segunda-feira, 18 de agosto de 2008

"cada um de nós é um universo, pedro"

Pedro escutava o chorinho do violão e fitava o reflexo da lua sobre o mar, categoricamente lindo, ao passo que os seus pensamentos eram só melancolias e prantos intrínsecos, era como se ela começasse a se tornar um mito e o tempo dos dois se encerrava tão abruptamente que era quase incrível pensar e idealizar o semblante dela ou tentar, debalde, recordar algumas palavras que soavam da sua boca.
Bebia cerveja. Não era o seu costume, mas, naquela noite, particularmente, a escolheu como sua amiga dileta que iria compartilhar com ele suas dores, ao lado da voz do velhinho que tocava suas músicas prediletas, por isso os goles eram cada vez mais vagarosos, representando sua tentativa vã de eternizar aquele momento e ficar observando o luar por toda sua existência. A platéia era pequena. Além de Pedro, haviam mais três pessoas: um casal de namorados, que se reconciliavam de um litígio passageiro e um amigo do cantor, que resolveu comparecer, já que eram incessantes e diuturnos os convites do artista a toda sua turba de companheiros de boemia. O escasso público tornava o ambiente ainda mais triste, salvo o casal, o qual Pedro observava com uma pontinha de inveja, mas a lícita, que se representava como um desejo incisivo de também ter seu amor de volta, todavia ela estava longe dele e, certamente, não estaria pensando nele, nem lastimando a separação, deveras infortunada.
O velhinho, semelhante a Pedro, não tinha nenhum pretexto ou causa que o fizesse congratular-se. O sentido da vida perdia o prumo, e o vácuo pairava perante seus fardos, sua mente. Aguardava a morte, serenamente, sem pressa alguma, contudo privado de qualquer alvoroço em viver ou ainda um otimismo subjetivo que o fizesse galgar planos e receber triunfos advindos de sei lá o que. A tristeza o consumia, uma tristeza sem esperança, uma nostalgia sem perspectiva e sem vontade.
O sono calejava os olhos de Pedro. Motivos? A insônia e a cerveja. Os demônios que circundavam-no, além do amor. Ah, o amor de Pedro. Tudo virara quimera nos últimos dias, pois já era quase impossível lembrar-se do seu mais demorado encontro com ela. Tudo se escondia na sua cabeça, todas as características dela: o recato, o garbo, o charme... Tudo se encravava num túmulo, onde no epitáfio estava escrito um verso de Byron.
Pedro não era um pedreiro, nem muito menos chegava para esperar o trem, porém o seu sofrimento pela separação, pelo seu adeus mais íntimo era do tamanho de um universo inteiro. A sua consolação era a dor extrínseca do velhinho.

Lafayette Gadelha
João Pessoa, 18 de Agosto de 2008