quinta-feira, 26 de novembro de 2009

carta de defunto.

Revendo os conceitos, acredito, pois, que, mediante as noções aqui postas, devemos provar as nossas visões e as escutas posteriormente outorgadas. Faremos a contrariedade das injunções e seremos colocados à revelia pela conformidade dos tenores que entoam suas vozes, tornando-se caducos dos patrões e os caudilhos dos senis. Romperemos com os padrões desses loucos e cansativos e ficaremos mais pródigos do que nunca, pois as conspirações não serão sistematizadas nem compactuadas ante a nossa omissão e a nossa desordem, os quais naturalmente causarão espanto, rancor e perseguição. As pedras serão atiradas debalde, já que sangraremos como se tomássemos banho; receberemos os mais sortidos vitupérios e as injúrias mais odiosas advindas dos rebanhos das mais longínquas plagas. Sofreremos com a perda do nosso quinhão retórico, e a nossas voz será cada vez mais intrínseca, reflexiva e pouco notória. Enfim, nos extinguiremos paulatinamente como defuntos abaixo do solo, comidos pelos vermes, pois fomos fitados como uma legião de impacientes e insipientes.
Você que está aí parada, vista a túnica e se lance à ignomínia para todos os séculos, sem aceitar o tormentoso sabor da inquietude e a doce ferida do nosso labor, senhora. Foge ao teu recanto mais privilegiado e furta-se de tua aura e de tua sina. Vives, em quanto morremos entalados, sufocados, engolidos. Porém, estudados.
Perdão, aqui jaz um bando que ora os deixa em paz, a fim de que vós reciteis vossos poemas e vossos saraus.

Defunto
João Pessoa, 26 de Novembro de 2009.

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