTFd9KOo4/s1600/DSC01414.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK-7W_yE6eLe4SywefRRUU2R2VQAgQfVn1ljdUGv0DAaMvjXOGg0SGZ8ICR68756FGyHcnXInh72-WTxJ40Y7jl4kM1I4Z1CbMSnRmBXOIZ3F1TuQsnQHogAisov_PCrjgsnlTFd9KOo4/s320/DSC01414.JPG" width="240" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3SrYYc2fzFQRIznEvUtWSlHGsxY0tz8-8rfYmkqDXurK47bx4JrWovgLmtzHZ81uvOMjw7gvl9ppakID4G9I6UOf_igvqbEjYCu6WloG5nJvq8wJRrPQ3PNv1Ymfy-6abLrMX7so5WqM/s1600/lafa+e+iaia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3SrYYc2fzFQRIznEvUtWSlHGsxY0tz8-8rfYmkqDXurK47bx4JrWovgLmtzHZ81uvOMjw7gvl9ppakID4G9I6UOf_igvqbEjYCu6WloG5nJvq8wJRrPQ3PNv1Ymfy-6abLrMX7so5WqM/s320/lafa+e+iaia.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNFeur5d2tOtnbtFnIAU8ULVy7ZdGFtPczhDEWGxZZKyISFLDaM2V_8AMp8YtTtxPCb0gWTlPNCJPD7_-hus-NoW2c4rpxsJBV9qcMLdPaWTO5ix8InSLXln1_lytt1TEUTXfbgux7gF4/s1600/lafaeeu.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNFeur5d2tOtnbtFnIAU8ULVy7ZdGFtPczhDEWGxZZKyISFLDaM2V_8AMp8YtTtxPCb0gWTlPNCJPD7_-hus-NoW2c4rpxsJBV9qcMLdPaWTO5ix8InSLXln1_lytt1TEUTXfbgux7gF4/s320/lafaeeu.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEKULzUO-YahTOQfAEQLJl_57SF3RAXnEC55zDM76ngHSrsgsysgxDPllXjmmJ2HU3hUI8lLYJp8bdYhrpDccRLZtU8FciW6xKXUjPi4KyGtaanKnKZIJnF9I0KitzOyGsfgr0gK4CRl0/s1600/DSC01426.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEKULzUO-YahTOQfAEQLJl_57SF3RAXnEC55zDM76ngHSrsgsysgxDPllXjmmJ2HU3hUI8lLYJp8bdYhrpDccRLZtU8FciW6xKXUjPi4KyGtaanKnKZIJnF9I0KitzOyGsfgr0gK4CRl0/s320/DSC01426.JPG" width="212" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-39814636791034830502011-03-12T19:02:00.000-08:002011-03-12T19:02:12.301-08:00depoimento de InaldoAcabo de receber email de minha prima Fernanda, com um texto escrito pelo jurista Inaldo Rocha Leitão poucos dias após a morte de meu pai.<br />
Fiquei realmente emocionado com o fiel depoimento de uma pessoa que conviveu politicamente com meu pai, ora como aliado, ora como adversário. Devo dizer: na maioria das vezes, foram adversários, mas sempre se admiraram, fato raro na política quente e acirrada da Paraíba, notadamente de Sousa.<br />
<br />
Valeu, Inaldo!<br />
Segue o belo texto abaixo:<br />
<br />
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16.0pt;">Salomão, o dono da bola<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 11.0pt;">Por Inaldo Leitão<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Uma penca de jogadores de futebol aguardava a chegada
de alguém para o inicio da pelada, que ocorreria na rua sem calcamento nas
imediações da Casa Grande do clã Gadelha, em Sousa. Devia ser meados dos anos
60 – e eu estava lá. Eis que aparece um garoto paramentado (naquele tempo era
rara a existência de terno de futebol) e com uma bola de couro novinha
acomodada sob o braço direito. Com pose de dono do pedaço, o dito cujo se
dirigiu ao centro do campo e escalou os jogadores dos dois times, incluindo o
próprio, como titular absoluto, e reservando-se o direito de fazer o rodízio
com os jogadores que sobraram. Esse garoto respondia pelo nome de Salomão e era
o dono da bola – e do time, portanto. Melhor dizendo, dos dois times.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Uma banda da cidade esperava as ordens de um certo
cidadão que escalaria o time de políticos que disputariam as eleições em Sousa,
sejam as municipais ou estaduais. Reunião na Casa Grande, expectativa em todos
os recantos da cidade. O Chefe sabia que jamais poderia fugir de uma regra: o
time teria de ter um parente no principal lugar da chapa. De preferência um
filho. Não diria necessariamente pelo parentesco, mas o fato é que eram muitos
os vocacionados para a arte da política. Principalmente os rebentos que, além
de inteligentes e com formação acadêmica, eram brilhantes oradores. Feita a
escalação, não havia contestação. E o time seguia para o embate eleitoral à
cata dos votos. Esse Chefe respondia pelo nome de José, o dono do palanque – e
do time de políticos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Salomão Benevides Gadelha, o garoto-jogador-dono do
time de futebol, era o filho mais novo de José de Paiva Gadelha, o
chefe-jogador da política. Cada um no seu papel e no seu tempo, pai e filho se
confundiam em muita coisa. Inovadores, craques na polêmica, criativos, ousados,
visionários, radicais nas posições, inteligentíssimos e outras coisas mais, a
presença dos dois em qualquer ambiente fazia a diferença. Não havia como não
notá-los. Quando José se foi, numa noite de novembro de 1981, ate seus
adversários mais ferrenhos, como eu, sentiram sua falta. A política,
especialmente a de Sousa, perdeu muito de sua alegria, de seu entusiasmo e até
mesmo de suas palavras atrevidas. Quando Salomão partiu no dia 25 último,
curiosamente também numa noite de novembro, o mesmo buraco negro foi produzido.
Nem as lágrimas do mundo inteiro, muito menos as dos sousenses, seriam capazes
de preencher o vazio deixado pela dupla.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Minha proximidade com Salomão ocorreu na Universidade
Católica de Pernambuco, no Recife. Eu estava a caminho da conclusão do curso de
Direito quando ele iniciou sua jornada. Coube-me a tarefa de trazê-lo no
movimento estudantil, o que era proibido pela ditadura militar, à época sob o
comando do general-presidente Ernesto Geisel. Expliquei-lhe que o movimento era
arriscado, quase clandestino, o que o animou ainda mais. Apresentei-lhe Raul
Jungman, que anos depois seria deputado federal e na ocasião comunista, e
outras lideranças estudantis. Nossa luta era pela reabertura dos diretórios
acadêmicos, afinal vitoriosa em 1977. Como eu estava impedido de disputar a
presidência do DA de direito, por ser concluinte, indiquei Salomão, que foi
eleito com expressiva votação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Seu discurso era mais radical do que os militantes
estudantis vinculados ao Partido Comunista Brasileiro. O discurso básico incluía
a revogação do AI-5 e do Decreto-lei 477; anistia ampla, geral e irrestrita;
restabelecimento das eleições diretas para todos os níveis; restauração das
liberdades públicas; extinção da censura; convocação de uma Assembléia Nacional
Constituinte; e o fim do regime militar. Com o ambiente político no país ainda
turvo, todos tratavam desses temas de forma um tanto contida – menos Salomão
que, com sua retumbante retórica, incendiava o auditório. O estudante rebelde
se fez advogado e refez o caminho para Sousa, sucedendo o pai na Algodoeira Gadelha.
A chegada do bicudo devastou os campos de algodão na região e inviabilizou essa
atividade do final dos anos 80 até os dias atuais. A quebradeira foi geral. Nem
a multinacional Sanbra segurou o tranco.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Sem a Usina, o hiperativo Salomão viveu seus momentos
de instabilidade profissional. Passou um período como vogal da Justiça do
Trabalho, depois ensaiou uns passos como advogado, ocupou espaço na FIEP do
irmão Buega Gadelha, até se defrontar com aquilo que realmente fervia nas suas
veias – a política. Já fora do prazo limite da convenção municipal para escolha
dos candidatos na eleição de 2000, Marcondes Gadelha formou uma chapa dita provisória
com o irmão Salomão candidato a prefeito, tendo Leonardo, seu filho, na vice.
Puro sangue. O que parecia uma piada logo se transformou em coisa séria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Salomão fez uma campanha, digamos, pirotécnica.
