terça-feira, 18 de novembro de 2008

Sermão do Bom Ladrão

O conceptismo do Padre mostra o talento e o garbo dele com a palavra e as idéias que são tão atuais que nem parecem escritos do século XVII.

"O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao Inferno; os que não só vão mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera, os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue S. Basílio Magno: Não são só ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes roubar a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam são enforcados, estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões e começou a bradar - Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos".
(Pe. Antônio Vieira)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O sistema é cada vez mais perverso e excludente. A luta é o consolo e, mutuamente, a esperança. Ela, que fica engasgada dentro de nós a cada dia, é dominada pelos donos do sistema, pelas armas do sistema, e os punhos fechados são discretíssimos, contudo ainda há força, ainda há uma nutrição desconhecida que ninguém sabe de onde vem que vez em quando nos incorpora e faz de nós um instrumento contra o tal sistema, contra os tais empreendedores do sistema. Os berros da liberdade viram murmurações perpétuas nas periferias do universo idealista, e os sorrisos, a arte, o sonho, o amor é tudo álcool.
Somos suprimidos, e os modismos nos guiam, e os valores padronizados nos levam... Tudo numa languidez disfarçada, que te ludibria, e você vai virando pó, até as mãos do comando te segurarem e te jogarem ao vento. Aí, você é mais um grão de pó igual a todos os outros. A luta cessa, os punhos se arrefecem, a vida é a rotina e só. Até arte não tem mais. Tudo se transforma em conformação, tudo se resume em sentar e trabalhar, porque nem Deus existe mais e há desconfiança nos céus e na terra.
Isso é o que eu chamo de uma embriaguez filosófica, um desabafo talvez, uma merda pra o sistema e sua trupe.


“Olha aí, olha aí...”

José Benevides
João Pessoa, hoje é 5?
abraços.