terça-feira, 15 de setembro de 2009

titio.

Rafael é um menino que me chama de titio e eu, de besta que sou profissional com carteira assinada, corro atrás dele pra ele morrer de rir. De vez em quando, é uma bola que tomo dele e escondo atrás de mim, dentro da camisa, embaixo do carro, e ele continua só rindo da minha pueril brincadeira que para ele é mais que isso. É um desafio. Pra mim, uma lição, pedagogia matinal e um sorriso.
Depois, corro feito um louco voltando à luta talvez sem propóstitos e sem muitos arrimos, certamente. E sem sorrisos. O caminho é sempre longo até a universidade, as conversas as mais enfadonhas, contínuas e polêmicas. Daí, os desafios (tão pérfidos que sejam) se encetam com muito suor, vociferações ao telefone, vitupérios distribuídos no vácuo para sei lá quem; os deuses começam a sumir da amálgama da alma e sucumbem na imaginação e na filosofia de Tales. É só mecânica, porteiros que abrem e fecham, despachos nos mais recatados e requintados gabinetes, ofícios dos mais atribulados.
Pronto, cheguei. Rafael já dorme no sono mais profundo do universo, enquanto eu vou tentar rezar para pelo menos um Deus e depois dormir ansiando no outro dia mais um sorriso de Rafael que se alastra pelo prédio como um eco sem fim.
L.
João Pessoa, 15 de Setembro de 2009.