Chegava ao palanque de moto-táxi e um arsenal de fogos ensurdecedor espocava
nos céus de Sousa. Barulhento, incansável e esbanjando seu natural otimismo,
aliou sua estratégia eleitoral ao capital político que a família Gadelha sempre
teve e tem para, no final, também beneficiado pela divisão do marizismo, polarizar
a disputa com João Estrela e jogar o candidato Lúcio Matos para a lanterna. Mesmo
derrotado, Salomão foi buscar na Justiça o que não conseguiu nas urnas. Dois
anos de litígio depois, empunhou o diploma de prefeito, deferido pelo Tribunal
Superior Eleitoral, e pavimentou o caminho para a conquista do segundo mandato
na eleição de 2004. Fez história. Depois das tentativas de Marcondes, Raimundo
Doca e Buega, era a primeira vez que um filho de Zé Gadelha governava a terra
de Bento Freire.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Salomão disputou sua última eleição em 2010 como
candidato e deputado estadual. Fez uma campanha tão desastrosa quanto
divertida. Sem apoio da família, que já havia fechado com o primo André, e
abandonado pelos ex-auxiliares da prefeitura, ficou sem palanque e apelou, como
sempre, para a criatividade – e inventou o comício do tamborete. Espalhava o
popular objeto em determinado bairro e recorria a uma dupla de excelentes
oradores para atrair a multidão – ele mesmo e a filha Maria Alice. Os eventos,
sucesso de público, contrastaram com o péssimo resultado das urnas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt;">Derrotado, era natural que Salomão ficasse chateado
com a cidade que governara por seis anos e que lhe dera uma votação pífia. Que
nada. O prefeito que desafiou a Cagepa, criando a empresa municipal de água e
esgoto, e recorreu à energia solar para expulsar da cidade a também impopular
Energisa, deixou de lado a tristeza eleitoral e envergou sem trégua alguma
outra bandeira, a do petróleo. Foi animado por esse novo objetivo que Salomão
tomou o caminho de Sousa para fermentar o debate sobre uma alternativa de
riqueza para a região. Não deu tempo. Antes de Sousa, havia uma pedra no meio
do caminho, Pombal. Foi ali que Salomão interrompeu seus incontáveis sonhos e,
como disse Getúlio Vargas, saiu da vida para entrar na história. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-32155030093853976692011-03-09T09:46:00.000-08:002011-03-09T09:46:44.351-08:00Seus óculos<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Eu achei seus óculos hoje, esquecidos no porta luvas do meu carro,
assim, descuidadamente esquecidos. Mas estavam lá, para que você deles fizesse
uso, rapidamente, como de costume, a fim de ler pequenas anotações antes de uma
audiência, de uma palestra, de um discurso. Já que você não volta, já não entrará
no meu carro. Tirei-os de lá e coloquei sobre a minha cabeceira e agora os
encaro estática. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Tentei ver por trás deles, como se procurasse arfante ver através dos
seus olhos, e ser você um pouco. E sendo você, abrandar a minha saudade. Óbvio
que minha visão ficou apenas embaçada, e nenhuma licença poética respeitou meu
imenso e verdadeiro sofrimento. Quisera eu fosse apenas poesia, a perda. Como
em tantas e tantas músicas de amores perdidos, quisera eu, fosse apenas poesia.
Eu tiraria seus óculos, sem rosto úmido, os devolveria para você como numa
brincadeira, como nos meus teatros, lembra? E você bateria palmas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Não é tão simples assim. Claro que não. Esse cenário de dor vibrante
repleto de objetos que mais parecem personagens. Amantes tristes e
voluntariosos. Utópicos. Não é um cenário de teatro, as cortinas não fecham e
nós voltamos para a coxia sorridentes, sem ansiedade e nem tormento. Ah, não.
Ainda que eu deseje enormemente um faz de contas – e às vezes eu até ensaio,
sabe? – na coxia a agonia é ainda maior. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Foi com seus óculos que fiz esse faz de conta hoje. Coloquei na face, e
ri despretensiosa, querendo tão somente uma nostalgia tranqüila, daquela forma
que acontece quando as lembranças boas são reconfortantes, e não destruidoras
do cotidiano. Porque é mais fácil se ferir do que fazer cócegas em si mesmo.
Esse tempo do faz de contas, do teatro, vai demorar a chegar. E, quando chegar,
bem, não será mais teatro. Não vou precisar encenar nada para lograr meu
desespero. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Hoje não vou tomar minhas pílulas de dormir. Meu psiquiatra não me poupa
de ansiolíticos e hipnóticos. É um homem muito bom. Poupa-me do sofrimento.
Assim, eu não preciso enfrentar noites turbulentas, virando de um lado para
outro na cama, sem conseguir me concentrar em nenhuma leitura até que o sono
chegue naturalmente. Em contrapartida, pouco me recordo dos meus sonhos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">Acontece que, você bem sabe, nos dias de hoje, embora a vida tenha
ficado mais longa – perdoe-me esse clichê que também não me apraz – a pressa é
cada vez maior. Então não há espaço para noites insones, não há espaço para
sofrer. E, ainda que tivéssemos, não creio que em momento nenhum, nos mais
imemoriais dos tempos, tenha existido espaço no espírito humano para tamanho pesar.
Por isso seu avô morreu de banzo, você dizia, não havia benzodiazepínicos! Por
isso Van Gogh cortou a orelha. Por isso eu não vou morrer de banzo, nem amputar
algum membro exterior como uma espécie de somatização voluntária que mostre o
quanto amputada de alma estou. Ainda tenho a sertralina e minhas miúdas
encenações. Além do mais, acessos de surto não é um luxo ao qual pode se dar a classe média. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">No espetáculo de hoje, deixei seus óculos sobre a minha cabeceira. Infelizmente,
minha miopia só me permite vê-los através dos meus próprios óculos. Devo
interpretar a mim mesma. Interpreto uma amante serena, que observa os pertences
do amado com aparente lucidez, como quem precisa apenas de uma lembrança por
perto. Mas, claro, é mera interpretação. Na coxia, revelo-me doente e
alucinada. Acalmo-me com divinos fármacos. Ainda assim, dentro do alívio
efêmero da droga, murmuro para mim mesma que deixo seus óculos na cabeceira,
porque espero confiante você voltar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR;">M. </span></div>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-3104595202189540802011-02-04T22:14:00.001-08:002011-02-04T22:21:08.049-08:00Sobre os meus pais<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Seis meses depois que mamãe morreu, fui à Casa
Grande, como chamamos a casa de nossa família em Sousa, na ocasião do
aniversário de Lafa, e encontrei apenas uma tal “Casa dos Espíritos”, um lugar
abandonado onde eu cri que jamais poderia achar qualquer sinal de aconchego. A
mansão era apenas um mar de lembranças, material vivo para a crônica. Todavia,
de um súbito, percebi que o silêncio monástico era disfarce, visto que havia e
há memória falante em cada tijolo, móvel, azulejo, espelho, nas escadas e nos
mais recônditos aposentos (apesar de ser mesmo isto a idéia de uma casa dos
espíritos). Não ouvia a música sacra da Igreja em frente, tampouco a voz
estridente de Padre Dagmar, que havia nos deixado também há pouco. Eu sabia que
isto se dava apenas ao fato de não ser domingo. No entanto, mais esta ausência
causava a impressão devastadora de que todo o Universo que eu conhecera e nele
vivera um dia havia de repente desaparecido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span><br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Mas agora, mais uma vez, quero afastar essa imagem
desoladora. Passado um tempo, papai tornou à cidade e, novamente, encontrei
família, quartos cheios , multidão, geladeira cheia de comida comprada somente
para mim e meus irmãos, lençol com cheiro de amaciante, bolo em cima da mesa,
novas roupas, escova de dente, toalha e sabonete em cima da cama, enfim, tudo
em festa. Entendi que é uma casa que está sempre à espera, com os seus
espíritos, a fazer folia com a aproximação de seus donos. Para a casa, entre
nós e a leve brisa que vem do Aracati e enche aquele vale de maresia e desejos
de Iemanjá, não há qualquer diferença: são presenças certas, muito embora o
vento do Aracati, por ser dos fluxos divinos, é de comparecimento infalível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span><br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Compreendi, então, que meu juízo era falso, que
sempre fui por demais cética e pessimista, nunca uma entusiasta da força e da
obstinação, como é a Casa Grande. Compreendi ao ver meu pai deitado na cama,
conversando no celular e transbordando, senão felicidade, uma estranha alegria.
Um assombro, para mim, que surgia nostálgica e ungida de melancolia. A TV
ligada e as várias xícaras de café em cima da mesa de apoio deram-me a sublime
sensação de que alguém ainda vivia ali, ou pelo menos resistia de forma fiel.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span><br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Eu sinto falta deles. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span><br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Não tinha a menor idéia do que nos esperava
naquele dia 7 de um dezembro que seguia tão feliz, quando mamãe morreu. Agora,
já conheço bem o angustiante desejo de tocar, ter, interagir, ouvir a voz de
alguém que simplesmente não existe mais. Embora já aceite com serenidade e como
companheiras a dor e a saudade, mais uma vez não tenho a menor idéia do que nos
espera, depois deste último dia 25 de um novembro que seguia faceiro e jovial.
