quinta-feira, 26 de novembro de 2009

doce Novembro.

Por mais que Myriam diga que ela mesma é como Dezembro, devo contestá-la, até porque Dezembro é uma época que mais contraria a personalidade agitada e inquieta de minha irmã. Na verdade, Myriam é mais parecida com o Novembro, uma nata escorpiana que vai aqui, vai ali, vai lá, acha, mas contesta e ainda sai procurando por onde der.
O Novembro é bem mais sua cara, porque é nele que nos organizamos feito trens sem locomotivas para quitarmos as dívidas de um ano todo e planejarmos o que fazer no ano que vem. Claro, com mais contas a serem pagas. Myriam tem a cara do Novembro, porque nele estão os últimos exames de sua universidade e aí é, quando ela mais se deleita, porque Myriam raramente quer uma rede ou uma sandália havaiana. Myriam quer debate, conversa, polêmica, escavar os livros na madrugada de uma sexta-feira à noite. Barzinho com as amigas e o namorado é a última opção.
Dezembro é o mês para ficar de pernas pro ar, esperando a chegada do Natal e depois do Ano Novo e disso Myriam não gosta; Myriam aprecia o tulmuto, carne pra ser comprada no açougue, copo quebrado dentro de casa, pra ter de comprar mais uns trinta pelo menos, história que dure cinquenta minutos e que nela tenha trezentas e oitentas polêmicas, sistematizadas uma a uma por ela.
Myriam detesta, quando Novembro acaba. Não haverá mais nenhum trabalho sobre Direito Penal, seu expediente reduzirá pela metade e seus professores de línguas estrangeiras, do curso sobre Bolsa de Valores e das aulas de meditação chinesa estarão em férias. E agora, Myriam? Ela vai endoidecer, meu Deus! Vai procurar o mar, mas vai ver que não era o mar que ela queria; na verdade, era o Centro Histórico. Mas não, não era o Centro, era o Litoral Sul.
Ela tenta diuturnamente alargar o tempo, para que dia o fique com vinte e oito horas e os meses com quarenta dias, no mínimo, o que não combina nada com Dezembro, onde há tempo de sobra para fazer lanchinhos com Lilice na padaria, comprar presentinhos e lembrancinhas para a família, até fazer uma viagem para sei lá onde. Mas Myriam não se contenta com isso, ela quer a labuta da vida dinâmica, quer a polêmica à noite, uma velocidade louca e vibrante. '
Todavia, entre toda essa potência de infinitos watts, existe uma Myriam que é Iaiá Linda de Papai, que sorri feito besta com brincadeira de neném e que dá gargalhadas na cozinha com qualquer pilheriazinha no intervalo dos estudos.
Por isso que, na verdade, Myriam é um doce Novembro.

 L.
 João Pessoa, 27 de Novembro de 2009

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