Mas a vida nos é sempre lançada à queima roupa, por vezes, com uma violência
sem igual e, para evitar o sofrimento, resta a opção de lamuriar-se e viver
dentro de si uma vida paralela, onde tudo funcionaria tal como quiséssemos, ou
apenas sofrer e, em sofrendo, fortalecer o coração. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span><br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Certa vez, viajando para Sousa, a medida em que
entrávamos nas áridas terras sertanejas, mais meu pensamento caminhava
sorrateiro para o terreno vasto e duro do passado. Sei que, embora doloroso, é
também precioso fazê-lo sempre, a fim de que não se dispersem nossas
recordações e fujam para inalcançáveis confins do espírito. Que recordar é viver,
ah, isto é precioso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Passado e presente são indissolúveis, estão
para sempre unidos, passo a passo, um se transformando no outro, trocando as
máscaras, construindo sentidos, produzindo o dinamismo da vida. A vitalidade do
passado depende do nosso potencial de mergulharmos dentro de nossa própria
alma. Quanto maior essa capacidade, mais
fácil torna-se esquecer do que sentimos agora, no momento imediato: o tato, o
cheiro, o paladar, a visão e a audição do presente. Assim, facilmente nos
transportamos para o que cremos ser um longínquo pretérito. E é aí que
comprovamos Bach: longe é um lugar que não existe. Os momentos vividos são
acessíveis, andam conosco em nossos corações e, sendo assim, também as pessoas.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span><br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Se assim dou vida à minha memória, nunca
negligenciando o presente (pois este também será memória um dia), estou junto
dos que deixei e dos que me deixaram, ainda que com dor e pesar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Eu percebo que estas feridas são como as dos
diabéticos: não cicatrizam o suficiente e, vez ou outra, acabarão abrindo e
sangrando. Só sabem aqueles que perderam criaturas muito especiais e queridas.
As pessoas dizem que o tempo cura tudo, mas não isso. É preciso ter paciência e
não se desesperar quando a ferida abre, por alguns dias, meses, talvez.
Paciência, serenidade e aquele velho bordão: aproveitar as pequenas felicidades
enquanto a grande não chega. Há sempre uma tarde bonita, uma lua cheia
(veremos, aproximadamente, 936 luas cheias ao longo de nossas vidas, e eu acho
bem pouco), um livro que toca sua alma tão profundamente que você gostaria de
tê-lo escrito ou vivido naquele lugar, com aquelas pessoas, naquele tempo,
sendo uma pessoa diferente. Há sempre uma idéia nova, algo para produzir, um
bolo de chocolate pra comer e, sobretudo, há sempre alguém precisando de ajuda,
e a vida perde todo o sentido se nossa capacidade de servir não é
utilizada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<div style="background-color: white;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt;"><br /></span></span></span></div>
<span class="Apple-style-span" style="background-color: black; font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt;">Servir. Isso foi tudo o que os
meus pais sempre fizeram. E tal mister nos foi ensinado (porque servir,
verdadeiramente, é um ofício e um sacerdócio), pelas grandes obras pelos dois
erguidas na nossa querida pátria chamada Sousa, onde, como em todas as grandes
civilizações, cruzam dois rios intermitentes, </span></span><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt;">que
às vezes enchem tanto que alagam a cidade, destroem casas, tiram as crianças da
escola, e que, outras vezes, matam gente e plantação de sede, na ordem que se
prefira. Os rios são o Rio do Peixe e o Piranhas. Como se sabe, os seres
humanos agrupam-se ao redor de rios. Foi assim com o Nilo, com o Tigre e o
Eufrates, com o Huang Ho, o Ganges, o Sena, o Peixes e o Piranhas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="background-color: black; font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt;"><br /></span><br />
<span lang="PT-BR" style="background-color: black; font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt;">A Sousa, primeiramente, do <i>labore
invictum, </i>seu lema oficial, que casa perfeitamente com a Sousa de Aline e
Salomão Gadelha, qual seja, a Sousa da água de graça, do DAESA, a Sousa da
Saúde Pública modelo para todo o Brasil, com perfeita estrutura de Saúde Mental
(CAPS, inclusive infantil e álcool e drogas – um dos primeiros da Paraíba – e
as residências terapêuticas), a Sousa que recebeu, através dos meus pais, a
primeira unidade do SAMU do interior do Nordeste, a Sousa da Otoclínica, da
Policlínica, de 100 por cento de PSF, das Farmácias Básica e Popular, a Sousa,
única cidade da Paraíba na qual seus gestores tomaram a iniciativa de pagar
dois salários mínimos para os Agentes Comunitários de Saúde; a Sousa do Centro Cultural
Banco do Nordeste, da varredura do preconceito, com a construção do Centro Calon
de Tradições Ciganas e o emprego de ciganos nas mais diversas funções públicas;
a Sousa do <i>Credendo Vides; </i>do
fortalecimento da agricultura familiar através do programa Compra Direta e do
Projeto Mandala; a Sousa de mais de 300.000 mil metros quadrados de
pavimentação, de mais de 300 moradias,
da construção e reforma de praças; a Sousa da educação, com a instalação do
primeiro Telecentro da Paraíba, da abolição do transporte escolar em carros de
pau-de-arara, da informatização de todas as escolas municipais, da construção
da Indústria do Conhecimento; a Sousa do Turismo, com o Festival do Coco,
evento conhecido em todo o Nordeste, do Carnaval Molhado, do Festival dos
Dinossauros, do Reveillon em São Gonçalo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="background-color: black; font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt;"><br /></span><br />
<span lang="PT-BR" style="background-color: black; font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt;">Foi, efetivamente, um governo realizado a quatro mãos, no qual as
pessoas sabiam diferenciar os méritos de cada um. Por vezes, escutamos dizerem
– isto foi obra de Aline; isto foi obra de Salomão. Mas o conjunto restou
harmônico e especial, como era a maneira que os dois se relacionavam. <o:p></o:p></span></div>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="background-color: black; font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;">A Sousa do Petróleo.<o:p></o:p></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p style="background-color: black;"> </o:p></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="background-color: black; font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;">O engajamento do meu pai na luta pelo petróleo, foi uma missão que
contemplou não apenas a municipalidade pela qual era responsável, mas toda a
Bacia do Rio do Peixe. E, provando que não somente os detentores de cargos
eletivos têm o encargo de lutar pelo desenvolvimento de nossa região, foi até o
fim acreditando no alargamento das possibilidades da terra, pois como ele
costumava dizer, o Nordeste ainda está todo por fazer. Há imensos descampados
entre uma cidade e outra passando pela BR-230. Meu pai sonhava com a ocupação
industrial e comercial de tais espaços, sendo o ser humano contemplado com as
benesses deste progresso. <o:p></o:p></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p style="background-color: black;"> </o:p></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="background-color: black; font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt; font-weight: normal;">A Sousa do Petróleo, cuja luta ele iniciou e a ela dedicou-se como um
verdadeiro sacerdote, participando de todas as sessões da </span><span class="uistorymessage"><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt; font-weight: normal;">nona rodada de
licitação de áreas para exploração de Petróleo e Gás natural promovida pela
Agência Nacional de Petróleo (ANP), onde</span></span><span class="apple-converted-space"><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt; font-weight: normal;"> </span></span><span class="textexposedshow"><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt; font-weight: normal;">conseguiu
que 12 blocos da bacia do Rio do Peixe fossem arrematados por 4 empresas. </span></span><span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt; font-weight: normal;">Participou de várias reuniões com
representantes de empresas, como a Shell, e de entidades representativas do setor,
como o IBP.</span></span><span class="apple-converted-space"><span lang="PT-BR"> </span></span><span class="textexposedshow"><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt; font-weight: normal;"> <o:p></o:p></span></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="textexposedshow"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p style="background-color: black;"> </o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="background-color: black; font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><span class="textexposedshow"><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt; font-weight: normal;">É</span></span><span lang="PT-BR" style="font-size: 11pt; font-weight: normal;"> a Nova Sousa. A Sousa do
Ouro Negro. Lembro agora as palavras do<span class="apple-converted-space"> </span><span class="apple-style-span">diretor da UBX - empresa que possui o controle da Tarmar,
compradora de um dos blocos da bacia do Rio do Peixe -, Caio Ferreira Marques, que
elogiou a dedicação do meu pai na negociação. "Pela primeira vez eu vi um
prefeito buscar investimentos desta forma". <o:p></o:p></span></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p style="background-color: black;"> </o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Afastando o amor e a admiração de filha e
falando como crítica política e mera espectadora de todo esse processo, afirmo,
com solidez e com o amparo das opiniões de diversos outros, que Salomão Gadelha
foi o protagonista da conquista do petróleo na Paraíba. Obviamente, não agiu
só, valeu-lhe a crença de seus familiares e amigos mais próximos, que lhe davam
a confiança para seguir em frente – não que ele precisasse, dada sua notória
obstinação – pois a grande maioria julgava tais ações fruto de mais uma de suas
tão conhecidas polêmicas, filhas de mais uma loucura. <o:p></o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p> </o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Mas a loucura é a característica mais forte
dos visionários e revolucionários. Lembrem daqueles que um dia foram
considerados anarquistas, arruaceiros, foras-da-lei, encrenqueiros perigosos,
loucos, por fim. Não foram estes que
derramaram chá na Baía de Boston? Não foram estes que derrubaram a Bastilha?
Não foi aquele que construiu Brasília? Não foi aquele Howard Hughes que quebrou
o recorde mundial de velocidade de um avião no ar e construiu um Hércules,
gigantesco hidroavião, com a maior envergadura na História, batendo mais um
recorde? Não foram aqueles jovens guerrilheiros do Araguaia e em tantos outros
lugares do país, lutando contra os grilhões generalescos? Não foi um louco
aquele que disse que a terra girava em torno do sol? Mas levaram a cabo suas
idéias. Lutero afirmou, por todos eles, em um dado momento da história, afirmou
pelos loucos de antes e pelos que viriam: “Aqui estou e aqui ficarei, porque
sou incapaz de agir de outra maneira”. <o:p></o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p> </o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Talvez muitos ainda não compreendam a
magnitude da ação de Salomão Gadelha em prol do petróleo. O julgamento daquilo
que é uma grande realização e uma grande iniciativa é difícil de ser
inteiramente percebido e concebido como grande em seu tempo. Suetônio foi
considerado um historiador medíocre, porque não viu tudo. Nos dizeres de Carlos
Heitor Cony: “Ainda aqui, Suetônio não viu tudo. Impressionou-se com a grandeza
dos Césares, da Roma Imperial, e não teve o pressentimento que, em seu tempo,
em sua própria cidade, o mundo começava a mudar. Erro que, de resto, não foi só
seu. Até hoje muitos homens não compreendem que o mundo mudou”. <o:p></o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p> </o:p></span></span></h3>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Afirmo que há muitos homens na Paraíba dispostos a continuar nesta peleja,
sejam agentes políticos, ou não. Eu mesma, e meu irmão, Lafayette, continuamos
engajados, como cidadãos, por ora, como povo - a força mais viva e mais
poderosa que há em nosso País, mas não é assim reconhecida. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR">Agora que as obras já estão iniciadas, a função primordial dos que
vestirem a farda de combatentes é garantir o petróleo permanente, na visão
acertada de Cristovam Buarque: “</span></span><span lang="PT-BR">Mais ou menos quando o
ITA e o CTA começavam, o Brasil estava na campanha “O Petróleo é Nosso”. De lá
para cá, queimamos bilhões de barris que nunca voltarão, que roubamos das
gerações futuras. Hoje deveríamos dizer “o Petróleo é das Crianças”, porque ele
deveria ser usado para construir o Brasil do futuro, evitando a conhecida
maldição que o petróleo tem trazido a tantos países, que consomem suas reservas
e gastam seus recursos financiando despesas correntes voltadas para o presente.”
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span></div>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Peço, encarecidamente, que despertem o
interesse para este tema, que briguem por ele e que dele façam melhor uso
possível. Peço desta forma pela pessoa que não está mais aqui para fazê-lo. Que
não pediria por ele, porque não guerreou por ele, mas por todos os paraibanos.
Que unam forças, e estudem, e desenvolvam projetos. Que isto esteja acima do
interesse pessoal de cada um, porque no Festival do Petróleo, evento por meu
pai criado e que deveria estar sendo realizado agora, não fosse a tragédia que
agora me desola, foram convidados situação e oposição. Para debater, discutir,
honrando, assim, o mandato que lhes foi concedido, a imponência da democracia e
o respeito para com o seu povo.<o:p></o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p> </o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;">A batalha não pertence somente aos mais
fortes, mas sim aos vigilantes, aos ativos, aos corajosos. Não temos escolha:
se formos tão baixos para querer nos retirar agora, já será tarde demais. <o:p></o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p> </o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;">A Paraíba está mudando. O Brasil está
mudando. Vejamos que o nosso presidente saiu de classe baixa e, para não me
estender na notória revolução social que foi o seu governo, gerando, sobretudo,
mobilidade social e minoração da pobreza, falo que a maior revolução instaurada
foi primordialmente sua ascensão ao poder, alargando os sonhos dos brasileiros.
Da forma mais simples, digo: cada um de nós é dono do próprio destino e pode
alavancar-se para os pontos mais altos. Nosso Governador eleito foi também sindicalista
e é filho de pequeno agricultor. É a conferência mais alta que se pode dedicar
à auto-estima de um povo. É o fim do conformismo. Da concepção errônea e
incutida no imaginário popular por tantos anos de que Deus quer assim. Ou como
melhor explicou Ortega y Gasset: “Um povo renasce por si mesmo quando se sente
com uma nova vida, digna e alegre, onde todos têm sua missão”. <o:p></o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p> </o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;">A última campanha de meu pai foi escassa de
recursos. Em cima de um tamborete, provocou justamente a reflexão de que não
precisa ser assim. De que o povo não é boiada, de que o voto é livre e é a arma mais forte que cada um possui
enquanto indivíduo político. Cantou Zé Ramalho: Porque gado, a gente marca,
tange, ferra, engorda e mata. Mas com gente é diferente. Exultou a verdadeira cidadania
e o fim do neocoronelismo. <o:p></o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p> </o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Nasci em uma família de tradição política,
mas isso não informa necessariamente uma oligarquia, como certificam os
críticos. Há famílias repletas de médicos, mecânicos, advogados, artesãos,
costureiros, engenheiros. Isto não representa uma casta, mas antes o amor pelo
ofício que se escolhe, transmitido aos seus descendentes. Amo meu ofício, e não
quero que ele morra em mim – é apenas isso.<o:p></o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p> </o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Em outra vertente, há políticos cujas
famílias nada têm a ver com tal emprego, mas, todavia, são muito mais adeptos
de práticas coronelistas e, assim, preocupados com seus próprios interesses do
que com as necessidades do povo. Fazem da política um balcão de negócios. Mas
isto está mudando. Encarecidamente, faço outro pedido: os que já têm espírito
público, mantenham-no, sejam firmes, ainda que vivendo entre feras, afastem de
si o desejo de também ser fera; os que não o tem, e por uma circunstancialidade
estão exercendo a representatividade, valorizem-na. Por ora, talvez o sistema
de compra de votos continue. Mas, com o tempo, vocês, que, tal qual disse
Belchior, amam o passado e não vêem que o novo sempre vem, compreenderão que se
não desenvolverem dentro de si a sensibilidade de olhar para o povo, não do
alto de um palanque ou do conforto de seus gabinetes, mas de perto, olho no
olho, com a justa sensibilidade, serão brevemente enxotados de onde nunca deveriam
ter chegado. <o:p></o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p> </o:p></span></span></h3>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Estejam certos de que sim, tudo muda, e com toda
razão.<b><o:p></o:p></b></span></span></div>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;">A filosofia do servilismo não nos foi, a nós,
filhos, lecionada apenas através das grandes obras erguidas, dos serviços
prestados e das lutas travadas – não que isso não fosse o bastante, já seria –
mas também através de pequenas lições diárias, como o ato de dar esmolas,
oferecer um prato de comida, abrigo para uma noite, aula antes das refeições,
porque nesse momento diziam: saibam, meus filhos, do privilégio da comida, do
pão de cada dia. Mas de nada resolveria ter dito, de nada adiantaria o pequeno
assistencialismo e a leveza das palavras, se não houvéssemos presenciado o
combate diuturno dos dois justamente por isso, pelo privilégio da comida.
Porque a fome é má companheira – diziam – assim, como podemos acusar de
bandidos e marginais os que furtam para comer? Não são bandidos e marginais os
que se omitem, os que vivem apenas para si, sobretudo aqueles que têm em mãos a
função precípua de agir? Os que não se doam? Porque, no Brasil, onde há
riquezas de recursos, fome, é genocídio, e não fatalidade da natureza. <o:p></o:p></span></span></h3>
<h3 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><o:p> </o:p></span></span></h3>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Agora, sinto muita saudade. Saudade dos 21 anos que pude compartilhar ao
lado do meu pai e dos 17 ao lado da minha mãe. Mas sei que a vida, ainda que
curta, é tão cheia de acontecimentos e sentimentos que vão e vêm, que nós
perdemos a noção do tempo e às vezes achamos que certas coisas duraram uma
eternidade e que ainda não estão de fato terminadas. E não estão. Como as lutas que aqui expus, e
que pertencem a todos nós. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Mas mais que tudo, sinto saudade de dias mais criativos e alegres –
porque, para ele, todo dia era de fato uma grande novidade, uma recriação do
mundo; saudade do espírito audacioso e corajoso que não enxergo em mais
ninguém; do meu grande artista do impossível; saudade dos relatos tão bem
contados, sobre os mais diversos temas – revolução de 64 e sua participação na
luta estudantil, Sousa na década de 30 e nós dois criando bucólicas imagens de
tempos que não vivemos, divagações do tipo “Harry Potter, vilão ou herói?”
Porque ele viu comigo todos os filmes da série; saudade de procurar
ansiosamente a aparição sutil de Hitchcock nos filmes; saudade da proteção, do
afago, das noites em que tive febre e insônia e alguém que mais do que ninguém
tinha muito de médico e louco vinha me medicar; saudade do otimismo, da
confiança, da generosidade; saudade até mesmo do Twitter e do Facebook, onde eu
reclamava que ele perdia muito tempo; saudade de ouvir Sertaneja antes de
dormir; saudade do “Eu te amo, Infinito e Universo”, porque quem me dirá isso
novamente, com a mais absoluta sinceridade?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR">Como bem disse minha irmã Mirella a um desaforado jornalista, não acho
que os mortos têm foro privilegiado e viram santos. Meu pai tinha inúmeros
defeitos, como qualquer ser humano. Mas muitos de seus maiores defeitos vinham
a ser grandes qualidades, a partir de um determinado ponto de vista. Assim
segue ela: “Perdulário? Sim, sim. Seria capaz de
tirar a roupa do corpo para dar a alguém que pedisse. Não suportava ver o
sofrimento de ninguém. Tão bom, mas tão bom, que seria capaz de virar
seu amigo mesmo depois de tudo que foi dito. Um homem doce, meigo, amável,
incapaz de perseguir alguém. Um homem que me ensinou que devemos perdoar
as pessoas que falam mal da gente.” De fato, ele passava por um momento de
grande sofrimento, depois da morte da minha mãe e de diversas atribulações no
âmbito político, mas tenho certeza de que ninguém jamais falará dele como um
homem triste e sofrido. Este não era o meu pai, diz Mirella, ele era um
guerreiro.</span></span><span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-size: 9pt;"> </span></span><span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-size: 9pt;"> </span></span><span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR">E, se é possível fazer
um balanço da vida, digo que ele foi extremamente feliz. Falaremos dele como
alguém alegre, divertido, envolvente, um amante e entusiasta da vida, no uso
mais efetivo que pode ser dado à expressão. <o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Parece que agora eu mesma terei que saber que devo voltar cedo para casa
e a quantidade certa de doses de uísque. Devo ter cuidado para não adormecer
com os óculos no rosto, porque ninguém aparecerá de madrugada para retirá-los,
com delicadeza, desligar o abajur e guardar o livro, deixando-o devidamente
marcado na página que me fez dormir. Preciso aprender a julgar as pessoas sozinha,
nunca esquecendo a lição, diversas vezes repetidas, de que há luz e trevas em
todos os seres humanos. E também a escolher minhas roupas e perguntar se estou
adequadamente vestida para ir para este ou aquele lugar, e se estou bonita. Talvez
eu necessite, vez por outra, cantarolar para mim mesma os versos de Carinhoso
e, assim, sentir-me um tanto menos só. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Sou adepta do aleatório, mas até os céticos, em momentos de desespero,
tem seus arroubos de fé. Muitas vezes pensei se não há um propósito na morte do
meu pai. E pensei num muito simples: ele simplesmente não conseguia viver sem
ela. Sem Aline. E, como acontece sempre que o futuro nos parece incerto e nos
amedronta, buscamos tudo que há de passado. Vasculhei caixas de fotos,
anotações, agendas. São pequenos confortos. Reminiscências das nossas vidas, às
vezes parecendo tão desimportantes, mas preciosidades, nestes momentos. Recebi
um sopro de vida ao achar, em um computador antigo, uma carta de amor de título
“Uma noite sem você”, de Salomão para Aline, quando os dois ainda estavam entre
nós. O pequeno trecho a seguir, talvez justifique um pouco meu momento de
crença, de que um sem o outro não poderia existir:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><span lang="PT-BR">“</span><span lang="PT-BR">Uma noite sem você parece durar a eternidade. Porque
as lembranças são incontáveis, uma atrás da outra, numa contabilidade tão
interminável quanto surpreendente. A diversidade de fatos é tão grande que
chega a assustar, mesmo a quem está se habituando a viver sem medo</span><span lang="PT-BR">. (...) </span><span lang="PT-BR">Uma noite sem você parece durar a eternidade. Quero
tirar a noite de uma “tapa só”, pra não acordar no meio dela e ver que estou
só. E quando isso acontece, as lembranças se multiplicam. E aí,
definitivamente, não encontro mais o sono. As recordações, que em nada combinam
com um “sono reparador”, vêm aos borbotões, assaltando a tranqüilidade de quem
precisa acordar cedo – porque tem “um leão pra engolir” todos os dias.</span><span lang="PT-BR"> (...)</span><span lang="PT-BR">E fomos tocando a vida, até que a vida mostrou que ela
é que tocava nosso destino, levando-nos para o lado que DEUS nos reservou.</span><span lang="PT-BR"> </span><span lang="PT-BR">Estamos felizes? EU ESTOU... COMO NUNCA!!!</span><span lang="PT-BR"> </span><span lang="PT-BR">Porque amo e sei que sou amado, por alguém muito
especial.</span><span lang="PT-BR"> </span><span lang="PT-BR">É difícil saber qual sensação é melhor: a de amar ou
de ser amado. Óbvio que a ausência de uma mata a outra.</span><span lang="PT-BR"> </span><span lang="PT-BR">Mas, em amando
e sendo amado, é difícil distinguir o que é mais agradável.</span><span lang="PT-BR"> </span><span lang="PT-BR">Uma noite sem você... vou enfrentar mais outra, hoje,
agora, com a saudade de quem ama com a impulsividade da paixão, e de quem é
apaixonado com a força do amor.</span><span lang="PT-BR">”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Uma
noite sem eles parece durar uma eternidade. E, a verdade, é que, muitas vezes, a
vontade maior é de tirar a vida de “um
tapa só”, para não ser tomado de assalto no meio de um cotidiano conturbado e
vermos, nós quatro, eu, Lella, Lafa e Lilice, que estamos sós. Mas parece que é
a vida que toca o nosso destino e nos leva para o lado que Deus, ou o
aleatório, nos reserva. Uma noite sem eles. Um dia sem eles. Uma vida sem eles.
E vamos enfrentar uma inteira, hoje, agora, com toda a saudade sem fim de quem
ama, e de quem ainda se sente amado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><span lang="PT-BR">Aos
meus pais, não encontrei nada mais preciso para dizer neste momento senão a
dedicatória de Carl Sagan, em um de seus livros, a sua esposa Annie: </span><span class="apple-style-span"><span lang="PT-BR">Diante da vastidão do
universo e da imensidão do tempo, foi uma alegria para nós poder partilhar um
planeta e uma época com vocês. </span></span><span lang="PT-BR"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">À
Sousa, reiteramos: não somos órfãos, a cidade nos acolheu como família, da
mesma maneira como, um dia, foi acolhida pelos nossos pais. À Sousa, reiteramos: é o lugar para o qual
vivemos, são as nossas raízes, e quem não tem raízes, o vento leva. À Sousa, a
certeza e a garantia de que haverá sempre um tamborete à sua espera, a levantar
qualquer um que deseje firmar-se contra aqueles que querem o poder apenas pelo
poder, com amor e coragem, sem ódio e sem medo. À Sousa, a nossa eterna
gratidão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">M. </span></div>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-79911358772536926912011-01-02T22:49:00.000-08:002011-01-02T22:49:21.749-08:00Para Marília<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Perto do Natal e
eu estranhei minha tristeza. Natal é sempre pra ficar feliz. Lembro-me bem, há
uns quatro anos atrás, mamãe vivia me dizendo: “Myriam, você precisa ser mais
séria.” Aliás, todos viviam me dizendo. Eu era dona de uma leveza
incontestável, que parecia incurável. Uma fogueira da infância, nunca
terminava. Hoje, entre as mais diversas recomendações, eu escuto da minha irmã
mais velha: “Minha flor, amoleça seu coração. Tire esse peso de você” .<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">A realidade é
que sim, eu ando pesada, nas mais diversas acepções da palavra. Lembrei do
Natal de 3 anos atrás, eu e mamãe indo comprar presentes para todo mundo,
Camboinha fervilhando de gente, uma brisa com cheiro de maresia era suficiente
pra me deixar contente por toda a tarde. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Mas um
pré-requisito da leveza é que a gente não deve viver de passado. Que devemos
aprender a gostar do presente, ainda que o passado nos pareça melhor. Venho
tentando esquecer, não olhar as fotos, não remexer os papéis, ler cartas
antigas, mas a minha atração pelo que é velho é inata. A história é fundamental
na minha vida. A minha, a dos grandes heróis e a dos que não deixaram nada para
os livros que não uma parte mínima do movimento da massa, do curso de todos, da
idéia geral de uma época, da moda. Aqueles que me dão arrepio quando lembro: os
anônimos, os que restringiram sua imortalidade aos seus filhos. Não que isso me
pareça medíocre, infeliz, sem graça. Muitas vidas felizes podem ter sido
vividas dessa maneira. Longe dos holofotes, mas no âmago de um lar aconchegante
e de um cotidiano tranqüilo, ou mesmo num grande tumulto, num duelo constante
com a vida diária, consigo próprio, com seu universo particular, mas no fim de
tudo, uma vida feliz. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Marília, comecei
a escrever-te antes do Natal. Hoje já é dia dois de janeiro e só agora
recomeço. Até minhas cartas ficam facilmente incompletas. Qualquer estalo de
melancolia ou alegria mais efusivo do que o habitual me tiram do foco, do que
realmente queria contar. Por um milagre, hoje estava me sentindo tal como no
dia em que comecei a escrever esta carta. Milagre, sim, pois, para mim, é muito
rara a repetição contínua de sentimentos, de pensamentos, de idéias. Minha
filosofia toda muda velozmente da noite para o dia, da água para o vinho. Vivo
entre uma crise existencial dos diabos unida à hipocondria desestabilizadora e
um estado de alegria efusiva, de amor incondicional, amplo, infinito, pela vida
e por toda a humanidade. Após esses momentos otimistas de contentamento e
compaixão, de exaltação da contemplação da natureza, do bom e do belo e,
obviamente, do cumprimento desses ideais, segue-se uma tristeza profunda, um
vício melancólico, que é quando eu assumo a postura mais ranzinza e cética
possível. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Tenho uma
necessidade de ser justa, gentil e amável com todos os seres vivos. Essa idéia
dos seres vivos me surgiu recentemente, Deus foi embora de minha vida, uma
perda terrível, se você quer saber. Não posso afirmar ainda com certeza se Ele
partiu de vez, pois já falei de minha natureza volúvel, do meu pensamento
exageradamente fluido. Eu careço de pragmatismo. Prescindo de sentimentalismo e
de abstração. Meu Deus era barbudo, sim, velhinho. Não posso dizer
verdadeiramente que O amava, mesmo quando cria piamente em sua existência. Mas
tinha medo e ainda tenho. Deixei o colégio de freiras, as irmãs e seu
medievalismo, mas eles nunca me deixaram. Os conceitos rígidos de temor ao
Senhor, da certeza do seu castigo quando Ele dizia ser preciso ainda estão no
meu coração tanto quanto o temor da morte, do nada que talvez exista. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Marília, acho
que a vida após a morte, da forma que nos contaram, não existe. Mas talvez,
daqui a muitos e muitos anos, eu poderei ser uma flor, um passarinho, uma
criatura totalmente nova que venha a surgir na face da terra. Perguntarei a
algum biólogo quais as chances do pó do meu corpo poder dar origem à outra
vida, a pelo menos um simples organismo unicelular, mas que pulsa no emaranhado
lindo, brilhante, vivo deste mundo. O mundo é, sobretudo, vivo. Através de
todos os seres, de todo o movimento, de toda a luz. Isso é Deus para mim neste
momento. E sinto um medo tremendo de ser castigada por duvidar de sua
existência, como dizia irmã Paula, que Deus nos fez à sua imagem e semelhança,
que Deus é um ser que tem algo de humano. Que nós temos algo, muito, na realidade,
de Deus em nós, sem dúvida. Mas por que Deus, em alguns trechos da bíblia, tem
um caráter tão humano? Por que Deus me faz ter vontade de apagar tudo que
escrevi por temer o seu castigo, por que Deus não abre espaço para a dúvida? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Sei que a
religião é de fundamental importância para muita gente e que há o argumento de
que o ateísmo não serve para nada, que ele nada constrói, nos deixa a mercê do
vazio, do nada. Mas também a religião muitas vezes não já infligiu à humanidade
tanta dor, física e psicológica, não já submeteu tantos espíritos à
perturbação? Agora mesmo, a religião sob cuja égide tenho vivido, não torna
minha alma vacilante? Talvez o ateísmo não nos leve à paz, mas tampouco a
religião nos dá segurança de que podemos alcançar a plenitude. E não é isso
que, afinal, procuram todos os seres? Mais uma vez quero apagar o que escrevi,
pois o Deus onipresente, onisciente já sabe que duvido dele, me castigará? Não,
não duvido desse Deus, pois, sendo a vida tão cheia de desencontros e
dissabores, qualquer coisa poderia eu apontar como o castigo pela minha dúvida.
E ainda os que seguem com fé também passarão por momentos amargos. Qual será a
diferença? O Senhor estará com eles.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Digo-te,
Marília: detesto a descortesia, a indiferença, a falta de amor, o apego, a
falta de calor, de cordialidade, a maldade propriamente dita, a covardia,
também, pois li, recentemente, que a bondade não deve ser uma virtude passiva,
que não faz o mal somente. A bondade é ativa, é corajosa. Será a covardia uma
maneira alternativa de ser mau? Creio que sim. Bem como a indiferença. Não
tenho sido das mais corajosas, muito menos das mais ativistas que lutam pela
bondade e igualdade. Estou distante do que considero justo em função das duas
mãos que me foram concedidas para trabalhar na obra de Deus. O Deus no qual
creio é um amor mútuo entre os homens. Será o bastante, Marília, ou preciso ter
uma fé inabalável no Senhor velhinho, de barba, com Jesus ao seu lado, que
separa estritamente o bom do mau, que condena os infiéis à eternidade do
inferno? Será que não é suficiente alimentar a minha fé inabalável no amor, na
compaixão, num sentimento profundo de compreensão dos seres humanos, de todos
os seres, compaixão e compreensão pela natureza, pelo ritmo da vida, compaixão
em relação ao sofrimento e ao êxito do outro, pois já disse Oscar Wilde que a
forma mais pura de solidariedade é no momento da vitória. É quando alegramo-nos
verdadeiramente com o sucesso do próximo, e não somente quando nos prestamos a
estar com eles nos momentos de fracasso e dor. Pois muitas vezes (se achar esse
pensamento por demais egoísta e feio, perdoa-me e corrige-me) assistir à dor do
outro é contemplar nossa própria felicidade, nos regozijarmos com nosso
contentamento através de uma sórdida e cruel comparação, sentir gratidão por
não estarmos ali, na pele do que agoniza. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Será que Deus me
punirá por não ter conseguido enxergar nitidamente Sua onipresença, Seus
sinais, sua bondade explícita? Vejo pequenas coisas, sinais, nada comprovado,
nada ‘cientifico’. Talvez eu procure em vão. Talvez Deus seja mesmo mágico,
invisível, as vezes isso me parece absurdo, ainda que lindo, uma idéia sublime,
mas absurda diante das injustiças do mundo. Belo demais que haja uma outra vida
perfeita, cheia de luz. Não estou certa, Marília, meu espírito vê embaçado. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Vou rezar agora
à noite, sabe. Meditar, o que seja. Tentar entrar em contato com algo que não
seja apenas meu corpo. Eu era tão certa da existência do espírito não material.
Mas agora entendo que sou toda corporal, sou toda em cada ínfimo átomo meu, sou
toda nas minhas coxas, no meu colo, no meu suor, no meu temor, na minha
sinusite. E essa engrenagem corporal, essa certeza de que todas as potências
estão tão somente nessa minha carne impedem-me de conectar-me com qualquer Supremo,
qualquer energia, qualquer natureza. Sinto-me incapaz, quando penso que meu
desejo de espiritualidade não vai muito além das minhas sinapses. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Não estou com
aquela vontade louca de escrever, apesar de ter passado o dia lendo Clarice
Lispector. Achei uma pergunta bonita nela: ``Como será a primeira primavera
depois que eu morrer?``. Mas esta tarde tive um certo enjôo dela nesse livro ,
Um sopro de vida. Porque ela fala dela o tempo inteiro, de um jeito lindo,
claro. Mas eu gosto mais quando o escritor se mete no sentimento e na vida dos
outros, explorando suas dores e alegrias, explicando-as, detalhando-as ,
fazendo o leitor sentir-se o personagem. O romance e a leitura devem servir
como uma forma de compreensão do outro, de descrição das outras vidas.
Colocar-se no lugar do outro e ainda por cima descrever. Claro, é um<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mérito enorme falar de si com destreza, de
tal forma que o leitor sinta-se o autor e possa compreendê-lo. Mas ainda acho
que o desenvolvimento de um ser diferente de si implica num esforço e numa
sensibilidade muito maiores. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Por fim, quero dizer a
você, Marilia, que eu vejo beleza sempre,em qualquer lugar mas que, para mim, o
ano fica muito mais bonito a partir de setembro. E que agosto é mesmo o mês do
desgosto até que se prove o contrário.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Espero que esta
carta não esteja por demais tediosa. Você pode demorar pra ler o tanto que eu
demorei pra escrever. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quero que você
me conte sobre o seu estágio, sua vida, amores, etc. Você fala muito pouco de
você e eu sou uma espalhada nas cartas. É culpa minha, esse seu silêncio maior?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Imenso carinho,</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
M.</div>
<br />Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-46318833712700209612010-10-24T23:37:00.000-07:002010-10-25T08:05:58.134-07:00uma se perde na outra.<div style="text-align: justify;">
Minha querida madrugada de segunda-feira, você, faz de mim o escravo do nada, um subalterno dos barulhos, um espectador da solidão. Feliz de você que, provavelmente, ri de mim, com a maior das glórias. Não, Glória, não vá agora, leve primeiro, na segunda-feira, os frascos de mamãe que estão para se quebrar com este vento danado. Lá, pelo menos, a brisa é mais calma, mais calma e mais mansa como uma bela aurora. Mas Aurora! Já lhe pedi que não saísse mais à noite, por essas horas. Quão perigoso é essas ruas desertas e escuras, esses transeuntes da meia noite, esses ébrios de fim de festa, essa vida noturna conturbada da minha querida Vitória. Ah, Vitória, que bela visita. Obrigado pelos doces (não há de que, sr. Fulano). Mas conte-me: como vão os filhos? Tem passado bem com todas essas turbulências, esses arroubos da política? Só Deus para trazer socorro. Socorro! Venha lavar os pratos, a louça está suja, completamente, suja! Você parece que simplesmente esquece dos seus serviços. Mas, ora, o que vejo, pois não lhe pago para isso?! Quero ver tudo limpo, tudo cheiroso, como o perfume da rosa. Ah, Rosa, me deixaste a esperar todo esse tempo, sem nenhuma notícia, solicitação, convite ou parecer teu sobre nosso último encontro. Eventualmente, digo, logo mais, poderíamos tomar um café ou almoçarmos juntos. Estou com saudades da tua fala singela, da tua voz que me sara. Sara! Já pra cama! Seu namorado está muito atrevido, lhe deixando uma hora dessas em casa. Esse menino está ultrapassando os limites, indo de encontro aos nossos costumes. Já tomei uma decisão: quero este namoro acabado amanhã! E nada de pranto, nada de cinema, estou sendo clara? Clara, não se afobe não, ele voltará. A gente se perde tanto nesse caminhos da vida, né? Tudo é tão difícil, imagine um amor sem sofrimento. Não se revolte, logo mais tudo se acalma, tudo se amorna, tudo se contorna. Sorria, a vida é bela. E Bela foi ao jantar com a família ou ainda não se sabe o paradeiro dela? Mas que moça rebelde, não é? Os pais não merecem tamanha falta de respeito, não era preciso fugir como se nunca tivesse tido as regalias desde que nasceu. Coisa que, no fim das contas, não dá nenhum ibope, não tem a menor graça. Graça, minha querida, veja só: esta semana, esta no meu alfaiate e mandei fazer um vestido vermelho para fazer uma surpresa para o meu marido, no nosso aniversário de casamento. Acho que ficará perfeito o bordado, vai parecer coisa divina, abençoada, celeste! Celeste, a senhorita está contratada como a nova funcionária da casa. A partir de hoje, como gerente, terá de controlar todo o funcionamento da casa, desde a cozinha até o caixa, que é o mais importante, claro. Matenha sempre a calma, seja singela e atenciosa com os clientes, e preserve a educação. Educação, hum... Essa não existe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
L.</div>
<div style="text-align: justify;">
João Pessoa, 25 de Outubro de 2010</div>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-83695359155809765862010-09-15T21:35:00.001-07:002010-09-15T21:35:37.176-07:00Um homem, um votoNunca vi tanta gente dona dos votos alheios nesta Paraíba. Obviamente que isto não é fato novo, mas ainda me assusta a constatação de que muito antes de as campanhas ganharem as ruas e os candidatos caírem em campo, as votações já estão contabilizadas e decididas, o sufrágio já foi todo loteado e não há mais nada o que se fazer.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Muitos prefeitos apresentam seus colégios eleitorais como se fosse o povo maquinaria muito controlável, porque vendem o “seu” eleitorado com uma tal facilidade e o compram os candidatos com a mais sincera convicção de que realizam negócio jurídico de agente capaz, objeto lícito e forma não prescrita em lei. E a população fica à margem dessas negociatas, nas quais está envolvida como fator principal.<br />
<br />
A tabela é bem conhecida e aqui seguem alguns exemplos: prefeito de cidade de médio porte pode valer mais de meio milhão; município pequeno, entre 100 e 300 mil. Alguns vereadores também têm preço alto, dependendo do tamanho da localidade, o valor pode variar entre 15 e 100 mil, na capital. É mercadoria segura o voto alheio. É dispendioso. Depois, o candidato só precisa passar de carro acenando. Se já for bem conhecido, que mande apenas os retratos.<br />
<br />
E não são apenas os ocupantes de cargos políticos que participam deste imoral comércio. São líderes de bairro que se dizem donos de suas comunidades, chefes de lar que ao demandarem uma pequena ajuda pessoal afirmam com veemência: lá em casa são 15 votos, viu, doutor? E ai de quem duvidar que aí já foram incluídos dois vizinhos que mal sabem como estão sendo posicionados.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Assim sendo, é mister sejam abertas as porteiras dos currais eleitorais ou o único requisito para tornar-se político será ter dinheiro, muito dinheiro. Elegeremos, de agora em diante, compradores de gado guiados por seus vaqueiros de voto. E o voto nunca mais será livre.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
É preciso, antes de mais nada, definir o voto. O voto é a expressão máxima da cidadania. Entretanto, a cidadania tem contornos muito mais amplos do que o singular ato de votar. No Estado Democrático de Direito, todos são cidadãos, uma vez que somos sujeitos de direitos e obrigações – os que não votam não deixam de ser cidadãos por isso. Mas o que vota exerce plenamente sua cidadania, informa sua representatividade e materializa a democracia, assim. O cidadão votante é responsável, em certo grau, pelo não votante. Por seus filhos menores, pelos seus colegas incapazes, irmãos apenados, pais idosos e cansados.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
É bastante conveniente para políticos endinheirados e pobres de discurso escorar-se em seus vaqueiros de voto, evitando o debate, a discussão, o corpo a corpo, os questionamentos, o olho no olho, o enfrentamento, cara a cara, com a condição de miserabilidade de grande parcela de nossa gente.<br />
<br />
De tal modo, é bastante simples: vedemos o povo, tapemos seus ouvidos e molhemos suas mãos de dinheiro. O povo que ainda é indefeso, pouco educado, carente da fraseologia da democracia, de expressões como direitos fundamentais, república, lei, vontade geral, bem comum. O povo que desconhece bandeiras e ideais, a própria noção do voto livre. O povo apartado da fórmula “um homem, um voto”. <br />
<br />
O que ora ocorre é um homem, um saco de cimento; um homem, um medicamento; um homem, 100 reais. Calcula-se o preço do voto, o valor para adesivar o carro, para pôr o banner na casa. E quem culpará o povo por querer fazer seu extra no período eleitoral? O pequeno pé de meia que aparece de dois em dois anos? <br />
<br />
<br />
<br />
Todavia, culpemos os maus políticos, que são aqueles que insistem nessa prática cruel, que se omitem em orientar: votem em uma idéia, não em uma esmola; levantem uma bandeira, não se vendam, não se transformem em boiada. Bem vem a calhar a canção de Zé Ramalho: "porque gado a gente marca. Tange, ferra, engorda e marca". Mas com gente é diferente.<br />
<br />
<br />
<br />
O bom político tem o papel de efetivamente cobrar o voto livre, consciente. De afastar de sua própria mente o alívio que de visualizar o povo como boiada, fácil de conduzir para qualquer pasto, sejam secos ou verdejantes. Esta é a verdadeira homilia do bom agente político. O que não teme o encontro, o toque, a conversa. O que não enxerga eleitores, mas pessoas. <br />
<br />
<br />
<br />
O povo é a estrutura legitimante do sistema. Sendo corrompido, o aparelho inteiro perde sua autêntica justificação e torna-se efetivamente uma mentira, uma abstração exposta no texto legal. Na esteira dos direitos fundamentais de quarta geração, encontramos o direito à informação, já como desdobramento do direito à liberdade, inserido no contexto dos direitos humanos de primeira dimensão. A prática dos direitos humanos habilita o homem, como bem disse Friedrich Muller, e assim continua: Sem a prática dos direitos do homem e do cidadão, o povo permanece uma metáfora ideologicamente abstrata e de má qualidade. Por meio da prática dos human rights ele se torna, em função normativa, povo de um país, de uma democracia capaz de justificação – e torna-se ao mesmo tempo povo: enquanto instância de atribuição global de legitimidade, povo legitimante.<br />
<br />
M.<br />
<br />Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-34967154276099920142010-09-05T20:01:00.001-07:002010-09-05T20:01:33.534-07:00Quem dera fosse uma declaração de amor...<div style="border-bottom-width: 0px; border-color: initial; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-style: initial; border-top-width: 0px; color: #555555; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; padding-bottom: 20px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;">
Hello there, angel from my nightmare<br />
The shadow in the background of the morgue<br />
The unsuspecting victim of darkness in the valley<br />
We can live like Jack and Sally if we want<br />
Where you can always find me<br />
And we'll have halloween on Christmas<br />
And in the night we'll wish this never ends<br />
We'll wish this never ends</div>
<div style="border-bottom-width: 0px; border-color: initial; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-style: initial; border-top-width: 0px; color: #555555; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; padding-bottom: 20px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;">
I miss you, miss you<br />
I miss you, miss you</div>
<div style="border-bottom-width: 0px; border-color: initial; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-style: initial; border-top-width: 0px; color: #555555; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; padding-bottom: 20px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;">
Where are you and I'm so sorry<br />
I cannot sleep I cannot dream tonight<br />
I need somebody and always<br />
This sick strange darkness<br />
Comes creeping on so haunting every time<br />
And as I started I counted<br />
The webs from all the spiders<br />
Catching things and eating their insides<br />
Like indecision to call you<br />
And hear your voice of treason<br />
Will you come home and stop this pain tonight<br />
Stop this pain tonight</div>
<div style="border-bottom-width: 0px; border-color: initial; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-style: initial; border-top-width: 0px; color: #555555; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; padding-bottom: 20px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;">
Don't waste your time on me you're already<br />
The voice inside my head (I miss you, miss you)<br />
Don't waste your time on me you're already<br />
The voice inside my head (I miss you, miss you)</div>
<div style="border-bottom-width: 0px; border-color: initial; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-style: initial; border-top-width: 0px; color: #555555; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; padding-bottom: 20px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;">
Don't waste your time on me you're already<br />
The voice inside my head (I miss you, miss you)<br />
Don't waste your time on me you're already<br />
The voice inside my head (I miss you, miss you)</div>
<div style="border-bottom-width: 0px; border-color: initial; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-style: initial; border-top-width: 0px; color: #555555; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; padding-bottom: 20px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;">
Don't waste your time on me you're already<br />
The voice inside my head (I miss you, miss you)<br />
Don't waste your time on me you're already<br />
The voice inside my head (I miss you, miss you)</div>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-59692612967744729862010-05-29T19:54:00.001-07:002010-05-29T19:54:59.938-07:00o Bar Savoy é o nosso Caldinho.<span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana;"><br /></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana;">Na avenida Guararapes,<br />o Recife vai marchando.<br />O bairro de Santo Antonio,<br />tanto se foi transformando<br />que, agora, às cinco da tarde,<br />mais se assemelha a um festim,<br />nas mesas do Bar Savoy,<br />o refrão tem sido assim:<br />São trinta copos de chopp,<br />são trinta homens sentados,<br />trezentos desejos presos,<br />trinta mil sonhos frustrados.<br />Ah, mas se a gente pudesse<br />fazer o que tem vontade:<br />espiar o banho de uma,<br />a outra amar pela metade<br />e daquela que é mais linda<br />quebrar a rija vaidade.<br />Mas como a gente não pode<br />fazer o que tem vontade,<br />o jeito é mudar a vida<br />num diabólico festim.<br />Por isso no Bar Savoy,<br />o refrão é sempre assim:<br />São trinta copos de chopp,<br />são trinta homens sentados,<br />trezentos desejos presos,<br />trinta mil sonhos frustrados.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana;"><br /></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana;">Carlos Pena.</span>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-48181623560426531342010-05-23T11:18:00.000-07:002010-05-23T11:18:15.226-07:00meu pai falou que eu sou Augusto dos Anjos, meu ego foi pra cima e to postando.<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">A minha paz vem pelo vento. Ele me tira o
sufoco de um homem certas vezes derrubado pelas vociferações dos mais próximos
cada vez distantes de mim. Ele leva o pouco do fogo e o pouco do som que me
restaram durante esse processo de putrefação que meu coração sofre, ante minhas
lástimas caladas e meu silêncio recatado na rede. A cabeça tonta. Os olhos dos
quais não sai sequer uma lágrima. E a solidão numa tarde que certamente vai ser
sem fim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">O vento vai e volta como um remédio efêmero,
fugaz. Um revigorador e fonte de uma abstração que faz debater dentro de mim um
conflito sistemático entre o sim e o não, o fazer ou se omitir. É cruel e
mordaz todo esse processo de um aroma desgastado e uma voz que sai desgastada.
A melodia que se toca sem propósito, sem intento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Os letras são produtos da alucinação do vento e
dele serão o desgaste do dia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">L.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">João Pessoa, 19 de Maio de 2010.<o:p></o:p></span></div>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-46880444671490490242010-03-14T19:43:00.000-07:002010-03-14T19:43:10.377-07:00encontre a sua alegria.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj5wv4ur_bydHSTV7TuvEXIrOYnB7TSMRuSf8XOnPjB9m_Lo8D8arNGYEZOSOoNon1MurTO7USQrE04xPDJVOxNv2fRSR-tT3IL34dkUfENNmS87bI-3iv7c2w6zNwUh7qhye-O_duzgg/s1600-h/antes+de+partir.bmp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj5wv4ur_bydHSTV7TuvEXIrOYnB7TSMRuSf8XOnPjB9m_Lo8D8arNGYEZOSOoNon1MurTO7USQrE04xPDJVOxNv2fRSR-tT3IL34dkUfENNmS87bI-3iv7c2w6zNwUh7qhye-O_duzgg/s320/antes+de+partir.bmp" vt="true" /></a></div>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-42220699347144559262010-03-11T12:31:00.000-08:002010-03-14T18:42:11.669-07:00nem te amo mais, papel.<div style="text-align: justify;">
Eu costumava escrever em versos de provas, no meio de aulas monótonas, escrevia até em papel rasurada no meio da cozinha sem ninguém ver, morrendo de medo que algum traseunte residencial me visse naquele íntimo momento. Papel, eu. Eu, papel. Um romance um tanto diferente. Diferente lá! Papel me ama, senhores. Eu é que faço doce e às vezes digo "não!", digo "sai", digo "vai pro teu canto". Papel não fica triste, sabe que eu volto e com as maiores maluquices, as maiores audácias que um leitor pode escutar. Que papel pode receber. É o romantismo mais bonito que ela gosta.</div>
<div style="text-align: justify;">
Nessa relação, papel é muitas vezes, digo na maioria das vez, meu consolo, minha dor. Raramente, minha alegria. </div>
<div style="text-align: justify;">
Mas papel é algumas vezes muito pérfida, falsa, mentirosa! Diz que eu tenho inspiração, que eu sou o gênio da letra, que eu sou o senhor das palavras e tudo mais, todo esse papo conquistador do tipo: "risca a caneta", num orgulho autônomo cheio de si, que me destrói por inteiro. De pateta, coloco a caneta. Sai algo? Nada. No mais das vezes, um desenho, uma circunferência pintada, um homem com uma casa e uma árvore.</div>
<div style="text-align: justify;">
Papel só ri da minha cara, desdenha de mim, me escarnece como se eu fosse ninguém. Um inquilino, um enganador. Cousa que eu sei que eu não sou. Às vezes até prego a atenção de Francisca, de João, de Antônio, de Myriam, de Queoma, pra rimar, só não de Lampião. E papel diz que eu sou ruim, depois que me chama, (e pra virar cordel), pedindo um pouquinho de atenção.</div>
<div style="text-align: justify;">
Parou de cordel e vamos ao que interessa. Venho de público cortar minhas relações com papel. Descarada, bandida, vagabunda, ordinária. Não sou homem pra todo esse engodo, esse seu sofisma criado só pra não ficar longe de caneta. Vou-me embora desse espaço, quero alguém mais dinâmica e rápida e que não ouse me caluniar sobre minha inspiração, minha atividade mais lúdica. Decidi me afastar de papel para sempre, a não ser que um dia ela volte aos meus pés e se humilhe diante de mim, reconhecendo as humilhações que me fez e os constrangimentos que me causou, a mim e a meus leitores.</div>
<div style="text-align: justify;">
E para papel saber e ficar morrendo de raiva, roendo por mim, estou de namoro com computador. E pra rimar, que diz que eu sou sabido e conquistador, não um enrolador.</div>
<br />
L.<br />
João Pessoa, 11 de Março de 2010Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-29779145660502012702010-03-10T12:04:00.000-08:002010-03-10T12:04:34.027-08:00free as a bird.<object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/yHSFTRUekT0&hl=pt_BR&fs=1&">
</param>
<param name="allowFullScreen" value="true">
</param>
<param name="allowscriptaccess" value="always">
</param>
<embed src="http://www.youtube.com/v/yHSFTRUekT0&hl=pt_BR&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br />
<br />
free as a bird é John puro.<br />
<br />
L. <br />
João Pessoa, 10 de Março de 2010Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-19877189246378813812010-03-09T17:49:00.000-08:002010-03-09T17:49:53.075-08:00só falta uma melodia.tudo me leva a corrupção.<br />
eu já não consigo travar uma batalha.<br />
com essa multidão.<br />
Senhor, perdão.<br />
os psicólogos vêm e vão.<br />
e eu me perco no escuro.<br />
procurando mais solidão.<br />
não sou forte pra tanto.<br />
"um chá", digo não, discretamente.<br />
agora o café, e eu só penso nas casas.<br />
só penso no barro, na poeira e no pouco de fé.<br />
que resta a meu amigo do posto.<br />
ao outro que curte aquela valsinha.<br />
mas eu me despedaço em dois, em três.<br />
em mil.<br />
e faço o despacho.<br />
me acabo no frio do meu quarto.<br />
descanso sem ar, sem meu amor.<br />
sem nenhum tico de cor.<br />
vou me abraçar com a morte.<br />
e ser dela seu mais assíduo compositor.<br />
<br />
L.<br />
João Pessoa, 9 de Março de 2010<br />
<br />
PS.: cabe a Myriam a segunda parte. No aguardo.Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-44338119898599728912010-02-16T11:43:00.001-08:002010-02-16T11:43:42.775-08:00vou cuidar de você, meu amor.até o sol raiar.Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4673473518796065648.post-29086688435924193052010-02-08T09:23:00.000-08:002010-02-16T01:47:10.790-08:00<div style="text-align: justify;">
Eu a vi daqueles olhos gigantes que me carregavam, ao passo que a vista era linda, e ela parecia estar lá, embora a maioria só enxergasse os prédios mais altos e as colinas ao longe que pareciam nem existir, diga-se. Tipo: desenho animado.
Mas eu sentia que ela estava lá, bem no topo do firmamento. Ninguém dava pra ver, nem meu mais íntimo amigo, mas eu sentia sua presença como algo protetor e como mais um singelo admirador daquela divina imensidão.
Era mais alta que as colinas e que os prédios altos. Mais forte que os nossos sentidos. Mais linda do que a vista que fitávamos daqueles olhos. Certamente, está com Deus.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
L.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Londres, 8 de Fevereiro de 2010</div>Sem cláusulashttp://www.blogger.com/profile/06635584332956584325noreply@blogger.com1